"Assim caminha a Humanidade". Por Dorrit Harazim
Ao longo dos últimos dias a imagem de centenas de crianças sem vida,
alinhadas num chão de cimento, assombra a comunidade internacional.
Algumas estão enfileiradas ao lado dos pais, também envoltos em lençóis
brancos, deixando à vista apenas seus rostos.
Todos têm
fisionomia serena — perderam a agonia crispada que marcou as últimas
horas de suas vidas. Chama a atenção, na improvisada alameda de
cadáveres, a ausência de qualquer gota de sangue. Aquelas vidas
atingidas por algum agente químico numa madrugada em Damasco parecem ter
se apagado sozinhas.
Na guerra
civil que há três anos estraçalha a Síria e já fez mais de 100 mil
mortos, a ONU, os Estados Unidos e potências mundiais se deparam com
indícios cada vez mais consistentes, embora conflitantes quanto à
autoria, de que mais ataques químicos estejam nos planos de quem
controla este arsenal no país.
“Precisamos nos certificar de
que não haverá uma proliferação de armas de destruição em massa”,
advertiu pela primeira vez o presidente americano Barack Obama.
Por feliz coincidência, o Centro Belfer para Assuntos Internacionais e
Científicos, da Universidade de Harvard, acaba de tornar público um
relatório que serve de reflexão também para o atual imbróglio sírio. O
estudo tem 40 páginas.
E apesar do título árido — Plutonium
Mountain: Inside the 17-Year Mission to Secure a Legacy of Soviet
Nuclear Testing (A montanha de plutônio — por dentro da missão de 17
anos para isolar um legado de testes nucleares soviéticos), o caso
narrado nada tem de tedioso.
Ele reconstitui a determinação de
um grupo de cientistas de três países que levaram 17 anos para nos
presentear com algo que somente agora sabemos existir. Trata-se de um
modesto monumento de três faces, em pedra escura, fincado no pé de uma
remota colina rochosa do Cazaquistão, com uma inscrição trilíngue, em
inglês, russo e cazaque: “1996-2012. O mundo se tornou mais seguro.”
A inscrição resume o êxito da maior e mais complexa operação de desativação de material nuclear desde a Guerra Fria.
Sabia-se que a União Soviética realizara quase todos os seus testes nucleares numa área despovoada do Cazaquistão oriental.
Equivalente, em tamanho, ao estado de Alagoas, o Centro de
Semipalatinsk fora palco de 456 explosões, 116 das quais na atmosfera e
340 subterrâneas no interior da Montanha Degelen.
Algumas eram
explosões atômicas; outras, experiências para estudar o impacto de
explosivos convencionais sobre o plutônio e o urânio enriquecido, ou
para testar a segurança de armas nucleares durante acidentes simulados.
Com o colapso da União Soviética, em 1991, e sua retirada do
Cazaquistão, tudo foi abandonado à própria sorte — o centro de testes,
equipamentos, um emaranhado de 180 túneis não lacrados, silos repletos
de resíduos de plutônio.
Leia a íntegra no blog: http://goo.gl/rJq9FJ
Foto: AP
"Assim caminha a Humanidade". Por Dorrit Harazim
Ao longo dos últimos dias a imagem de centenas de crianças sem vida, alinhadas num chão de cimento, assombra a comunidade internacional. Algumas estão enfileiradas ao lado dos pais, também envoltos em lençóis brancos, deixando à vista apenas seus rostos.
Todos têm fisionomia serena — perderam a agonia crispada que marcou as últimas horas de suas vidas. Chama a atenção, na improvisada alameda de cadáveres, a ausência de qualquer gota de sangue. Aquelas vidas atingidas por algum agente químico numa madrugada em Damasco parecem ter se apagado sozinhas.
Na guerra civil que há três anos estraçalha a Síria e já fez mais de 100 mil mortos, a ONU, os Estados Unidos e potências mundiais se deparam com indícios cada vez mais consistentes, embora conflitantes quanto à autoria, de que mais ataques químicos estejam nos planos de quem controla este arsenal no país.
“Precisamos nos certificar de que não haverá uma proliferação de armas de destruição em massa”, advertiu pela primeira vez o presidente americano Barack Obama.
Por feliz coincidência, o Centro Belfer para Assuntos Internacionais e Científicos, da Universidade de Harvard, acaba de tornar público um relatório que serve de reflexão também para o atual imbróglio sírio. O estudo tem 40 páginas.
