sábado, 19 de março de 2011

ZÉ NEGUINHO

Laélio Ferreira

jjuu1
Meu caro Berto - Senhor da Besta Fubana, primo de São Benedito e Papa de todos nós.
A glosa abaixo - que tem a idade de umas quarenta safras de caju, e de costume, naquelas quadras, lavrada numa grossa folha de papel de embalagem de cigarro, num desses bares da vida-, foi calcada num mote do insuperável Celso da Silveira,  sacaneando um linotipista do “Diário de Natal”.
Zé Neguinho passava o dia inteiro compondo e, claro, lendo tudo o que lhe passavam os redatores. Em vez do leite – preconizado pelos regulamentos do Ministério do Trabalho para o insalubre ofício –, bebia cachaça, e muita, enrustida nas oficinas, não se sabia em que moita ou toca.
Findo o expediente – que ninguém é de ferro! -, melado, chispava-se para os bares à cata de patrocinadores de copos de cerveja. Dávamos-lhe corda. Aí, meu amigo, professoral e muito erudito, o gráfico danava-se a “receitar” sobre qualquer assunto: literatura, geografia e história eram o seu forte, as suas paixões.
Passados tantos anos, sinto saudades do velho linotipista e da sua pose olímpica e incontestável de “sábio”: impoluto, superior, distribuindo “cultura” de mesa em mesa, de balcão em balcão, de copo em copo…
Zé Neguinho, hoje em dia, se vivo fosse, meu caro Berto – tenho certeza! –, estaria deitando e rolando na Internet e nos blogues, campeão invicto de comments e pitacos, dando tenência, rumo e azimute a um mundão de gente… 

MOTE:

Filosofando, o Neguinho
Entende de Nada, Tudo.

GLOSA:

Cachola rara, – é um ninho
de toda a ciência exata.
De qualquer doutrina trata,
filosofando, o Neguinho:
A Vida, a Morte e o Vinho,
o Tempo, o Nada e o Tudo,
a Regra, a Rima e o Contudo,
a Reta e a Circunferência;
– é de mais essa potência:
entende de Nada, Tudo!

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