EM FAMÍLIA
Eduardo Olympio, 28/08/2014. (Poeta Baiano).
Pela terra brasileira,
Reconhecido demais,
Disse o poeta Limeira:
“Os tempos não voltam mais”.
Desgarro da sua esteira,
Lembrando tios e pais.
Porque gosto do passado,
É por onde meus pés finco,
Pois o tempo não voltado
Insiste em deixar-me o vinco,
Auguro-me retornado
E, com a memória, brinco.
Muitas histórias eu soube
Pelos próprios personagens.
Sinto que agora me coube
Contar as tais traquinagens.
E não há quem a mim roube
O prazer das homenagens.
Pelo Porto dos Tainheiros,
Helena ao mar se atirava
E pedia aos marinheiros
Da lancha que lá estava:
“Uma corda, cavalheiros”
E à corda se agarrava.
Fazer o que divertia
Helena tinha por norma.
“Gorda leve”, se dizia,
Naturalmente na forma.
Na corda, era a travessia,
Pelo mar, a Plataforma.
Julio Olympio, liberal,
Não se incomodava não,
Era o pai, de alto astral,
De cinco, sem confusão.
Mas, mexessem com a moral
E se dava a intervenção.
Certa vez, foram os filhos
No carnaval agitar,
Mas à marcha de estribilhos
“Mamãe eu quero mamar”
Ofereceu empecilhos,
Não a podiam cantar.
Vejam que Julio era amigo
Da noite, com prosa e festa,
Onde não via perigo.
Quem ía além na seresta
Contava com seu abrigo,
Jamais pensava em dar testa.
Preferia se ir embora,
Quando a música acabasse,
Soava-lhe antes da hora
Ir sem que a orquestra findasse,
Não houvesse um bota-fora
Ou o dia não raiasse.
Olhos “claros de cristal”
Da “Lourinha” ele adorava,
Mas a mãe, no carnaval,
Em respeito, não gostava,
Pois um valor perenal
A marchinha avacalhava.
Os filhos enfim chegaram
Com amigos ao Bahiano.
Mas, apreensão mostraram,
Pois a música do ano,
Que repetida escutaram,
Era “Mamãe..”, salvo engano.
Estatelados, um tempo,
Lembravam-se da mensagem.
Superar o contratempo
Demandaria coragem,
Precisava ser e a tempo
De sair da desvantagem.
Convocaram o presente
Filho com o nome do pai:
“Júlio, o quê você sente?”
“Olhe que o tempo se esvai!”
“Tou me sentindo doente”
“Mude pra nós isso, vai”.
E o mancebo percebendo
Que só “Mamãe…” se cantava,
A meninada sofrendo,
Dançar sem cantar não dava,
Sentenciou se moendo:
“Proibição vai à fava”.
Ainda, de carnaval,
Outra história me contaram:
Com máscaras, bem normal,
Amigos que se encontraram
- Uma turma jovial -
Pra Castro Alves rumaram.
Entre os amigos, Helena,
Mascarada, no programa,
E, nem um pouco pequena,
Veste do pai o pijama,
Sob o disfarce, na arena,
Ao próprio, brincando, chama.
“Julinho, Julinho!”,
Dizia, com voz soprano,
Ao pai, que, em roupa de linho,
Chegara ao festim profano,
Com amigos de chapelinho:
“Você está lindo este ano”
Julinho, meio sem jeito,
Sem reconhecer a voz,
Nem o pijama perfeito,
Estreita casca de noz,
Com amigos do direito,
Que situação atroz!
Nunca soube como a história
Na verdade se findou,
Se houve uma vitória
Ou se o jogo empatou,
Mas risada meritória
Sei que ela provocou.
Esses fatos preciosos
A própria vida animaram,
Nos relatos venturosos,
Pela voz dos que os contaram
E são tão prodigiosos
Que os tempos pra mim voltaram.
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