SYLVIA COLOMBO
Apenas 12 dias haviam se passado desde o golpe militar que dera início à ditadura chilena (1973-90) quando o poeta Pablo Neruda morreu, aos 69 anos, na clínica Santa María, em Santiago.
Padecendo de um câncer de próstata, o autor de "Canto Geral" e "Para Nascer Nasci" (ambos publicados no Brasil pela Bertrand Brasil) vinha se tratando, e seu médico pessoal havia-lhe dito que era improvável que a doença o matasse em menos de cinco anos.
A derrubada do governo do socialista Salvador Allende por Augusto Pinochet, no entanto, deprimiu profundamente o prêmio Nobel de Literatura, e seu estado de saúde se agravou. Ele morreu em 23 de setembro daquele ano.
Até hoje, a explicação oficial sobre o fim do poeta era esta, mas dúvidas existiram desde o primeiro momento.
AFP | ||
Pablo Neruda em foto de 1971, tirada em Paris |
Para a viúva do poeta, Matilde Urrutia, que encontrou a casa revirada após o funeral, Neruda poderia ter sido morto, de alguma maneira, no hospital. A falta de provas, porém, motivou um silêncio de décadas, rompido apenas em 2011.
Naquele ano, o ex-motorista da família, Manuel Araya, afirmou que Neruda estava em bom estado de saúde quando foi levado à clínica e que, no dia de sua morte, havia-lhe telefonado e dito: "Deram-me uma injeção e estou queimando por dentro". Em 2013, iniciou-se uma investigação que levou à exumação do corpo do poeta.
Na semana passada, um documento oficial do Ministério do Interior do governo do Chile e uma biografia lançada na Espanha trouxeram novas evidências que apontam para a possibilidade de Neruda ter sido assassinado.
"Deram-lhe uma injeção, cujo conteúdo ainda se estuda, mas que pode ter precipitado sua morte, que ocorreu apenas algumas horas após a aplicação", conta à Folha o historiador Mario Amorós, que já havia escrito um livro defendendo a tese de assassinato —"Sombras sobre Isla Negra", de 2012— e que agora lança a biografia "Neruda - El Príncipe de los Poetas" (Edicciones B).
Essa injeção, que na época se dizia que continha um tipo de calmante, agora é o alvo de estudo dos legistas.
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