domingo, 19 de agosto de 2012

RISO GRANDE DO NORTE

DAVID CUNHA - O ESPANTA
Uma trajetória marcada por muito sucesso


‘‘Espanta’’ foi o codinome que o humorista David Cunha Alves pediu a Deus para fazer sucesso. O nome artístico, fora de qualquer convencionalismo, funcionou como um imã ou mecanismo de marketing que elevou seu talento para o Brasil. É notório o celeiro de humoristas produzidos no Nordeste. Mas em Natal os nomes que conseguem  sucesso são  poucos. E David Cunha foi o maior deles. Morreu como o maior humorista do Rio Grande do Norte.

BOM HUMOR NAS TERRAS DE POTI

Apesar de tímida, cena humorística no Rio Grande do Norte 
tem conquistado espaços, público e adeptos por esse Brasil afora

Por
Sérgio Vilar

O porquê de o Ceará exportar tantos humoristas permanece um mistério tão insondável quanto a vida em Plutão. No Rio Grande do Norte, a cadeia produtiva do humor tem crescido em ritmo lento. Está muito aquém dos vizinhos mais engraçados. Ainda são poucas as oportunidades por aqui. Menos ainda os humoristas qualificados para abraçar os espaços cedidos nos poucos bares abertos ao gênero. É um cenário ainda amador, mas o melhor e mais promissor, na visão dos principais humoristas da cidade.

Durante a Bienal do Livro do Ceará, em 2008, a reportagem perguntou ao mestre do humor, Chico Anysio, qual seria o motivo de tanto humorista no Ceará. Ele respondeu: "O Ceará tem muitos problemas. Não existe bons humoristas suecos, holandeses, suiços. Nenhum humorista conserta nada, mas denuncia tudo". O repórter insistiu e questionou a falta de humoristas em outros estados nordestinos sofridos: "Natal não tem as caatingas, o sertão duro que o Ceará tem. É com certeza o Estado mais sofrido do Brasil".


Humorista  Mafaldo Pinto

 FESTIVAL DE HUMOR POTIGUAR

Fato é que o Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará ou qualquer estado nordestino sofre com a seca e pobreza. Na visão do humorista potiguar Mafaldo Pinto, para a cena do humor natalense se igualar à de Fortaleza é preciso iniciativa. "Temos muita gente. Mas falta segurança à maioria porque também falta coragem para montar um show completo e se apresentar, dar a cara a bofete nos bares, teatros. Banquei minha primeira apresentação.

Mafaldo é hoje um dos humoristas mais prestigiados do Estado. Fará em outubro o 1º Festival de Humor Potiguar SolRiso, no TAM. Inscrições aos humoristas amadores ou profissionais já estão abertas (8824-7208 ou 9902-1804). "Já sei de antemão que pouca gente vai se inscrever. E mesmo sendo apenas seis os selecionados para se apresentarem, se não houver qualidade, reduzo o número", disse o humorista, que fará parte da banca julgadora com mais dois integrantes.

A intenção do Festival é descobrir, dar oportunidade e valorizar os humoristas potiguares. Muitos vendem CDs repletos de piadas gravadas nos bares da Zona Sul. Abordam clientes, contam piadas e tentam comercializar o produto. "Esse Festival servirá para o público ver quem tem segurança em cima do palco. Uma coisa é contar piada em bar. Outra é se manter dez, vinte minutos no palco. O público paga e é exigente. Ninguém ri forçado. E poucos humoristas seguram a onda quando o público não ri".

  Humorista Gibran Torres adota a linha da imitação

O IMITADOR DE NATAL

O radialista e jornalista de formação Gibran Torres adota a linha da imitação. Começou a carreira em 2006 no grupo Humor Bagaço, junto com Mafaldo, François Carízio, Flavio Café, Junior Cloner e Tázio Nery. Desses, apenas Mafaldo, ele e François continuaram. Participou esse ano do concurso "Os maiores imitadores do Brasil", no programa de Ana Hickman, na Record. Das cinco etapas, ficou na segunda. Segundo Mafaldo, Gibran é um talento que ainda precisa montar um show completo e se apresentar.

