Padre Zé Luiz (José Luiz Silva era o seu nome de batismo)fora pároco de Pendências, importante município norte-riograndense, nos anos sessenta. Eu tive o privilégio de com ele ter convivido nos anos oitenta, eu era vereador e ele secretário da AMVALE - Associação da Microrregião do Vale do Açu). Zé Luiz era natural de São José de Campestre. Ele deu a sua colaboração valiosa ao Vale do Açu, Por isso, merece a lembrança do poder público da terra assuense para que lhe faça uma homenagem justa, pelos seus feitos, pela sua dedicação aquela região varzeana. Pois bem, vamos nos deliciar com algumas estórias narradas por ele, no seu livro intitulado "Anedotário Eclesiástico", 1986, conforme adiante:
1 - o nome dele é Antônio, mais todos o conhecem por Minha Burra, sua mãe é a única que não o trata assi. Em Macau ele trabalhava em Henrique Lage, como motorista. Competentíssimo. Tão competente, que os carros de padre Penha sempre foram tirados do prego por ele. Hoje, Minha Burra est´[a em Natal. Aposentado, amigo de todos. Todas as tardes, Minha Burra está no CAFÈ SÂO LUIZ, escutando as histórias de Macau. Certa vez, eu estava na capela do do Porto do Roçado para celebrar um casamento. Depois de confessar os noivos, de roquete e estola, fui ao altar para iniciar a cerimônia. Em voz alta anunciei: "Aproximem-se os noivos e as testemunhas!" Faltava apenas uma testemunha para assinar. Foi quando perguntei: - "E quem é a outra testemunha?" - "Minha Burra" respondeu o noivo.
2 - Foi em 19862. Tempo efervescente no Rio Grande do Norte, Aluízio Alves era o governador do Estado. Dom Eugênio, bispo da Diocese. Cada um que se desdobrasse em feitos. Aquele, introduzia no Brasil através de nós, a "Aliança Para o Progresso". O outro, criava a MEB, Sindicatos rurais, dava à "A Ordem", características combativas. Era o tempo de Chaparro, de Calazans Fernandes, de ideias por cima de ideias. Eu era assistente diocesano da JAC, encarregado portanto de visitar todas as paróquias, reunindo líderes rurais. Fui convidado para ir a Nova Cruz. O vigário era Monsenhor Pedro Moura, modelo de dedicação pastoral. Lá realizou-se uma reunião no cinema, para se dar os primeiros passos à sindicalização. Limite com a Paraíba, Nova Cruz recebia o impacto das Ligas Camponesas espalhadas nos engenhos do Brejo. Quando depois de vários oradores, eu fui falar, preferi convidar um dos agricultores presentes para entrevistá-lo. Chamei o primeiro da fila. Era um cidadão atencioso a tudo. Acompanhava os oradores, com os olhos arregalados. Já no palco comecei: - Como é seu nome? - Manoel Pedro da Silva. - Onde o senhor mora? - Em Primeira Lagoa. - Seu Manoel, o senhor tem terra? E um gaiato, gritou no fundo da sala: - No canto das unhas, padre Zé Luiz.
3 - Zé Bolô é um tipo único. Falando, bebendo ou não, é um empolgado. Se Zé Bolô está contando uma estória, relatando um fato, não se sabe quando está falando afobado ou satisfeito. De um momento para outro, dá gritos, fala em "todos os raios", "coriscos", "estopô", na mais alegre e estrepitosa gargalhada. "Um raio me parta, um corisco me acabe, cegue da gota serena ou morra da bexiga lixa" são expressões inevitáveis de Zé bolô. Tão inevitáveis que as leva com naturalidade para o confessionário. - "Seu vigário, se eu fiz isso ou aquilo, eu cegue da gota." E na hora dos propósitos. - "Padre, se eu não mudar de vida eu me estopore." Quando Zé Bolô conta essas coisas, misturadas com cachaça, Pendências se transforma em festa. E eu fico pensando: "porque a Igreja acabou a confissão auricular? Tão bom escutar as pragas de Zé Bolô.
Postado por Fernando Caldas
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