quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O VELHO POTE

Numa volta à minha infância
Lembro o quanto fui feliz
Tomando água de pote de barro
Meu coração é quem diz.

Depois do almoço
Ia a pé para o grupo escolar
Antes, tomava água de pote
Para poder caminhar.

Voltava do Abel Furtado
Para a fazenda Alagamar
Ao chegar, bebia água de pote
Doce e fria de lascar.

Ao lado do pote
Adormecia um sapo cururu,
Para almoçar
Arroz, feijão verde, paçoca e tatu.

Está chovendo
Aparo o líquido na biqueira
Encho o velho pote
Mais natural que água de torneira.

O açude secou
Carrego água de galão
Para encher o pote
De água de cacimbão.

À noite a luz é de lamparina
A água é de pote
O fogão é à lenha
Da banda do serrote.

O pote de barro
Lamenta a ingratidão
De alguém que o deixou abandonado
Nas caatingas do sertão.

O velho pote
Hoje é imprestável
Matou a sede de muita gente
Quem bebeu ficou saudável.

Nos momentos felizes
Tinha muita utilidade
Triste do pote
Hoje é uma raridade.

Na última viagem
O matuto pegou na rodilha
Jogou o pote no lixo
Como se fosse uma ingrata filha.

O pote envelheceu
Mas cumpriu sua função
Tanto fora modelado
No meu velho sertão.

Na fazenda Alagamar
Um pote de água fria
Que servia como geladeira
Ao lado, esfriava até melancia.

Papai tinha fumo de rolo
Aos sábados ia vender
Antes de sair de casa
Tibungo, copo no pote para beber.

Quem falar de mim
Não vale uma presilha
Quem não pode com o pote
Não pegue na rodilha.

Amigo João
Que conservou o velho pote
Essa homenagem é para você
Numa época que era um frangote.

Depois de tantos anos
João Batista tem um velho pote
Se não gostou das rimas
Me devolva com glosa e mote.

Marcos Calaça, jornalista matuto (UFRN)

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