– PEDRO LUSO DE CARVALHO
No dia 23 de agosto de 1927, nos Estados Unidos, Sacco e Vanzetti foram
executados na cadeira elétrica, por um crime que não cometeram. Nos autos do
processo, nenhuma prova da autoria do crime. Sete anos, foi o tempo que a
justiça levou para condená-los, a contar do recebimento da denúncia do promotor
de justiça pelo juiz.
Nesse lapso de tempo, protestos da comunidade intelectual
norte-americana se sucediam, inconformada com a sentença condenatória dos dois
humildes italianos. Milhares pedidos de clemência foram encaminhados por eles,
aos quais se somaram tantos outros pedidos do mundo inteiro. Mas, tudo foi
inútil. A sentença condenatória teria de ser cumprida para servir de exemplo ao
povo, para que se distanciasse do anarquismo e do comunismo.
Depois que foi publicada a sentença condenatória de Sacco e Vanzetti,
que culminou com a morte de ambos na cadeira elétrica, o sonho americano de uma
sociedade justa e igualitária encontrava-se por terra. Aí, começaria o
desencanto de parte do povo sensível à justa aplicação da justiça e do
tratamento igualitário de seus cidadãos.
Um reconhecido nome da literatura estadunidense, Katherine Anne Porter,
autora de A Nau dos Insensatos, livro
que se tornou best-seller, entre outras obras, e que também foi publicado no
Brasil, , fez parte de comitês de protestos, e escreveu The Never Ending Wrong, que aqui recebeu o título de Sacco e Vanzetti: Um Erro Irreparável, traduzido por Sebastião Uchoa Leite (Rio de
Janeiro: Salamandra, 1978).
Katherine Anne Porter inicia assim o seu livro:
Durante alguns anos, no
início da década de 1920, quando eu vivia parte do meu tempo no México, cada
vez que voltava a New York eu retomava o fio da estranha história dos
imigrantes italianos Nicola Sacco, um sapateiro, e Bartolomeo Vanzetti, um
peixeiro, acusados de um assalto brutal a um caminhão de pagamentos, incluindo
homicídio, em South Braintree, Massachuseetts, no começo da tarde do dia 15 de
abril de 1920.
O sofrimento desses dois italianos, que também eram vistos como
anarquistas, começou no ano de 1921, quando, após a condenação de ambos nesse
mesmo ano, foram levados para a cela da morte, de onde entravam e saiam, quando
havia suspensão da pena, até o dia fatal, como conta Katherine Anne Porter, no
seu livro:
Foram levados para a
morte na cadeira elétrica na prisão de Charleston à meia-noite do dia 23 de
agosto de 1927. Uma meia-noite desolada e sombria, uma noite para a perpétua
recordação e luto. Eu era uma das muitas centenas de pessoas que permaneceram
em ansiosa vigília, observando a luz na torre da prisão, que nos tinham dito
que se apagaria no momento da morte. Foi um momento de estranho e profundo
abalo.
E aí termina a triste história de Bartolomeo Vanzetti, que nasceu em
Piemonte, Itália, em 1888, e de Nicola Sacco, que nasceu na província de
Foggia, no sul da Itália, em 1891. Vanzetti morreu com 39 anos de idade, e
Sacco com 36 anos.
E, para quem se interessar pela história completa deles, poderá ler esta
obra de Katherine Anne Porter, Sacco e
Vanzetti: Um Erro Irreparável, ou assistir ao excelente filme: Saco e Vanzetti, filmado na Itália, em
1971, e dirigido por Giuliano Montaldo, com interpretação de Gian Maria Volunté
e Ricardo Cucciolla nos papéis-título; estes ganharam o prêmio de melhor
interpretação no Festival de Cannes. A canção título é interpretada por Joan
Baez. O filme esteve proibido no Brasil, por vários anos, pela censura da
Ditadura Militar.
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