By Rostand Medeiros
Atualmente vemos o maior estádio de futebol de Natal e do Rio Grande do Norte sendo gradativamente demolido.
É o final de uma fantástica fase da história do futebol potiguar.
Localizado oficialmente na Avenida Prudente de Morais, 5121, no bairro de Lagoa Nova, o estádio começou a ser construído em 1967, quando a região era praticamente mato e dunas de areia.
O projeto foi realizado pelo arquiteto Moacyr Gomes da Costa, sendo considerado um dos mais belos estádios de futebol do Brasil no início de junho de 1972, época de sua inauguração.
Encantado com a beleza da praça de esportes, o então governador potiguar, José Cortez Pereira de Araújo o denominou de “um poema de concreto armado”.
Vivíamos então a época braba da Ditadura Militar, instalada pelo golpe de 1964. Para não perder o vício que nossos políticos tinham (e ainda têm) de bajular em demasia os poderosos do poder central, o novo estádio foi batizado com o nome do primeiro dos presidentes do período da Ditadura Militar, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Logo o povo passou a apelidar o estádio como “Castelão”.
O jogo inicial ocorreu em 4 de junho de 1972, em um rodada dupla. Na primeira partida o ABC F.C. venceu o América F.C. pelo marcador de 1 x 0, com um gol marcado pelo jogador Willian. Pelo feito este desportista recebeu vários prémios e deixou seu nome marcado na história do nosso futebol.
O outro jogo foi entre a equipe carioca do Clube de Regatas Vasco da Gama e a Seleção Brasileira Olímpica, que então se preparava para representar nosso país nas Olimpíadas de Munique, Alemanha, que ocorreria em agosto daquele ano. Esta partida encerrou com o placar de 0 x 0.
Apesar desta festa, segundo podemos ver nos ingressos aqui reproduzidos, a primeira partida dita “Oficial” ocorreu no dia 11 de junho de 1972 e foi um jogo entre seleções oficiais de países estrangeiros.
Para comemorar os 150 anos da independência do Brasil, os militares criaram a ufanística e quase esquecida “Taça Independência”, também denominada “Mini-Copa”. Natal foi uma das 12 sedes deste torneio, que reuniu 20 seleções estrangeiras.
A capital potiguar recebeu três jogos oficiais. No dia 11 de junho pelejaram Portugal e Equador, com vitória portuguesa por 3 x 0. Depois os chilenos bateram os equatorianos por 2 x 1, no dia 14 de junho. Finalmente, no dia 18 do mesmo mês, os equatorianos seriam derrotados pela Seleção da Irlanda, pelo marcador de 3 tentos a 2.
Interessante ver que os ingressos aqui reproduzidos trazem uma foto do mesmo “Castelão”, onde vemos uma imagem do jogo inicial entre o ABC e o América de Natal, realizado em 4 de junho.
Após o fim da Ditadura Militar, mais precisamente em 1989, o “Castelão” teve seu nome alterado para “Machadão”, em homenagem ao esportista João Cláudio de Vasconcelos Machado. Este era uma pessoa que muito lutou pelo nosso futebol, foi presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol, tinha um espirito bonachão, alegre e era sobrinho da famosa “Viúva Machado”, de quem anteriormente escrevemos um artigo no nosso “Tok de História” (Ver – http://tokdehistoria.wordpress.com/2011/02/18/o-rico-manuel-machado-e-a-sua-pobre-e-doente-viuva/).
Agora toda a história do “poema de concreto armado” está virando pó.
Mas nas minhas memórias nunca vão se apagar em relação aos belos momentos que ali vivi.
Apesar de gostar de futebol e daquele lugar ser uma praça de esportes, a maior emoção que ali presenciei está ligada a música.
Na década de 1980 aconteceu no velho “Castelão” um grande show que reuniu fantásticos nomes da nossa Música Popular Brasileira.
Era uma ação destinada a angariar recursos em favor de milhares de nordestinos que sofriam os rigores da seca.
As apresentações foram sensacionais. Mas o ponto alto foi o encontro entre o Mestre Luiz Gonzaga e o cearense Raimundo Fagner, de quem sempre fui um grande fã dos dois.
Lembro-me do estádio lotado, onde todos cantaram com muita emoção “Asa Branca”. Foi maravilhoso.
Naquele dia eu era apenas um extasiado e simples espectador. Mas o Mundo dá muitas voltas.
Depois de tantos anos tenho a satisfação de ter o mesmo Raimundo Fagner como um dos prefaciadores do meu livro “João Rufino – Um visionário de Fé”, em um momento muito especial.
Sobre a Copa Independência ver –http://en.wikipedia.org/wiki/Brazil_Independence_Cup ehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ta%C3%A7a_Independ%C3%AAncia
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