quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O DEFENSOR DE CORISCO





As histórias ligadas à vida forense se perdem na memória. Nos corredores do Palácio da Justiça, ou na sombra das árvores da Rua do Imperador, tem sempre alguém a relembrar velhos fatos ocorridos nas mais diversas comarcas deste Nordeste.
Na semana passada estavam a falar de cangaceiros quando o advogado Jorge Tasso lembrou uma das muitas histórias do seu pai, Demócrito de Souza, em suas andanças pelo interior de Pernambuco.

O mundo vivia os anos de 1920 quando a cidade sertaneja de Flores sediava a chamada Comarca do Sertão com jurisdição sobre grande parte da região do Sertão de Pernambuco. Por essa época Demócrito de Souza, advogado formado pela Faculdade de Direito do Recife em 1911, cruzava as estradas em busca de Flores e lá exercia as suas funções defendendo os acusados dos mais diferentes crimes.

Naquela época o terror do sertanejo se chamava Virgulino Ferreira da Silva (1897-1938)), o Lampião que se intitulava “Governador do Sertão e vivia a distribuir sua justiça” em terras de seis Estados da Federação.

Estava Demócrito de Souza em Flores quando, após um júri, foi convidado por um cidadão de voz pausada para “uma conversa com o chefe”. Saindo da cidade por alguns quilômetros foi o advogado encontrar-se com o próprio Lampião e seu bando que, na ocasião, pedia ao causídico para defender Corisco de um dos muitos crimes que lhe era imputado.

Aceito o pedido, estudados os autos, foi realizado o júri de Corisco, um dos homens de confiança de Virgulino Ferreira da Silva, que, por falta de provas, foi absolvido por unanimidade por um corpo de jurados um tanto amedrontado na presença de tão importante réu.

Pedido o preço por seus trabalhos, Demócrito de Souza informou ao enviado de Lampião que se reservara não apresentar honorários para a defesa de Corisco, pelo que o cangaceiro ficou bastante agradecido.
Anos após, voltando Demócrito a Flores, cruzando o Sertão do Pajeú, eis que o carro que o conduzia foi interceptado por um tronco de árvore sobre a estrada. Motorista tremendo, demais passageiros nervosos e o bonachão Demócrito acordando de um sono, a perguntar o que houve.
De repente um bando de cangaceiros, montado a cavalo, cerca o veículo com intuito de roubar. O advogado de longos cabelos levanta-se, ainda não refeito de uma soneca interrompida, e em altos brados pergunta o que era aquilo.

Foi o bastante para ser reconhecido pelos homens de Lampião que, o tratando por “Doutô Demócrito”. Apresentaram as desculpas, desimpediram a estrada para o automóvel continuar a fazer o seu caminho."



FONTE:http://www.luizberto.com/esquina-leonardo-dantas-silva/advogado-de-lampiao#comments
[Do blog: Mediocridade Plural, de Laélio Ferreira
Postado por Fernando Caldas

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