sábado, 30 de abril de 2011

60 famílias estão desabrigadas em Ipanguaçu
Valdir Julião - repórter/TN
O maior reservatório do Rio Grande do Norte, a Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Golçalves, começouu a sangrar. Apesar da beleza do espetáculo, a cheia preocupa cidades ajustante
O maior reservatório do Rio Grande do Norte, a Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Golçalves, começouu a sangrar. Apesar da beleza do espetáculo, a cheia preocupa cidades ajustante
Uma tragédia anunciada: mal começou o inverno deste ano, a população de Ipanguaçu, a 215 quilômetros de Natal, já está em polvorosa com a possibilidade das cheias do rio Pataxó. O município passou quatro inundações nos últimos sete anos: em 2004, 2008 e 2009. As chuvas que vêm na região do Vale do Açu já preocupam a população local, principalmente no município de Ipanguaçu, onde 60 famílias já estão desabrigadas e, atualmente, estão alojadas em três abrigos públicos, em casas de parentes, amigos ou cedidas.
Segundo informações da Secretaria de Ação Social do município, 13 comunidade já estão ilhadas: Pau de Jucá, Lagoa de Pedra, Itu, Picada, Porto, Cuó, Luzeiro, São Miguel, Barra, Salinas, Deus Nos Guie, Santa Quitéria e Passagem. Pelo menos 2.200 pessoas já estão afetadas pelas inundações das águas pluviais vinda do rio Pataxó.

Na zona urbana, três bairros já estão tomados pelas águas - Maria Romana, Ubarana e Manoel Bonifácio. Segundo o prefeito Leonardo Oliveira, a situação pode se tornar ainda pior, porque ontem à noite a lâmina de água na sangria do açude Pataxó, a 25 quilômetros da cidade, já tinha 45 centimetros de espessura. “Nós estamos em sinal de alerta”.

A prefeitura contratou duas retroescavadeiras para fazer a limpeza do leito do rio Pataxó, onde existem matas nativas, que contribuem para impedir o fluxo das águas. “A gente conseguiu uma autorização do Idema para entrar fazenda, que é uma empresa privada e a gente não podia entrar”, disse o prefeito.

População teima em não sair de casa

No bairro Ubarana, em Ipanguaçu, algumas famílias ainda insistem em permanecer no local. Ontem, o transporte de pessoas já era feito por canoa para aquelas pessoas que resistiam em ficar nas suas casas. A dona de casa Katiane Fonseca no bairro e disse que vai permanecer no local enquanto aguas não invadirem toda a rua: “Hoje de manhã, a água não tinha chegado no meu quintal, mas agora de noite sim”, disse ela, que está se preparando “para atrepar os móveis” caso aumente o nível das águas.

O agropecuarista Ivan Fonseca estava apreensivo quanto ao aumento do nível de sangria do açude Pataxó, ele disse que tem um amigo naquele distrito, que fica informando constantemente sobre o volume de água tomado pelo reservatório, pois teme que uma cheia agora dizime toda a plantação de banana (oito hectares) e de manga (cinco hectares), cultivadas no Sítio Sacramentinho.

Assessora técnica da Comissão de Defesa Civil, Gloria Bezerra de Medeiros, informou que uma equipe do Corpo de Bombeiros, de Mossoró, passou o dia acompanhando a situação de Ipanguaçu ao lado do prefeito Leonardo Oliveira. Segundo ela, eles “fizeram um  relatório para ser encaminhado à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil”.

Ipanguaçu é o primeiro do município do Rio Grande do Norte a decretar situação de emergência, caracterizada “pelas enxurradas ou inundações bruscas” previstas pela Defesa Civil Nacional. Desde o sábado, dia 14, que Ipanguaçu vem sofrendo com inundações das áreas ribeirinhas, quando o açude Pataxó despejou uma enxurrada com uma conta de 27 centímetros. O decreto tem validade de 90 dias.

Além do prejuízo social, com a perda de casas, bens e famílias desabrigadas, a economia do município é bastante afetadas pelas cheias dos rios Pataxó e Piranhas-Açu. Os pequenos agricultores fizeram um protesto na manhã quinta-feira, dia 28, com a interdição da RN-118 nas duas entradas e saida da cidade, que dão acesso à BR-304 pelo sul e Alto do Rodrigues, Pendências e Macau, pelo norte. Pelo menos 600 agricultores familiares e populares participaram da manifestação pacífica pedindo a atenção dos governos estadual e federal cobrando o projeto de dessassoreamento do rio Pataxó, que se encontra “engavetado” no Ministério da Integração Nacional, que foi pré-elaborado já no ano passado.

Barragem Armando Ribeiro Gonçalves começa a sangrar

O inverno traz cheias e preocupações para a população do Vale do Açu. Mas, passados 28 anos de sua inauguração, ocorrida em 1983, a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves ainda é uma atração para visitantes e turistas eventuais, que, ontem, apareceram para ver a primeira sangria deste ano do reservatório, o maior já construído pelo Departamento Nacional de Obras Contras Secas (Dnocs) na região Nordeste. “A gente soube pela rádio em Natal, como íamos para uma reunião da empresa em Mossoró, resolvemos passar aqui”, disse Clóvis Vitorino Júnior, que vinha de Ceará Mirim visitava a barragem pela primeira vez: “Lá só tem praia e mangue, não tem açude”.

