quinta-feira, 17 de maio de 2012

A ARTE DE RESOLVER CONFLITOS

Vale mais uma palavra a tempo, do que cem fora de hora (Miguel de Cervantes)
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.(Cora Coralina)
A sabedoria consiste na antecipação das consequências.(Norman Cousins)
A ilustração que apresentamos neste final de semana é por si só autoelucidativa (A arte de resolver conflitos).
Iniciar um conflito “não requer prática e nem habilidades”. Resolvê-lo, sim. O mediador não é um juiz, não é um árbitro, simplesmente. Essa pessoa necessita possuir um discernimento que o conduza a mediar a oposição de ideias ou sentimentos com sabedoria e suficiente calma e ponderação. Carece perceber o que os lados litigantes oferecem como escudo para sustentar suas razões.
Somos colocados em situações semelhantes quando menos esperamos e necessitamos estar aptos a agir com a prudência devida. A começar de nossos próprios lares, conflitos conjugais, turbulências entre pais e filhos, etc. e fora de nosso ambiente íntimo, quando nos defrontamos com agitações no meio profissional, ou escolar ou mesmo em atividades corriqueiras do dia a dia. Onde encontrar recursos que nos nutram de confiança e segurança para atuar com desenvoltura e, ao mesmo tempo, com convicção e firmeza?
Voltamo-nos, uma vez mais, para a inefável Palavra de Deus que nos orienta, nos ensina, nos guia e estabelece princípios que, se seguidos e obedecidos, produzirá frutos inimagináveis. Quem disso provou, há de concordar.
Sendo assim, nosso conselho é que procure incansavelmente buscar o contato com Deus, por meio do Senhor Jesus Cristo, sempre que a ocasião se apresentar. Todavia, como nem sempre a ocorrência dos fatos é revelada antecipadamente, melhor será que nosso relacionamento seja o mais constante que for possível. Jesus estará sempre ao seu lado em todas as ocasiões e circunstâncias e os resultados certamente muito alegrarão o seu íntimo.
Manifestamos nosso desejo para que o seu final de semana seja reconfortante e gratificante entre as pessoas que mais estima e ama.

Clênio Lins Caldas

A arte de resolver conflitos

O trem atravessava sacolejando os subúrbios de Tóquio numa modorrenta tarde de primavera. Um dos vagões estava quase vazio: apenas algumas mulheres e idosos e um jovem lutador de Aikidô. O jovem olhava, distraído, pela janela, a monotonia das casas sempre iguais e dos arbustos cobertos de poeira.
Chegando a uma estação as portas se abriram e, de repente, a quietude foi rompida por um homem que entrou cambaleando, gritando com violência palavras sem nexo. Era um homem forte, com roupas de operário. Estava bêbado e imundo.Aos berros, empurrou uma mulher que carregava um bebê ao colo e ela caiu sobre uma poltrona vazia. Felizmente nada aconteceu ao bebê. O operário furioso agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la. Dava para ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava. O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo e o jovem se levantou.
O lutador estava em excelente forma física. Treinava oito horas todos os dias, há quase três anos. Gostava de lutar e se considerava bom de briga. O problema é que suas habilidades marciais nunca haviam sido testadas em um combate de verdade. Os alunos são proibidos de lutar, pois sabem que Aikidô “é a arte da reconciliação”. Aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o universo. Por isso o jovem sempre evitava envolver-se em brigas, mas no fundo do coração, porém, desejava uma oportunidade legítima em que pudesse salvar os inocentes, destruindo os culpados.
Chegou o dia! Pensou consigo mesmo. Há pessoas correndo perigo e se eu não fizer alguma coisa é bem possível que elas acabem se ferindo. O jovem se levantou e o bêbado percebeu a chance de canalizar sua ira.
- Ah! Rugiu ele. Um valentão! Você está precisando de uma lição de boas maneiras!
O jovem lançou-lhe um olhar de desprezo. Pretendia acabar com a sua raça, mas precisava esperar que ele o agredisse primeiro, por isso o provocou de forma insolente.
- Agora chega! Gritou o bêbado. Você vai levar uma lição. E se preparou para atacar.
Mas, antes que ele pudesse se mexer, alguém deu um grito: Hei!
O jovem e o bêbado olharam para um velhinho japonês que estava sentado em um dos bancos. Aquele minúsculo senhor vestia um quimono impecável e devia ter mais de setenta anos... Não deu a menor atenção ao jovem, mas sorriu com alegria para o operário, como se tivesse um importante segredo para lhe contar.
- Venha aqui, disse o velhinho, num tom coloquial e amistoso. Venha conversar comigo insistiu, chamando-o com um aceno de mão.
O homenzarrão obedeceu, mas perguntou com aspereza:
- Por que tenho que conversar com você?
O velhinho continuou sorrindo.
O que você andou bebendo? Perguntou, com olhar interessado.
Saquê, rosnou de volta o operário. E não é da sua conta!
Com muita ternura, o velhinho começou a falar da sua vida, do afeto que sentia pela esposa, das noites que sentavam num velho banco de madeira, no jardim, um ao lado do outro.
- Ficamos olhando o pôr do Sol e vendo como vai indo o nosso caquizeiro,comentou o velho mestre.
Pouco a pouco o operário foi relaxando e disse:
- É, é bom. Eu também gosto de caqui...
São deliciosos, concordou o velho, sorrindo. E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa.
- Não, falou o operário. Minha esposa morreu.
Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar.
Eu não tenho esposa, não tenho casa, não tenho emprego. Eu só tenho vergonha de mim mesmo.
Lágrimas escorriam pelo seu rosto. E o jovem estava lá, com toda sua inocência juvenil, com toda a sua vontade de tornar o mundo melhor para se viver, sentindo-se, de repente, o pior dos homens.
O trem chegou à estação e o jovem desceu. Voltou-se para dar uma última olhada. O operário escarrapachara-se no banco e deitara a cabeça no colo do velhinho, que afagava com ternura seus cabelos emaranhados e sebosos.
Enquanto o trem se afastava, o jovem ficou meditando... O que pretendia resolver pela força foi alcançado com algumas palavras meigas. E aprendeu, através de uma lição viva, a arte de resolver conflitos.

Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens. (Romanos 12:18)
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. (Filipenses 4:7)


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