terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A minha cidade


*Por Francisco Amorim

Quando comecei a ter o uso da razão, isto é, a ser capaz de dar recado, levar bilhete, fazer mandados, a minha cidade, a nossa cidade tinha escassos limites que iam do bairro Macapá - com uma rua só de casas quase que todas elas da taipa cobertas com palha de carnaúba - até à rua São Paulo, com vários espaços vazios entre esses extremos de Norte e Sul.

As ruas chamadas principais eram localizadas na praça da Matriz - era o quadro da Rua, onde ficavam a Rua Casa Grande (norte), do Mercado (sul), São João (nascente) e coronel Souto (poente).

Era aí que moravam as pessoas importantes e famílias endinheiradas. Moravam o Juiz de Direito, o Promotor, o Vigário, o Médico e o Farmacêutico, o patriarca da família Casa Grande - jornalista Antônio Soares de Macedo - e o da família Piató - Zumba Marreiro.

Existiam, como ainda hoje existe, o sobrado da Baronesa de Serra Branca e o velho José Gomes de Amorim, este construído em 1845. A praça da Matriz vem de longa data. Já Koster, historiador inglês, que pór aqui passou no dia 1. de dezembro de 1810 fez referência a ela, destacando a Matriz e o historiador Manoel Ferreira Nobre, em seu livro "Breve Noticias Sobre a Província do Rio Grande do Norte", impresso na Tipografia Espíritosantense, em Sergipe, no ano de 1877, destacava a casa residencia do dr. Luiz Carlos Lins Wanderley, localizada nesta mesma praça. Os sobrados de Minervino e o de Medeiros (Antônio Dantas Correia de Medeiros), despareceram pára darem lugar a outras edificações residenciais.

A antiga Cadeia Pública, a Intendência e a inacabada igreja do Rosário, também desapareceram. Estão hoje em seus lugares a Prefeitura e a Praça do Rosário, cuja imagem de N. Senhora é doação do dr. Pedro Amorim, médico e político da terra.
No "Quadro da Rua" ficava o comércio - a Casa Dantas - Nova Aurora do Dantas - A Casa Medeiros, firma sucessora; João Vicente da Fonseca. os armazéns de compra e venda de algodão e peles de "Seu" Nondas - Epaminondas - depois do coronel José Soares Filgueira Sobrinho, Ezequiel Fonseca, Osvaldo Oliveira e João Caldas.

Na rua São Paulo destacavam-se o prédio do Grupo Escolar Ten, Cel. José Correia e os armazéns do exportador Minervino Wanderley e do comprador de couros e peles Luiz Cabral, cujo estabelecimento exibia o pomposo título de "O Rei do Algodão".
Nessa época essas firmas exportavam diretamente algodão para Liverpool.

A primeira rua a receber iluminação a querosene foi a rua Coronel Souto, na praça da Matriz. A sua inauguração ocorreu em 24 de dezembro de 1908, na administração de Antônio Saboia. Coincidiu que nessa noite, depois da Missa do Galo, tinha lugar os festejos da Lapinha na residência do coronel Sá Leitão, à rua de Hortas, atual Moisés Soares. Lembro-me bem. Nós, meninos que tínhamos ido assistir aquela diversão, inclusive eu que nela tomei parte, nos intervalos íamos até ao beco da Botica, depois Farmácia Amorim, verificar se os lampiões ainda estavam acesos.

A luz elétrica só chegou ao Assu, em 13 de dezembro de 1925.

*Francisco Amorim era poeta e escritor assuense.

(transcrito do seu livro intitulado "Assu da Minha Meninice, 1982, Coleção Mossoroense).

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