POESIA
A FEIRA
Do poeta Francisco Agripino de
Alcaniz, o popular Chico Traíra
– grande violeiro,
assuense de coração, nascido no sítio Pau de Jucá – Ipanguaçu/RN. Em
Assu existe uma rua, no Bairro Frutilândia, que tem Chico Traíra como
patrono.
Feira de Louças de barro - anos 70, no Assu |
Feira Livre no Assu - foto Jean Lopes |
Feira Livre no Assu - foto Jean Lopes |
É sábado, amanhece
o dia
Chegam
primeiro os feirantes
Loroteiros,
arrogantes
Arrumam as
mercadorias.
Mais tarde vem
os feireiros
Sempre em
grupos separados
Ainda
desconfiados
Com as sacolas
vazias.
Grita logo um
barraqueiro:
“- Olha aqui
feijão novinho
Tem enxofre e
mulatinho
Tem o preto e
o macaça
Esse
amarelinho é bom
O pintado é um
azeite
Se quer levar
aproveite
Que hoje é
quase de graça”.
Muitos trazem
pra vender
Couro de bode,
algodão,
Batata, milho
verde e feijão,
Porco,
carneiro e peru,
Depois que
terminam as vendas
Se reúnem, vão
beber,
As mulheres
vão comer
Pé-de-moleque
e angu.
Entra um
rebanho no bar,
Lá já tem
outra patota,
Ali começa a
lorota
Pois o prazer
é profundo.
Tomam a
primeira dosagem
Logo após,
outra bicada,
Com a terceira
rodada,
Haja mentira
no mundo.
Diz um, nunca
me faltou
Dinheiro pra
brincar
Quando eu
quero vadiar
Boto a sela no
jumento.
Responde
outro, melado
Eu juro no
evangelho
Que no meu
cavalo velho
Derrubo até
pensamento.
Grita um mais
exaltado
Comigo não tem
ladeira
Eu topo toda
zonzeira
Toda
brincadeira é festa.
Grita outro,
eu também sou
Osso duro de
roer
Quem quiser
venha saber
Um velho pra
quanto presta.
A coisa está
esquentando
Vai acabar o
zum-zum
Chega a mulher
de um
Do outro chega
a esposa
Com pouco o
filho do outro
Chega pra dar
o recado
“- Mamãe está
no mercado
Vamos comprar
qualquer coisa".
O vendedor de
galinha
Fala alto,
“aqui freguês
Essa galinha
pedrês
É pesada de
gordura,
Esse pescoço
pelado
É boa pra
criar,
Eu garanto ela
botar
Cem ovos numa
postura.
Um galo velho
surú
Pra cantar não
tem mais som
O vendedor diz
“É bom!
Pode levar que
é novinho.
Esse galo, meu
amigo,
Ainda tem
outra coisa
Tem dado surra
em raposa
Que ela perde
o caminho.
“- Olha a ovelhinha
gorda!”
Gritam lá na
criação
Grita o do
porco “O leitão
É novinho,
cavalheiro”!
O velho que
está melado
Não presta
muita atenção,
No porco
compra barrão;
No bode, pai
de chiqueiro.
Na carne de
gado mostram
Uma manta do
pescoço
“- Aqui é carne
sem osso,
Compra boa,
quem conhece!”
A carne velha
encardida
Como que foi
de murrinha
Na panela não
cozinha
Na brasa não
amolece.
Aquele que se
entreteu
Na birita o
dia inteiro
Acabou todo o
dinheiro
Passou o tempo
e não viu
Ficou sem
nenhum tostão
No bolso da
velha calça
O que sobrou
da cachaça
O pife-pafe
engoliu.
Arranja uma
confusão
Quase ao
morrer do dia
Vai para a
delegacia
Para um
repouso forçado
Coitado, caiu à
crista.
De manhã faz a
faxina
Inda vai dar
entrevista
Com o doutor
delegado.
Chico Traíra |
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