Por João Lins Caldas (1888-1967), poeta potiguar
Velho ribeiro de águas cristalinas,
Velho ribeiro de águas cristalinas,
Que me viste cantar ao lado dela,
Cheio de gozo e de emoções divinas,
Que orvalhaste-lhe a face calma e bela,
Que banhaste-lhe as mãos tão pequeninas
Escutaste-lhes a jura tão singela;
Amado ribeiro bom de águas calmas,
Testemunha do idílio que gozamos
Unindo os corações e dando as almas;
Que nos viste a sombra destes ramos
Oscilando estas flores e estas palmas,
A quebrar estes garranchos que quebramos...
Não deves ignorar, nesta desgraça
De quem tanto mereceu-te em confiança
A grande dor que o coração me laça...
Pois, sabei que perdi toda esperança,
Que já difere o que entre mim se passa,
Que a minha amada outro caminho avança.
Que, bela como outrora, ou mais formosa,
Negou-me aquelas juras tão queridas
E que outro amor em outros braços goza...
Que eu, que trazia as ilusões compridas,
Trago a fronte pendida e desgostosa
Como um resto de morte para as vidas...
Ribeiro que és feliz e que não mudas,
Que me viste no tempo da ventura,
Se olhares minha amada - não te iludas,
Nesse dia, revendo a formosura
Dessa que foi tão falsa como Judas,
Não lhe lave da perfída a nódoa escura
Ribeiro que és feliz e que não mudas!
Assu, 1909
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