É o que ele está fazendo. "Tenho me apresentado pouco em bares porque estou montando meu show agendado para novembro, no Teatro de Cultura Popular". O pouco tempo é porque Gibran leva o humor como hobby. São poucos os que vivem apenas da profissão de humorista. Em Natal, entre os humoristas mais experientes se destacam além, de Mafaldo e Gibran, os cearenses radicados em Natal Butuca e Bisteca, Karlberg, Geraldo Maia, e Seu Dedé, o mais antigo e talvez o único a se alimentar apenas do humor.

 João Ricardo e seu personagem: Seu Dedé

DUAS DÉCADAS DE PROFISSÃO

O personagem Seu Dedé talvez seja hoje o mais conhecido dos natalenses. É também o ganha-pão de João Ricardo Costa da Silva, 41, o mais antigo humorista em atividade. João começou na época de Davi Cunha, o Espanta. É dos poucos no Estado que vivem só da profissão. Foi o primeiro a sugerir e participar de um projeto de humor em Natal: a Quinta do Humor, na antiga Pizzaria Orla Grill, na Praia do Meio. Hoje é um dos humoristas do principal espaço de humor da cidade: o restaurante e pizzaria Páprika, em Ponta Negra.

João lembra que há 20 anos a situação era bem pior. Pouca gente acreditava no produto Humor para atrair clientes. "Hoje qualquer programa de TV tem um quadro de humor. E os comerciantes sabem que essa realidade deu certo em Fortaleza e pode ser uma boa sacada também pra cá". Mas infelizmente, as tentativas têm dado erradas. Afora o Páprika, que mantém convênio com hotéis e sempre lota as quartas-feiras do humor, outros bares desistem mesmo quando atraem um público razoável.

"Participei do projeto noBar Original (na Prudente de Morais). Mas o dono achou que precisava lotar sempre e desistiu. Em Parnamirim, o bar Cai Pedaço também abriu espaço, mas também não seguraram. E tem sido assim". Mas Seu Dedé também atende convite de empresas. É de onde retém a maior parte do orçamento para alimentar a prole de seis filhos. "O pessoal pergunta se eu não tinha TV em casa. Claro que tenho, mas o intervalo do programa dura uns três minutos, né?", brinca.
  
 Raimundo, o criador do Cafuçú, é defensor ferrenho da cultura nordestina 

CORONÉ CAFUÇÚ

O Nordeste se destaca por um tipo de humor peculiar à região, ligado à poesia popular, ao cordel, ao repente e cantorias; à cultura sertaneja. O nome mais expressivo é o paraibano Jessier Quirino. Nairon Barreto, o Zé Lezin, também é encarna a figura do matuto. No Rio Grande do Norte, o assuense Paulo Varela também apresenta versos metrificados. Mas é em Currais Novos de onde se conhece a autoridade no assunto. "Ótoridade" de patente militar e tudo: o Coroné Cafuçu.

Paletó, óculos escuro tomando metade do rosto, chapéu, barba pintada e calça vermelha (ele diz que a cor vermelha só serve para vestir mulher e doido). É a indumentária do "coroné" Raimundo Ferreira Campos. Se tem patente verídica, é a de sertanejo criado na roça com uma enxada na mão e uma ideia na cabeça: ser poeta. E da poesia matuta reconhecida entre músicos renomados como Joca Costa e o maestro Bembem, Raimundo incutiu o humor repleto de causos de um sertão que lhe é conhecido e vivido.

"O humor é o que carrega meu trabalho. É o que vende mais. Quando abro a boca e recito meus versos, quem tá perto se bola de rir. E sem dizer palavrão ou frase de duplo sentido, porque é uma ferramenta perigosa: pode onstranger a família que vai lhe assistir". Raimundo se acha humorista por vocação porque o sertanejo tem no humor o seu alimento. "Três coisas salvam o sertanejo e o mantém vivo: cuzcuz, rapadura e humor. É o alimento que lhe tira o sofrimento diário; as vitaminas do Sertão".

Raimundo toca no improviso um programa de Rádio de grande audiência em Currais Novos. O personagem Coroné Cafuçu ele leva aos interiores e capitais nordestinas, junto com o último CD Humor, Forró e Poesia. Essa semana se apresentou em Cajazeiras, na Paraiba, e nos municípios Riacho da Cruz e Luís Gomes, terra onde nasceu. "Às vezes penso que o Coroné sou eu mesmo. Sou um sertanejo natural, matuto, e por isso, humorista nato, de carne e alma".

...fonte...
Sérgio Vilar
www.diariodenatal.com.br


...crédito fotografia Mafaldo Pinto...
Ana Silva

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