domingo, 20 de fevereiro de 2011

Há 35 anos, o futebol do RN perdia João Machado

Everaldo Lopes - Repórter e Pesquisador

Até o mais talentoso dos biógrafos com certeza encontraria dificuldade em fazer uma análise profunda sobre a figura humana do ex-presidente da FNF, João Cláudio de Vasconcelos Machado, ou simplesmente João Machado. Nascido a 11 de julho de 1914, João Machado faleceu aos 62 anos dia 20 de fevereiro de 1976, vítima de derrame cerebral. Machado – ou doutor João, como era comumente chamado pelos que lhe eram mais próximos. Extremamente simples, desprovido de qualquer interesse material, João Machado tinha tudo para herdar da sua tia mãe – Maria Amélia Machado – a viúva Machado, milhares de hectares de terra na Grande Natal.

Quando vivo, o comerciante Manoel Machado, marido de d. Amélia adquiriu terrenos em quantidade, a ponto de ter dificuldade até em administrá-los. A prova é que, herdeiro de tantas terras por ser filho adotivo da viúva Machado  (que não teve filhos)  João pouco ligou em vigiar essas terras. Perdeu-as quase todas, por usucapião, posse, etc. Sempre comentaram – e o falecido corretor Humberto Pignataro confirmava, o hoje bairro de Nova Descoberta era todo da viúva Machado, tia mãe de  João. Lentamente, o povo foi se apossando de um pedaço aqui, outro pedaço acolá. Hoje é um bairro., que abriga até um cemitério.

Filho adotivo de um comerciante português muito rico, com armazém de secos e molhados à rua Chile, na Ribeira,  Machado teve parte dos seus estudos feita na Inglaterra,que era o berço da cultura no começo do século 20. Machado estudou em Londres, mas vivia excursionando em Paris,  Amsterdã, Berna, Viena. Apesar de viajar  tanto pelo Velho Mundo, preferiu fazer o curso de Direito no Rio de Janeiro. Para justificar os estudos na Inglaterra, Machado recebeu diploma de “Chartered Accountant”, ou seja, Perito em contabilidade, com isso satisfazendo um velho desejo do seu pai adotivo, alto comerciante Manoel Machado.

Ao retornar da Europa, Machado fez os estudos superiores no Rio de Janeiro, ampliou a amizade com o ex-presidente da CBF e da Fifa,o brasileiro filho de belgas,  João Havelange (Jean Marie de Godefrois Havelange) e com o turco residente  no Rio, Abrahin Tebet, tinha trânsito livre na antiga CBD, as amizades lhe valeram bom emprego no Instituto do Café. Na volta a Natal, continuou no escritório do IBC, passando-se depois para o Fisco Estadual.

Aproximação de Machado ao futebol potiguar

Em 1954, dia 02/04 Machado era eleito e assumia a presidência da antiga FND. Sua amizade estreita com Havelange lhe valeu  várias reeleições, chegando a 20 anos como presidente da federação, mudando apenas o vice. Alguns deles foram José Rodrigues de Oliveira, Antônio   Castro, Leonardo Nogueira, Humberto Nesi, Capitão Veiga e  Nilson Gomes. João era relaxadíssimo, adepto da teoria do “lassez-faire”  (deixa estar pra ver como é que fica...), recebeu algumas críticas por isso. Sua vestimenta diária era sua marca registrada.

Em 1972, confiando na amizade com Havelange, autorizou o ABC FC a lançar três jogadores contra o Palmeiras, em jogo do Campeonato Brasileiro, apesar de estarem em situação irregular: Rildo e Nilson, punidos pelo STJD, e Marcílio não regularizado. A CBF puniu o ABC com dois anos de suspensão, abrindo vaga para o América disputar o Brasileirão de 1973 no seu lugar. Depois, a pena foi reduzida para um ano.

João Machado foi convidado e aceitou manter uma coluna diária na TRIBUNA e um programa ao meio dia na rádio Cabugi, denominada ”O Curruchiado de João Machado”, onde gozava todo mundo. Com uma linguagem chula, às vezes pornográfica, colocou apelido em muita gente. Uma das vítimas foi um português que trabalhava na firma Santos & Cia. Ltda, vizinha à TRIBUNA, O português era uma figura simpática, muito gordo, com dificuldade no andar, João apelidou-o de “Desmantelo”. Machado foi presidente de honra durante anos do Clube Atlético Potiguar – tanto que o clube ficou conhecido como “o Atlético do dr. João”. Integrou também o Conselho Regional dos Desportos, ao lado de amigos como Aluizio Menezes, Luiz G. M. Bezerra, Vicente Farache e Procópio Filho, era benemérito da antiga CBD. Toda sua infância foi vivida  no casarão da viúva Machado, ao lado da pequenina igreja do Rosário, centro da cidade.

Machado morreu aos 62 anos, vítima de um derrame quando estava no banheiro. Levado às pressas para o hospital, após o AVC aguardou por muito tempo a chegada de uma ambulância, que eram raras naquele tempo, os médicos tudo fizeram para reanimá-lo, mas sem sucesso. Faleceu às 23h do dia 20 de fevereiro de 1976,  tem túmulo no Cemitério do Alecrim. Deixou viúva d. Dinar, e vários filhos, sendo uma delas médica e outra, enfermeira. Dono de tantas terras em Natal, João Machado viveu nos últimos anos como funcionário do estado,  sua tia mãe Amélia, já bem velhinha. Segundo Woden Madruga, em uma bonita crônica na sua coluna “Jornal de WM” no dia seguinte à morte de João, o grande “Joca Macho” (como também era chamado pelos amigos)  morreu relativamente pobre.

(Fonte: Tribuna do Norte)

Nota do blog: A esposa de João Machado chamada Dinar Soares Filgueira Machado? Era natural do Açu-RN. Há uma estorinha irreverente que aconteceu ainda no início dos anos sessenta quando Machado que tinha um programa esportivo na Rádio Cabugi de Natal (que ia ao ar às 11 horas do dia), soltou a seguinte frase num dos seus programas diários, dizendo: "Eu tenho um olho escondido". O poeta Renato que não perdia as oportunidaes para versejar, escutando o que dissera Machado através daquela importante emissora, não perdeu a oportunidade, escrevendo a seguinte décima no melhor da sua irreverência:


João Machado distraído
Para ilustrar comentários
Disse entre assuntos vários:
"Eu tenho um olho escondido".
Foi bom não ter exibido
Machado sabe por que
Isso pertence a você
Tenha cuidado com ele
Que o bicho que gosta dele
É cego e também não ver.


Fernando Caldas

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