sábado, 12 de fevereiro de 2011

PUPÚCA

Arte de Wagner, artista plastico açuense

Meu patrão, sô sertanejo.
Eu nasci neste torrão!
Fui tarvez o mais andêjo
Dos cantadô do sertão...
Fui cachaceiro chapado
Fui cantadô macriado
No martelo e no rojão.

Conheço o Brasí, todinho: -
Agreste, mata e sertão.
Arrastei pelos caminho
Muita alegria e afrição!
Eu tive a felicidade:
De quage in toda cidade
Causá admiração.

Eu era desempenado,
No braço do violão.
Fazia um tarrabufado
Da prima para o bordão.
E naquele remeleixo,
A nega caía o queixo,
E eu, entrava de cão.

Tive umas mi namorada
De todo tipo e padrão.
Céga, muda e aleijada
Tudo entrava no arrastão
Toda muié me servia...
E a todas eu prometia
Um lugá no coração.

Namorei uma maluca
No Estado do Maranhão
Chamavam ela, Pupúca
A doida era um peixão.
- Por essa fui enbeiçado -
Se não fosse o Delegado
Tinha feito a arrumação.

...Porém, o tempo marchando
Sem dó, nem contempração
Foi pouco, a pouco matando
A minha reputação...
Hôje tô veio, cançado
Tristeza e rescordação.

Num tenho mais alegria,
Morreu minha inspiração!
Num faço mais poesia
Num tóco mais violão,
Só uma coisa me cutúca
É a sodade da maluca
Que deixei no Maranhão.

Por Renato Caldas, poeta matuto (um dos maires do Brasil) potiguar do Açu, falecido em 1991

Postado por Fernando Caldas 

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