quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

RICA GEO HISTÓRIA DO VALE DO AÇU - BRASIL COLONIAL

Por Eugênio Fonseca Pimentel, historiador, pesquisador, geólogo potiguar do Açu


.1 - HISTÓRICO DA REOCUPAÇÃO DO VALE DO AÇU – RN (1ª parte - Em andamento).

Os verdadeiros donos da terra

As glebas de terras que hoje compõem os municípios do Vale do Açu, no início da colonização do Brasil, eram habitadas por índios da tribo Janduís, nome derivado do grande chefe Janduí, que de um modo natural e por tradição, também, se estendeu à tribo.

Os índios Janduís eram nômades e pertenciam à grande nação dos Tapuias, também, chamada de Cariri. O nome Cariri ou Kiriri, segundo o etnógrafo Luis da Câmara Cascudo1, provinha de um apelido dado pelos indígenas da tribo Potiguar vizinha pertencente à grande nação Tupi e significava calado, silencioso e taciturno. Quando falavam, articulavam mal as palavras, sendo, por isso chamado de Gentios da Língua Travada ou genericamente de Bárbaros.

A palavra Tapuia segundo explica o jesuíta Simão de Vasconcelos1 no livro do pesquisador Abdias Moura2 não corresponde a uma designação dada a si próprio pelos índios refugiados no sertão. Trata-se de uma expressão pejorativa, a eles atribuída pelos que viviam no litoral e falavam a língua tupi. O historiador Varnhagen3 haveria de insistir na inexistência de uma nação tapuia. Escreve, todavia, que esta palavra quer dizer contrario e os indígenas a aplicavam até aos franceses, contrario dos nossos, chamando-lhes de tapuy-tinga, isto é tapuia branco.

O nome Janduí ou Nhandui quer dizer na língua tupi ema pequena. Corresponde a uma ave de pequeno porte, de pernas longas e corredeira, muito comum nos largos campos cheio de lagoas e olhos d’água do atual estado do Rio Grande do Norte.

Viviam na ribeira do Açu e outras regiões do interior do nordeste setentrional do Brasil, em plena harmonia com o meio ambiente, só retirando da natureza aquilo necessário para a sua sobrevivência. Alimentava-se da caça, da pesca e da coleta de frutos, raízes, ervas e mel silvestre. Cultivavam a lavoura de subsistência, onde plantavam principalmente o milho, o jerimum e a mandioca.

O grande chefe Janduí, segundo antigos cronistas europeus viveu nesta região por mais de cem anos. Ele, juntamente com seu irmão Caracará, e três de seus filhos, o Canindé, Oquenaçu, Taya Açu e o cruel Jerereca foram importantes ícones da civilização indígena brasileira, na época da colonização do Brasil e Guerra dos Bárbaros ou Guerra do Açu, de uma maneira não correta conhecida nacionalmente como Confederação dos Cariris.

O historiador potiguar Olavo de Medeiros Filho com base em relatos de cronistas flamengos, da região de Flandres, norte da Europa, discorda da concepção de que a tribo Janduís pertencia à nação Cariri. Defende que os índios tapuias Janduís pertenceram à nação dos Tairurús (Janduís e Aparentados) na qual habitavam principalmente as ribeiras do Açu e Mossoró. Advoga, inclusive que na Guerra dos Bárbaros ou Levante dos Gentios Tapuias, que na época recebeu por parte de escritores mais românticos, a denominação de Confederação dos Cariris, que os índios Cariris, em grande número, foram inclusive utilizados como combatentes, na repressão ao levante dos Gentios Tapuias, em que tinha predominância do elemento Tairurús, cuja tribo mais famosa e temida do Brasil colonial era a tribo dos Janduís.

Contudo, o que é de consenso entre os diversos historiadores da civilização indígena do Brasil, seja os mais antigos, seja os historiadores contemporâneos é que os índios da tribo Janduís habitavam o território em que hoje corresponde a bacia hidrográfica do rio Açu. Tal fato pode ser confirmado inclusive por experientes cientistas europeus que por aqui estiveram.

Jorge Marcgrave, famoso naturalista e astrônomo alemão, que veio ao Brasil em 1638 em missão científica a convite do conde holandês Mauricio de Nassau, com a colaboração de Guilherme Piso produziram a importante obra Historia Natural do Brasil, Amsterdã 1648, na qual teceu considerações importantes sobre os costumes e habitat dos Janduís. Confeccionou o mais antigo desenho da nossa carnaubeira, palmeira nativa, genuinamente brasileira e abundante nos municípios do Vale do Açu. Neste importante documento histórico e geográfico Marcgrave escreveu este aspecto curioso e interessante a respeito desta decente e histórica região brasileira:

“Este rio também chamado de Otshunogh, penetra, no continente , em direção ao Austro numa distância de mais de 100 milhas. A uma distancia de mais de vinte e cinco milhas do litoral, acha-se o grande lago Bajatagh, com grande quantidade de peixes. À esquerda deste, em direção ao nascente, acha-se outro chamado de Igtug, pelos indígenas, mas ninguém penetra nele, por causa dos peixes que mordem e são muito inimigos dos homem. A este fica adjacente ao vale Kuniangeya, tendo comprimento de 20 milhas e a largura de duas. Atravessa-o rio Otshunogh, abundante de peixes: aí se encontra grande abundancia de animais silvestre.”

Correlacionando com a geografia da região podemos concluir que o vale Kuniangeya mencionada pelo cronista flamengo corresponde ao atual Vale do Açu. O rio Otshunogh é o rio Açu ou Piranhas-Açu. O grande lago Bajatagh é a lagoa do Piató no município do Assu. O outro lago Igtu é a Lagoa Ponta Grande no município de Ipanguaçu no Rio Grande do Norte. Os peixes que mordem e são inimigos do homem é a espécie Piranha que com certeza influenciou na denominação do grande rio Piranhas ou Açu.

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Que eu seja eternamente eterno louco e nunca deixe de sonhar na vida. (João Lins Caldas, pensador potiguar).