sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A BODEGA DE SEU JAIME

Bem do lado sudoeste do Mercado Público Municipal ficava a tão cantada e decantada bodega. Lembro-me bem da fisionomia do seu proprietário. Era um homem calmo, compreensivo e que sabia conduzir aquela taberna tão do povo.

A mercearia tinha pouca iluminação, um cheiro forte de fumo e muito frequentada tantas vezes por dia. Lá poderíamos encontrar pavios, lamparinas, urupemas, esteiras, vassouras, querosene e cereais.

Entretanto o que fazia a diferença era a variedade de cachaça que o mesmo comercializava. Façamos uma viagem no tempo para lembrarmos dos nomes de algumas delas: Dois tombos, Canta Galo, Chora na Rampa, Língua de Sogra, Olho D'água, Guaru, Pitu, Primeira Cabeçada, essa última preparada por Chico do Enchimento e Chico Paulo, que quando colocava a danada no copo, fazia logo um rosário. Ainda tinha Vinho de Jurubeba, Cinzano, Quinado, São João da Barra e Zinebra (Ginebra de Gato).

Se a bodega era famosa, famosos também eram seus fregueses. Dentre muitos, lembraremos os mais assíduos: Diomedes, Tio Eugênio, Tio João Costa, Chico Xerém, João Costa, a Velha Bola, Nelson e Maria Chica, Manoel Toucinho, Joaquim Rato e Eliza, João Quixá (pai), Capão e seus meninos, Cirilo, Fernando e Júlio, a Velha do Preso, João Rajado, os Miguéis, Fiel, Chico Gasolina, Seu Vicente, Segundo, José Veríssimo, Chico Português, Gregório, Manoel e Pedro Marcelino, João Rosa, José Targino, Cleto, Israel, Chico Duvidoso, Francisquinho, Chico Dantas, Joaquim Braz, Pedro Guarda, Relâmpago, Manoel Mulato, José Tenente, Chico Macaco, O Mudo, José Padre, Pernambuco, Floro, Guachelo, Chico Raposa e muitos outros que me falha a memória.

O mais interessante era a maneira de pedir uma de cana:

-Seu Jaime, bote uma da que matou o guarda!

-Bota uma da que matou tio João Costa!

-Seu Jaime, bote uma de come figo!

-Bote uma de quando não mata aleja!

O nosso grande poeta e saudoso amigo, Hermógenes Tenente, fez umas glosa com a famosa bodega:

'A cachaça de seu Jaime

É ruim de dar pipoco,

Matou a Velha Bola

Deixou Segundo louco,

Floro bem intoxicado

Chico Português bem rouco.



A cachaça era pagã,

Seu Jaime batizou.

Fiel foi o padrinho,

Segundo apresentou.

Chico português anda

Bem prejudicado,

Foi a gripe que apanhou

No dia do batizado.'

E assim durante muitas décadas aquele pequeno mundo foi o ponto de convergências de muitos amigos, que passavam momentos felizes e angustiosos, mas sem nunca ter deixado de ser um ambiente ordeiro e de muita paz.

João Bosco da Silva, professor
Do Mural-facebook do jornalista da UFRN Marcos Calaça

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