Museu de Arte do Rio (MAR) promove encontro entre
frevo e passinho, dois movimentos populares do Brasil
Matérias 14.02.2014 deixe aqui seu comentário
No workshop, a cultura pernambucana
se encontra com a carioca. (Crédito: Thales Leite)
“Vem na dancinha do frevo com o
funk", canta Mc Vakão na músicaPassinho dos Menores da
Favela. “Pezinho, pezinho, ombrinho, ombrinho”, cita a letra de
outro funk chamado Dança do Frevo, d’Os Hawaianos. A fusão entre o ritmo centenário das
ruas de Permambuco e o batidão carioca começa a ser tornar paupável. No Museu
de Arte do Rio (MAR), o encontro se consagra no domingo, dia 16/02, em uma
batalha de dança, coordenada pelo MC Rafael Nike. Trata-se do encerramento de
uma oficina que durante toda a semana reuniu alunos e dançarinos dos dois
ritmos.
Os alunos que participaram do
workshop gratuito de frevo e passinho naEscola do Olhar se
apresentam e duelam neste domingo, dia 16, no MAR. Os movimentos rápidos e de
muitos 'sobe e desce', foram ensinados pelos dançarinos Diogo Breguete e João Pedro Fantástico,
representantes do passinho, e pelo coreógrafo Otávio Bastos, nascido na terra
do frevo. A onda pernambucana no MAR está presente desde dezembro de 2013 com a
exposição Pernambuco Experimental e a iniciativa faz parte da
mostra que está aberta até 30/04 .
A ideia surgiu da pernambucana Gleyce
Heitor, assessora pedagógica do museu. Ela acompanhava uma das visitas
escolares ao MAR quando duas turmas combinaram de dançar o passinho no fim do
passeio. Ao observar, notou a aproximação com o ritmo de seu estado. Ela,
então, uniu o útil ao agradável.
“O frevo, como um movimento da
modernidade de Pernambuco, é bem urbano e traz uma questão de batalha na
história do ritmo, com capoeiristas. São danças similares até mesmo nos
movimentos de perna.” Gleyce ficou surpresa com o resultado ao ver alunos e
professores curiosos e disposto a aprender. “O museu ficou contaminado pelos
dois ritmos.”
Na hora da escolha dos professores,
Gleyce lembrou de Otávio, conhecido de Recife que aprendeu a dançar com um dos
últimos mestres de frevo, Nascimento do Passo.
Para representar o fenômeno carioca, recebeu ajuda de Rafael Nike, que indicou
Diogo e João. Representantes do funk, os meninos participaram da Batalha do
Passinho e carregam vitórias no currículo. Passar pra frente o que aprenderam
depois de tanto ensaio é sinônimo de realização. “Eu fico feliz pra caramba,
sempre sonhei em ensinar os garotos da comunidade que me viam dançar. Não
podemos desistir de nossos sonhos”, diz Breguete, de 23 anos, morador de
Cachoeirinha, no Lins de Vasconcellos, Zona Norte.
João Pedro, 15 anos, já se vê
trabalhando com dança no futuro. Em seu primeiro baile, precisou ir com a mãe.
Ensaiou no chuveiro, no espelho, observando a própria sombra e deu tudo de si e
agora faz parte dogrupo Bonde dos Fantásticos, super cogitado entre os
dançarimos do estilo. Hoje, como professor no MAR, enxerga novas possibilidades
para o passinho. “Estar dentro de um museu é algo importante para um estilo que
sempre esteve dentro da favela. Torço para que isto seja lembrado um dia.”
A ligação com Pernambuco feita por
Otávio Bastos se completou em uma grande roda organizada no aulão de
quinta-feira, 13/2, no workshop. Quando postos um ao lado do outro, frevo e
passinho se reconhecem. “O passinho absorve um pouco de tudo, é andrógeno e tem
suingue. O legal é como preserva a individualidade dançante e isso o frevo
perdeu com o tempo, porque se sistematizou. Acho que podemos observar o
passinho e voltar a ter isso.”
A disputa
Entre os dançarinos de frevo,
não há batalhas firmadas. No passinho, é o que dá sentido à tanta prática e
dedicação. Breguete diz que preparou uma surpresa, João está confiante de que
“vai pegar fogo”. Otávio, como quem entra em território desconhecido, acredita
que a troca de experiências é o que vale mais a pena. “São saberes distintos,
um é centenário e outro está nascendo agora, em outra realidade.”
Os alunos estão animados para mostrar
o resultado de uma semana de prática, mas levam a disputa como uma brincadeira.
Hayane Ferreira, de 29 anos, aproveitou o fim da licença-maternidade para fazer
algo diferente. Ela se inscreveu nas aulas de frevo por curiosidade. Está
adorando e, de quebra, conheceu novas pessoas. Marcos Leandro, de 32 anos, é
ator e também aluno do workshop, mas optou pelo passinho. “Dançar é do corpo, a
gente precisa dançar. É ótimo estar em contato com uma manifestação
cultural muito nova e tão brasileira, que recria e mistura várias referências.”
Os dois estarão presentes na Batalha
de domingo aberta ao público. Mais informações em Programação Cultural.
Colaboração de Yzadora Monteiro
Fonte: http://www.cultura.rj.gov.br/
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