domingo, 20 de outubro de 2013

A VELHA MARGEM D’UM RIBEIRO ANTIGO




Por João Lins Caldas (1888-1967), poeta potiguar do Assu 


Velho ribeiro de águas cristalinas,
Que me viste cantar ao lado dela,
Cheio de gozo e de emoções divinas,
Que orvalhaste-lhe a face calma e bela,
Que banhaste-lhe as mãos tão pequeninas
Escutaste-lhes a jura tão singela;

Amado ribeiro bom de águas calmas,
Testemunha do idílio que gozamos
Unindo os corações e dando as almas;

Que nos viste a sombra destes ramos
Oscilando estas flores e estas palmas,
A quebrar estes garranchos que quebramos...

Não deves ignorar, nesta desgraça
De quem tanto mereceu-te em confiança
A grande dor que o coração me laça...

Pois, sabei que perdi toda esperança,
Que já difere o que entre mim se passa,
Que a minha amada outro caminho avança.

Que, bela como outrora, ou mais formosa,
Negou-me aquelas juras tão queridas
E que outro amor em outros braços goza... 

Que eu, que trazia as ilusões compridas,
Trago a fronte pendida e desgostosa
Como um resto de morte para as vidas...

Ribeiro que és feliz e que não mudas,
Que me viste no tempo da ventura,
Se olhares minha amada - não te iludas,

Nesse dia, revendo a formosura
Dessa que foi tão falsa como Judas,
Não lhe lave da perfída a nódoa escura

Ribeiro que és feliz e que não mudas!


Assu, 1909

Um comentário:

Mariadapaz.com disse...

Fantástico poema e maravilhosa imagem

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