E apesar do título árido — Plutonium Mountain: Inside the 17-Year Mission to Secure a Legacy of Soviet Nuclear Testing (A montanha de plutônio — por dentro da missão de 17 anos para isolar um legado de testes nucleares soviéticos), o caso narrado nada tem de tedioso.
Ele reconstitui a determinação de um grupo de cientistas de três países que levaram 17 anos para nos presentear com algo que somente agora sabemos existir. Trata-se de um modesto monumento de três faces, em pedra escura, fincado no pé de uma remota colina rochosa do Cazaquistão, com uma inscrição trilíngue, em inglês, russo e cazaque: “1996-2012. O mundo se tornou mais seguro.”
A inscrição resume o êxito da maior e mais complexa operação de desativação de material nuclear desde a Guerra Fria.
Sabia-se que a União Soviética realizara quase todos os seus testes nucleares numa área despovoada do Cazaquistão oriental.
Equivalente, em tamanho, ao estado de Alagoas, o Centro de Semipalatinsk fora palco de 456 explosões, 116 das quais na atmosfera e 340 subterrâneas no interior da Montanha Degelen.
Algumas eram explosões atômicas; outras, experiências para estudar o impacto de explosivos convencionais sobre o plutônio e o urânio enriquecido, ou para testar a segurança de armas nucleares durante acidentes simulados.
Com o colapso da União Soviética, em 1991, e sua retirada do Cazaquistão, tudo foi abandonado à própria sorte — o centro de testes, equipamentos, um emaranhado de 180 túneis não lacrados, silos repletos de resíduos de plutônio.
Leia a íntegra no blog: http://goo.gl/rJq9FJ
Foto: AP
Ao longo dos últimos dias a imagem de centenas de crianças sem vida, alinhadas num chão de cimento, assombra a comunidade internacional. Algumas estão enfileiradas ao lado dos pais, também envoltos em lençóis brancos, deixando à vista apenas seus rostos.
Todos têm fisionomia serena — perderam a agonia crispada que marcou as últimas horas de suas vidas. Chama a atenção, na improvisada alameda de cadáveres, a ausência de qualquer gota de sangue. Aquelas vidas atingidas por algum agente químico numa madrugada em Damasco parecem ter se apagado sozinhas.
Na guerra civil que há três anos estraçalha a Síria e já fez mais de 100 mil mortos, a ONU, os Estados Unidos e potências mundiais se deparam com indícios cada vez mais consistentes, embora conflitantes quanto à autoria, de que mais ataques químicos estejam nos planos de quem controla este arsenal no país.
“Precisamos nos certificar de que não haverá uma proliferação de armas de destruição em massa”, advertiu pela primeira vez o presidente americano Barack Obama.
Por feliz coincidência, o Centro Belfer para Assuntos Internacionais e Científicos, da Universidade de Harvard, acaba de tornar público um relatório que serve de reflexão também para o atual imbróglio sírio. O estudo tem 40 páginas.
E apesar do título árido — Plutonium Mountain: Inside the 17-Year Mission to Secure a Legacy of Soviet Nuclear Testing (A montanha de plutônio — por dentro da missão de 17 anos para isolar um legado de testes nucleares soviéticos), o caso narrado nada tem de tedioso.
Ele reconstitui a determinação de um grupo de cientistas de três países que levaram 17 anos para nos presentear com algo que somente agora sabemos existir. Trata-se de um modesto monumento de três faces, em pedra escura, fincado no pé de uma remota colina rochosa do Cazaquistão, com uma inscrição trilíngue, em inglês, russo e cazaque: “1996-2012. O mundo se tornou mais seguro.”
A inscrição resume o êxito da maior e mais complexa operação de desativação de material nuclear desde a Guerra Fria.
Sabia-se que a União Soviética realizara quase todos os seus testes nucleares numa área despovoada do Cazaquistão oriental.
Equivalente, em tamanho, ao estado de Alagoas, o Centro de Semipalatinsk fora palco de 456 explosões, 116 das quais na atmosfera e 340 subterrâneas no interior da Montanha Degelen.
Algumas eram explosões atômicas; outras, experiências para estudar o impacto de explosivos convencionais sobre o plutônio e o urânio enriquecido, ou para testar a segurança de armas nucleares durante acidentes simulados.
Com o colapso da União Soviética, em 1991, e sua retirada do Cazaquistão, tudo foi abandonado à própria sorte — o centro de testes, equipamentos, um emaranhado de 180 túneis não lacrados, silos repletos de resíduos de plutônio.
Leia a íntegra no blog: http://goo.gl/rJq9FJ
Foto: AP
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