(Texto transcrito do livro Apesar de Tudo, 1987, de José Luiz Silva).
Há duas categorias de pessoas, que sobretudo no Rio Grande do Norte, merecem um debruçamento maior, uma atenção mais atenta, um enfoque mais aproximado: o inteligente e o sabido.
O inteligente é como grão. Se não morrer, será infecundado. A fecundidade do sabido é feita de cotidianidade dos seus sonhos.
O inteligente é aritimético. Consegue sobreviver. O sabido é geométrico. Quase sempre vive sobre.
O inteligente é polivalente na ordem do conhecimento. O Sabido, na ordem do aproveitamento.
O inteligente é grosseiro às vezes, mais humano, profundamente humano. O sabido se irrita mas é sempre fino. Fino e aderente. Sobretudo ao poder. E quando eu falo em Poder, não me refiro pura e simplesmente ao sistema. Me refiro ao poder podendo. Feito de números. Sobretudo de números.
O inteligente pode ser desligado. O sabido nunca.
O inteligente gosta de se encontrar com velhos amigos. O sabido prefere localizar novos. Se vão lhe render dividendos.
P inteligente é simples. O sabido é complexo. Chegar a ele, às vezes não é fácil.
O mundo é dos sabidos. A vida, dos inteligentes é complexo. Chegar a ele, às vezes não é fácil.
O mundo é dos sabidos. À vida, dos inteligentes. Na sua intensidade.
A ambição do inteligente é limitada. Porque limitada, nem consegue ser ambição.
O sabido é sobretudo ambicioso, explicação maior do seu sucesso.
O inteligente poderá ser sábio. O sabido, nunca.
A fé do inteligente é escatológica. Do sabido, circunstancial.
O inteligente não consegue ser audaz. A ousadia porém, é o oxigênio do sabido.
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