POESIA EM TEMPO DE GUERRA...
Caminhos de sangue (20)
(OTHONIEL MENEZES)
O pé das caboclas descuidadas
pisa agora a estrada da guerra
onde eu sou milionário.
Vão ao rio, descem ao vale ainda úmido,
cheirando, sob a diáfana bafagem da névoa,
a cajueiros em flor...
Breve, talvez, esse bucólico itinerário
onde há tinidos esparsos, sucupiras
de mantos lilases, ubaias douradas e
mel.
Soldados, pequenos soldados pardos,
ingênuos, cabeças de papel.
Furiosos sob a metralha, atravessando a
ponte, caindo como gafanhotos
verdes na cachoeira.
E somente restará, tímida, trêmula, sob
a bananeira da margem silenciosa,
a última da tribo dos mestiços da
Ponte Velha,
estúpida, olhando os heróis despedaçados
na água do rio inocente refletindo
pobres flores azuis e pau-d’arqueiros
com grandes túnicas de quaresma.
Todas as estradas por onde ainda
vagam sombras de sacrificados,
são iguais a essa da Ponte Velha.
Onde as caboclas felizes vão pela
manhã a cachoeira.
No vale onde estão ainda em paz
e em flor os cajueiros...
("Obra Reunida)
(20) O poema, certamente escrito durante a Segunda Guerra, não foi incluído
por OM no livro A canção da montanha (1955), tendo sido publicado em
1949, num dos jornais locais. O poeta fala em “estrada da guerra”, “Ponte
Velha”, “caboclas descuidadas”, “cachoeira”, pintando um quadro – sem
dúvida, crê o autor destas Notas – do que, diariamente via, ao se deslocar
de Natal para Parnamirim, onde trabalhava, à época do conflito mundial.
As caboclas eram a lavadeiras, a cachoeira a do rio Pitimbu e a ponte,
chamada de “Velha”, modernizada pela engenharia dos americanos, obra
d’arte da “Parnamirim Road”. O local, hoje em dia (2009), poluído e
devastado por obra e graça de especuladores e de autoridades desonestas,
não vale mais sequer um poema performático de algum maluco aqui da
Jerimulândia...(Nota de LAÉLIO FERREIRA DE MELO)
Caminhos de sangue (20)
(OTHONIEL MENEZES)
O pé das caboclas descuidadas
pisa agora a estrada da guerra
onde eu sou milionário.
Vão ao rio, descem ao vale ainda úmido,
cheirando, sob a diáfana bafagem da névoa,
a cajueiros em flor...
Breve, talvez, esse bucólico itinerário
onde há tinidos esparsos, sucupiras
de mantos lilases, ubaias douradas e
mel.
Soldados, pequenos soldados pardos,
ingênuos, cabeças de papel.
Furiosos sob a metralha, atravessando a
ponte, caindo como gafanhotos
verdes na cachoeira.
E somente restará, tímida, trêmula, sob
a bananeira da margem silenciosa,
a última da tribo dos mestiços da
Ponte Velha,
estúpida, olhando os heróis despedaçados
na água do rio inocente refletindo
pobres flores azuis e pau-d’arqueiros
com grandes túnicas de quaresma.
Todas as estradas por onde ainda
vagam sombras de sacrificados,
são iguais a essa da Ponte Velha.
Onde as caboclas felizes vão pela
manhã a cachoeira.
No vale onde estão ainda em paz
e em flor os cajueiros...
("Obra Reunida)
(20) O poema, certamente escrito durante a Segunda Guerra, não foi incluído
por OM no livro A canção da montanha (1955), tendo sido publicado em
1949, num dos jornais locais. O poeta fala em “estrada da guerra”, “Ponte
Velha”, “caboclas descuidadas”, “cachoeira”, pintando um quadro – sem
dúvida, crê o autor destas Notas – do que, diariamente via, ao se deslocar
de Natal para Parnamirim, onde trabalhava, à época do conflito mundial.
As caboclas eram a lavadeiras, a cachoeira a do rio Pitimbu e a ponte,
chamada de “Velha”, modernizada pela engenharia dos americanos, obra
d’arte da “Parnamirim Road”. O local, hoje em dia (2009), poluído e
devastado por obra e graça de especuladores e de autoridades desonestas,
não vale mais sequer um poema performático de algum maluco aqui da
Jerimulândia...(Nota de LAÉLIO FERREIRA DE MELO)
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