Mesmo com o tempo chuvoso, alguns carros e motos iam e voltavam com pessoas que queriam ver a sangria no primeiro dique da barragem, cuja lâmina d’água estava a altura do pé de um homem. O pedreiro Antonio Campelo mora em Assu, e estava acompanhado do irmão. “Às 11 horas faltavam oito centímetros para sangrar e amanhã, com certeza, vai vir muita água”, dizia ele, animado com rapidez que as águas subiram: “Se não tivessem aberto uma comporta há uns dois meses, a barragem podia ter sangrado a mais tempo”.

O vendedor de milho Francisco Marivaldo Bezerra não perdeu tempo e, ontem à tarde, já estava fazendo negócio no primeiro sangradouro da barragem Armando Ribeiro Gonçalves: “Ando vendendo milho nas vaquejadas, mas vou ficar por aqui esse fim de semana”. O milho é vendido a R$ 1,50.

A barragem Armando Ribeiro Gonçalves tem capacidade para armazenar 2,4 bilhões de metros cúbicos. A sua construção foi iniciada em 1979 no governo Lavoisier Maia com a finalidade de conter as cheias no Vale do Açu e ainda irrigar cerca de 25 mil hectares e gerar 12 mil empregos diretos, coisa que já vem se arrastando durante esses longos anos.

Chuvas

Ipanguaçu é um dos 64 municípios do Rio Grande do Norte onde já choveu, este ano, acima de 500 milímetros, a média histórica da região do semiárido. Entre janeiro e abril, choveu  742,6 milímetros no município, segundo dados do Setor de Meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte, que tem um pluviômetro instalado na sua base física à margem da rodovia que dá acesso à cidade. Pela Análise de Precipitação Acumulada (quantis) da Emparn, o volume de água que caiu em Ipanguaçu um período “normal de inverno”.  No caso de chegar a 802 mm já fica caracterizado uma temporada de inverno “chuvoso”. Na hipótese do acumulado chegar a 1.003.2 milímetros, ai o inverno passa a ser “muito chuvoso”. as chuvas de ontem alcançaram um volume de 80 milímetro.

Final de semana será de chuva em todas as regiões do RN

O final de semana será marcado por chuvas em todas as regiões do Rio Grande do Norte. A afirmação é do gerente de meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), Gilmar Bristot, que confirmou que a previsão para os dias de hoje e amanhã é de céu nublado a parcialmente nublado, com grande possibilidade de ocorrência de chuvas em todo o território potiguar.

Segundo Bistrot, as áreas mais propícias às pancadas são as regiões do Alto Oeste, Vale do Apodi e Vale do Açu, que podem receber chuvas mais fortes. “No interior, a chuva costuma cair com maior freqüência durante o período da tarde e da noite. Já no litoral, as pancadas acontecem com mais assiduidade pela noite e pela manhã”, explica.

As chuvas deste fim de semana estão associadas à influência da zona de convergência intertropical, que é responsável pela instabilidade climática registrada na região do semi-árido nordestino entre o período de fevereiro e maio. “Todas as previsões apontam para que o período de chuva se estenda mais que o normal, chegando até meados de junho”.

O especialista explica ainda que as condições do clima podem contribuir para que ocorra mais sangramentos de reservatórios durante o fim de semana. “As chuvas mais marcantes deve ficar com volume entre 40 e 60 mm. Tal índice pode ser considerado suficiente para encher um açude que já está próximo da sua capacidade, portanto, é bom que os municípios estejam alerta e se protejam contra os riscos de inundação”, aconselhou.

O especialista explica ainda que as condições do clima podem contribuir para que ocorra mais sangramentos de reservatórios durante o fim de semana. “As chuvas mais marcantes deve ficar com volume entre 40 e 60 mm. Tal índice pode ser considerado suficiente para encher um açude que já está próximo da sua capacidade, portanto, é bom que os municípios estejam alerta e se protejam contra os riscos de inundação”, aconselhou.

Chove em todas as regiões nas últimas 48 horas

Após uma breve trégua, as chuvas voltaram à capital e ao interior do Rio Grande do Norte. De acordo com o boletim da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), as precipitações atingiram as quatro mesorregiões do Estado: Oeste Potiguar, Central Potiguar, Agreste Potiguar e Leste Potiguar. Entre as 7h de quinta-feira e as 7h de ontem (29), choveu em 54 municípios do RN.

As cidades que registram maiores índices foram as da Região Agreste. Em Jaçanã choveu 95,6 mm; em Monte Das Gameleiras, 91,0 mm e em Campo Redondo, 84,1 mm.

As regiões Central e Oeste também apresentaram níveis consideráveis de chuva. Na primeira, as cidades de Timbaúba Dos Batistas e São Fernando foram as mais atingidas, com 70 mm e 65 mm, respectivamente. No Oeste do estado, choveu mais nos municípios de Jucurutu (53,3 mm) e Serra Do Mel (51,5 mm).
Escrito por aluiziolacerda às 04h37

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