quinta-feira, 6 de junho de 2013

INÁCIO DE JOÃO PIO

O DONO DA RUA

INÁCIO NILO DOS SANTOS nasceu em Assu no dia 03 de outubro de 1954, filho de João Pio do Calçamento. Alto, magro e muito espirituoso, era o que queria e o que não queria ser. Pois, além das belas poesias absurdas, dominava com muita habilidade a imitação do comportamento gestos e falas das pessoas que conhecia. Entre elas: Dr. Edgard Montenegro, Dr. Lou e Chico Galego.

Na música, mesmo gostando muito de Raul Seixas e Vicente Celestino, sentia-se muito a vontade para imitar com extrema semelhança o cantor Jerry Adriani.

Inácio encontrou em Assu, na Rua do Córrego, sob os pés de fícus de João da Rocha e as oiticicas da beira do córrego, todos os elementos para torná-lo em uma das maiores expressões da arte de transformar e interpretar a cultura popular. 

"La vem a lua saindo
Por trás das carnaubeiras.
Não é lua,
Não é nada,
Adivinha o que era?
Nada!"

Estudou no Instituto Padre Ibiapina - IPI, fez exame de admissão na Escola Juscelino Kubitschek - JK, depois de ingressar na faculdade de economia, abandonou o curso faltando apenas 03 meses para concluí-lo. Motivo alegado: timidez. Acreditando nisso, entregou-se a bebida, através da qual, tinha absoluta convicção, atraia todas as possibilidades de criação e afugentava a inibição.

Subi num pé de coco
Para ver meu amor passar...
Ela não passou,
Eu desci.

E assim Inácio seguia a sua sina, bebia para ser poeta e fingir que vivia. Inácio falava cantando e quando cantando, falava e ria. Detestava drogas ilícitas e compreendia como poucos conterrâneos a importância do envolvimento com as artes e o esporte.

"A lua vinha nascendo
Redonda quinem um tijolo,
O tijolo caiu n'água e fez:
Tibungo!"

Era um percursionista de "mão-cheia'. Foi um dos criadores da Escola de Samba Originais do Córrego que durante anos animou o carnaval de rua da cidade do Assu. Na foto acima, em uma mesa de bar, provavelmente imitava o Dr. Lou. Na fotografia ao lado com uma baqueta, provavelmente, da banda marcial do JK. Inácio era uma espécie de maestro daquela orquestra estudantil.

No dia 03 de outubro de 1986, aos 32 anos, o poeta toma uma dose de aguardente, tira gosto com um caroço de milho, canta uma canção, faz um belo absurdo poema, pede licença a timidez e se despede da Rua do Córrego.  

Fonte: Jornal Rebuliço nº 18. Ano: 2008.

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