segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

POETISA ASSUENSE

ANA LIMA PIMENTEL

ANA LIMA PIMENTEL nasceu em Assu (RN), em 16 de maio de 1882. Muito inteligente e sensível, foi autodidata, e costumava ler tudo o que encontrava, principalmente a literatura romântica.

Dona Sinhá, como era conhecida na intimidade Dona Ana dos Santos Lima, perdeu seu marido a 12 de março de 1899, na então Vila de Areia Branca, para onde havia se transportado à procura de recursos médicos para sua saúde combalida.

Galdino Apolônio dos Santos Lima quando faleceu contava 54 anos de idade. Dona Sinhá, neste mesmo ano vendeu tudo quanto possuía, inclusive a casa de morada e o estabelecimento comercial de seu marido, e transferiu a 6 de setembro, a sua residência para Natal, levando nove filhos, entre os quais Ana Lima que era conhecida entre os familiares por “Sinhazinha”.

Ana Lima ou Ana de Lima como costumava assinar, aprendeu a ler com sua mãe e não dispunha de conhecimentos além do curso primário. Desde cedo se revelou uma menina inteligente e aos 17 anos publicava estes versos:

Ontem à tarde, ao desmaiar do dia
As estrelas inquietas e medrosas,
Procuravam nas plagas luminosas
Uma outra estrela que fugido havia

Elas todas choravam silenciosas,
Cheias de medo e cheias de agonia
E o claro pranto das estrelas ia
Cair no seio das nevadas rosas.

Porém, mais tarde, quando a lua algente
Transpôs a curva triunfal do oriente
Noiva do sol, pela amplidão vagando...

Elas viram, do espaço interminável
A meiga estrela, pálida, adorável
Na doce luz do teu olhar brilhando.

Este soneto foi escrito em Assú, em 1899, ano em que seu pai morreu e ela, em companhia de sua família, mudou-se para a capital do estado.

Colaborou em diversos jornais e revistas do Norte e Nordeste. Como A República (1903), o Lyrio (Recife, 1903),Almanach Literário e histórico do Município do Assú (1904), entre outros, utilizando muitas vezes o pseudônimo de “Sinhá”. Em 1901, aos dezenove anos, publicou o livro de poemas “Verbenas”, que recebeu elogioso prefácio de Pedro Avelino, jornalista patrício, diz que nos versos de Ana Limahá duas notas que ressaltam nítidas a afetividade e a espontaneidade.
Em 22 de dezembro de 1906, casou-se com o professor Celestino Pimentel (foto), com quem tem teve seis filhos. Aos trinta e seis anos, grávida do sétimo filho, a poetisa sofre uma queda que provocou a morte imediata de seu filho e, semanas mais tarde, a sua própria, em Natal, no dia 18 de janeiro de 1918.

RIMAS ALEGRES

Dorme minha alma sorrindo
Da esperança no regaço,
E sonha que estão fugindo
Pelo doce azul do espaço
Suas crenças perfumosas,
Como pétalas de rosas.
Não vês dos sonhos na calma
Desabrocharem meus versos?
Eles são as flores da alma
Da lira sutis dispersos!
Quero embalar-te os ouvidos,
Nestes harpejos queridos!
Nunca sofri dissabores,
Não sei se existe amargura,
Passo uma vida de flores,
De moça a vida mais pura.
Me alente o canto das rimas...
Com teu sorriso me animas.
Leio o futuro ridente
Na cor dos olhares teu!

E sei dizer, docemente,
Todos os dias: meu Deus!

Fazei permanente a origem
Dos róseos sonhos da virgem ...
Cerca-me o zelo paterno,
Tenho as maternas carícias,
Do lar ao aconchego terno
Canto venturas, delícias!
São tão formosos e tantos,
De minha vida os encantos...
Creio nas louras quimeras
Filhas diletas do amor;
Minhas gentis primaveras
Da adolescência na flor,
Não me mentem enganosas,
Sim, me sorriem ditosas!
Estas estrofes singelas
Não pensem ser ilusão,
São elas todas estrelas
Do céu do meu coração.
Primor que a vida matiza
E o meu viver sintetiza.

PÁGINA ÍNTIMA

Não pense, minha flor, que o triste pranto,
Que ora desprende o meu olhar sentido,
Vá magoar o afeto estremecido
Que me inspirou teu virginal encanto.
Se agora eu fujo ao teu olhar querido,
Cheio de luz, de intérmino quebranto,
Eu sinto da alma num pequeno canto
Teu doce amor ao meu amor unido ...
Quebrou-se o fio dos meus sonhos belos
E caíram no manto cetinoso
Dos anéis aromais de teus cabelos.     

Fonte:
Fragmentos do Verbete organizado por Constância Lima Duarte e Diva Cunha
Fotos:
Blog Vale Verde - Lúcia Helena Pereira
Blog do Padre Celestino Pimentel

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