segunda-feira, 27 de janeiro de 2014



Esse era o Quartel Federal existente na cidade. Segundo Cascudo fala em "História da cidade de Natal", ainda no inicio do século XIX tínhamos a Companhia de Linha, O que não tínhamos era um local para agasalhá-la. Foi então preciso construir um Quartel, terminado no dia de São João de 1813, aniversário do Príncipe Regente, Dom João, já gozando o Rio de Janeiro. Na verdade, essa que vemos aqui, não era mais a arquitetura original desse antigo monumento colonial. Depois de servir durante muitos anos como abrigo da tropa federal, sem reparos e sem o devido cuidado, a construção entrou em declínio. E foi com ajuda das intempéries do tempo, que depois de passados mais de 70 anos, fez-se reduzir o Quartel a um completo estado de abandono. Como convinha encarecer a necessidade de uma completa reconstrução, o gênio do mal (os maus administradores), aconselhou que se metesse mão criminosa naquele monumento histórico da província, destelhando-o, expondo-o ao sol e a chuva e reduzindo-o a um verdadeiro montão de ruínas. O comandante de então, o capitão Maciel da Costa, jugou-se com direito a emprestar a um cadete reformado três milheiros de telhas. Não se sabe como, desapareceu metade do portão, que foi visto depois servindo em casa particular.
O material atirado a um canto como imprestável, foi pouco a pouco e como por encanto desaparecendo, sendo utilizado em misteres diferentes daqueles a que era destinado. Nunca se viu tanto descalabro, revelando-se propósito deliberado de forçar a administração a empreender essa obra, cujos lucros desafiavam a cobiça de muita gente, empregando-se criminosamente os meios de agravar as condições lamentáveis a que tinha chegado o edifício inteiramente desfigurado. Foi nesse triste estado que o senhor Dr. Pereira de Carvalho encontrou o antigo quartel militar, quando assumiu a administração da província. Não cessava o senhor Pereira de Carvalho de lamentar que a incúria dos homens públicos e a ganância dos especuladores, tivessem reduzido um dos mais antigos e importantes edifícios da província, a vergonhosa expressão de abatimento e de ruínas, a que fora condenado.
A reconstrução do quartel militar pode dizer-se que era uma de suas mais constantes e patrióticas preocupações. Resolveu então o Sr Pereira, meter mãos a obra com a resolução firme e inabalável de concluí-la no mais breve espaço de tempo e com a mais escrupulosa economia. Pediu crédito ao governo, que o habilitou a dar princípio aos respectivos trabalhos. Para que as despesas não pesassem sobre os cofres públicos, solicitou e obteve autorização para empregar praças da companhia, no serviço de reedificação de sua própria casa. O próprio presidente da província ia todos os dias em pessoa examinar e fiscalizar os trabalhos, confiados a hábil e ativa direção do Sr. Capitão Capitulino Cesar Loureiro, atual(no ano de 1888) comandante da força de linha. O Sr.Dr. Pereira de Carvalho não podia encontrar um auxiliar mais diligente, mais dedicado e mais honesto do que o Sr Capitão Loureiro, que identificou-se com s.ex. no empenho de levantar das ruínas aquele monumento da antiguidade, que o gênio da destruição pretendera aniquilar completamente. O Sr Capitão Loureiro não poupara esforços, nem mesmo sacrifícios de comodidades e de saúde, para corresponder satisfatoriamente a confiança nele depositada. Assistindo aos trabalhos desde pela manhã até a noite, exercendo ele mesmo as funções de simples servente, animava aos seus subordinados, mostrando inexcedível zelo no desempenho da árdua tarefa de que fora incumbido pelo presidente da província. Estamos certos de que seriam inúteis os bons desejos e a máscula energia do senhor Pereira, se não tivesse a seu lado o ilustre comandante que se consagrou de corpo e alma as obras de reparação dos quartel, as quais mereceram particular cuidado e viva solicitude da parte do digno e honrado administrador. Pode dizer-se sem medo de errar, que se um foi a cabeça que concebeu o plano e o pensamento de empreendê-las, o outro foi o braço firme e resoluto que as executou. No dia 24 de Março de 1888 estavam elas completamente concluídas, entregando-se as vistas do público o edifício reconstruído em perfeito estado de solidez. O que é ainda para admirar e surpreender, é que as despesas feitas com essa reconstrução quase radical, importaram na insignificância soma de 7:059$080 réis. Sabe-se que essas obras foram orçadas pelo Sr. Frederico Skiner na importância de 29:800$00 rés, e que houve quem oferecesse para fazê-la pala quantia de 48:000$000 réis, levantando um segundo pavimento no raio da frente. Comparando-se os dois orçamentos com as despesas efetivamente realizadas, compreende-se quanto zelo, quanta solicitude, quanta economia, quanta honestidade presidiram aqueles trabalhos, que recomendaram os nomes dos Srs. Pereira de Carvalho e o Capitão Loureiro a munificência do governo imperial. Ambos merecem os aplausos dos homens de bem, embora tenham incorrido nas maldições dos especuladores.
Com o passar dos anos, o Quartel teve sua denominação mudada várias vezes.
Pouco anos depois, já em 1892, ele já era chamado de Quartel do 34º batalhão de infantaria. Depois foi chamado de Quartel da companhia isolada de Caçadores.
Após a I guerra, em 1917, passou a denominar-se 40º Batalhão de Caçadores. Dois anos depois, mudou para 20ªCompanhia de Metralhadoras. Em dezembro de 1921, transformou-se em 29º Batalhão de Caçadores (29º BC). Durante o período de 1921 a 1941, o Batalhão ainda passou por algumas modificações de denominação (31º e 21º BC), até formar o 16º Regimento de Infantaria.
Após a Intentona Comunista de 1935, o 21º BC voltou a denominar-se 29º BC. Dessa forma, a junção do 29º BC com o 11º BC, que veio para Natal oriundo de Minas Gerais, deu origem ao 16º Regimento de Infantaria. O 16º RI, sigla pela qual o quartel passou a ser conhecido pelo público potiguar, foi criado pelo Presidente Getúlio Vargas através do decreto Nº 3.344, de 12 de junho de 1941. De início, instalou-se no antigo quartel da praça Tomaz Pereira (21º BC), sob o comando do Tenente-Coronel Liberato da Cruz Barroso. A transferência definitiva para o prédio do Tirol aconteceu em fevereiro de 1942. A partir daí, o prédio foi mais uma vez esquecido. Abandonado, terminou a década de 40 já em completo estado de ruínas.
Terminava ai, uma trajetória de 130 anos de história, desse que foi o maior e mais importante quartel federal que tivemos durante quase todo o século XIX e inicio do XX.
Em fins da década de 60 foi construído no local a Escola Estadual Winston Churchill.

Autor da foto, Desconhecido.
Fonte: · Impressões do Brazil no Seculo Vinte - 1913
Parte do texto foi extraído do Jornal Gazeta do Natal - 28 de Março 1888


Comentário da linha do tempo/face de Angelo Mário DE Azevedo Neto e André Madureira

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Que eu seja eternamente eterno louco e nunca deixe de sonhar na vida. (João Lins Caldas, pensador potiguar).