Carlos Drummond de Andrade
Certa vez, a italiana Daniela Marcheschi escreveu em um dos seus ensaios literários que o homem tem necessidade de não tornar inútil a História. Segundo a estudiosa, o homem sente uma abissal urgência de História, no sentido de uma plena consciência das dimensões históricas da cultura humana, porém não de maneira dogmática e consolatória. Imagine, caro leitor, quando a vontade de narrar a História parte de um escritor, um memorialista, então, História e Literatura juntam-se para tornar-se Memória, integrando-se à cultura. Daí só pode resultar algo positivo: arte, ciência e vida se interligam de modo muito forte.
Todos sabemos que a literatura, como arte, tem o poder de nos transportar no espaço e no tempo através da memória e da imaginação. Remetendo ao passado, nos permite pensar e repensar o homem, sua participação na comunidade, as tradições que se somam à nossa cultura, e mil coisas mais.
Focalizo o assunto Literatura & Memória, pois é justamente do que trata o novo livro do escritor Tarcísio Gurgel, “ Inventário do Possível”, publicado recentemente numa coedição da Sarau das Letras e EDUFRN. A obra não constitui propriamente uma autobiografia, mas, sim, uma narrativa de passagens no Tempo, com as vivências do autor e retratos de família, tudo registrado artisticamente. Do seu conjunto exsurge uma poderosa verdade sobre algo bem maior que a história individual do próprio autor. Trata-se, pois, de memórias de alto nível qualitativo, trazendo as nêmeses enterradas de volta à superfície, na escrita simples e sugestiva.
Passagens marcantes, como, por exemplo, o relato da vida em Areia Branca, a infância singela, a moradia modesta, os negócios do pai trabalhando com panificação, adquirem um relevo especial.
Aspectos da própria História de Mossoró, cidade onde a família do autor passou a residir, perpassam no livro, do começo ao fim. Leitores que viveram nos lugares descritos, no mesmo lapso do tempo, vão identificar, de imediato, vários locais, tipos e acontecimentos. Lembrei-me, em alguns momentos, de dois livros, que li recentemente sobre o lado humano de Mossoró, “Casa das Lâmpadas” e “Ombudsman Mossoroense”, de David de Medeiros Leite.
A nova obra de Tarcísio Gurgel vem para enriquecer a nossa cultura literária, sobretudo na área da memorialística, lado a lado com alguns bons livros, que temos, como, por exemplo ( cito de memória) : “ O Tempo e Eu “, de Câmara Cascudo ; “Província Submersa”, de Octacílio Alecrim; “ Memórias de um Retirante”, de Raimundo Nonato; “ Imagens do Ceará-Mirim”, de Nilo Pereira, “ O Caçador de Jandaíras”, de Manoel Onofre Jr.; “Saudade, Teu Nome é Menina”, de Maria Eugênia Montenegro e “Oiteiro”, de Magdalena Antunes.
Essas obras devem ser lidas e compreendidas, justamente, como modelos de super-vivência histórica e cultural, bem como sínteses da alma de determinadas comunidades.
Certa vez, a italiana Daniela Marcheschi escreveu em um dos seus ensaios literários que o homem tem necessidade de não tornar inútil a História. Segundo a estudiosa, o homem sente uma abissal urgência de História, no sentido de uma plena consciência das dimensões históricas da cultura humana, porém não de maneira dogmática e consolatória. Imagine, caro leitor, quando a vontade de narrar a História parte de um escritor, um memorialista, então, História e Literatura juntam-se para tornar-se Memória, integrando-se à cultura. Daí só pode resultar algo positivo: arte, ciência e vida se interligam de modo muito forte.
Todos sabemos que a literatura, como arte, tem o poder de nos transportar no espaço e no tempo através da memória e da imaginação. Remetendo ao passado, nos permite pensar e repensar o homem, sua participação na comunidade, as tradições que se somam à nossa cultura, e mil coisas mais.
Focalizo o assunto Literatura & Memória, pois é justamente do que trata o novo livro do escritor Tarcísio Gurgel, “ Inventário do Possível”, publicado recentemente numa coedição da Sarau das Letras e EDUFRN. A obra não constitui propriamente uma autobiografia, mas, sim, uma narrativa de passagens no Tempo, com as vivências do autor e retratos de família, tudo registrado artisticamente. Do seu conjunto exsurge uma poderosa verdade sobre algo bem maior que a história individual do próprio autor. Trata-se, pois, de memórias de alto nível qualitativo, trazendo as nêmeses enterradas de volta à superfície, na escrita simples e sugestiva.
Passagens marcantes, como, por exemplo, o relato da vida em Areia Branca, a infância singela, a moradia modesta, os negócios do pai trabalhando com panificação, adquirem um relevo especial.
Aspectos da própria História de Mossoró, cidade onde a família do autor passou a residir, perpassam no livro, do começo ao fim. Leitores que viveram nos lugares descritos, no mesmo lapso do tempo, vão identificar, de imediato, vários locais, tipos e acontecimentos. Lembrei-me, em alguns momentos, de dois livros, que li recentemente sobre o lado humano de Mossoró, “Casa das Lâmpadas” e “Ombudsman Mossoroense”, de David de Medeiros Leite.
A nova obra de Tarcísio Gurgel vem para enriquecer a nossa cultura literária, sobretudo na área da memorialística, lado a lado com alguns bons livros, que temos, como, por exemplo ( cito de memória) : “ O Tempo e Eu “, de Câmara Cascudo ; “Província Submersa”, de Octacílio Alecrim; “ Memórias de um Retirante”, de Raimundo Nonato; “ Imagens do Ceará-Mirim”, de Nilo Pereira, “ O Caçador de Jandaíras”, de Manoel Onofre Jr.; “Saudade, Teu Nome é Menina”, de Maria Eugênia Montenegro e “Oiteiro”, de Magdalena Antunes.
Essas obras devem ser lidas e compreendidas, justamente, como modelos de super-vivência histórica e cultural, bem como sínteses da alma de determinadas comunidades.
Memória – todos sabemos- é a capacidade humana de reter fatos e experiências do passado e retransmiti-los às novas gerações através de diferentes suportes. Existe uma memória pessoal, aquela, obviamente, guardada por um indivíduo, no que tange às suas próprias vivências, mas que contém também um tanto de memória do grupo social em que ele se formou e, por assim dizer, foi socializado.
Já disse o pesquisador e ensaísta Jacques Le Goff: “Memória é um elemento essencial do que se costuma chamar de identidade individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades (…)”. Por conseguinte a memória cultural seria a capacidade que nos permite construir uma imagem narrativa do passado e, através desse processo, desenvolver uma imagem e uma identidade de nós mesmos. Como acontece na obra de Tarcísio Gurgel, em foco.
Evidentemente que todos nós, que somos ligados às letras, sabemos da importância de contar histórias e reviver o passado. De fato, os textos memorialísticos atendem a um tipo especifico de necessidade: a necessidade de consciência cultural: Pesquisadores que se dedicam a compreender a literatura como memória cultural realçam a ligação que se estabelece entre o ontem e o hoje, modelando e atualizando de forma contínua as experiências e as imagens de um passado no presente. Os textos literários memorialísticos podem, dessa maneira, funcionar como forma privilegiada de construção social.
Através do livro “Inventário do Possível”, a literatura potiguar contribui com a memória cultural, porque se constitui em um meio de transmissão e preservação de pensamentos, sentimentos e condutas, temas motivos e histórias, e influencia memórias e percepções individuais, assim como a formação de identidades sociais e culturais. Essa literatura vive atualmente uma das suas melhores fases, fiel ao que há de mais profundamente humano, que é a inquietação. Sirva de exemplo esse livro de Tarcísio Gurgel.
*Thiago Gonzaga é pesquisador.
Postado por 101 Livros do RN.
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