sábado, 9 de abril de 2016

UM POUCO DA LÍRICA ANGELINA MACEDO

Angelina Macedo, poeta do Assu, ainda muito pouco lembrada. Angelina era de família aristocrática, originária da cidade do Porto, Portugal, de temperamento sentimental, casou-se em 1896. "O lirismo de Angelina também está marcado pela melancolia, pela religiosidade e por acentuados elementos românticos e simbolistas", depõe o antologista Ezequiel Fonseca Filho. E vai mais adiante aquele antologista ao dizer, no seu livro intitulado “Poetas e boêmios do Açu”, 1984, que Angelina não encontrando a realização dos seus sonhos de adolescente”, escreveu na sua desilusão, o soneto que, penso eu, pare com a forma de poetar de Florbela Spanca (uma das maiores vozes da poesia lusitana do século XX). Senão vejamos:

Sonhei que era feliz e que era amada,
Que ao lado de meus pais tranquilamente,
Passava minha vida sorridente,
Sem nunca pela dor ser perturbada.

Nessa doce ilusão, sendo embalada,
Áureos castelos levantei na mente
E por linda visão aurifulgente,
Era ao céu de fantasia arrebatada.

Porém ao despertar do grato sonho,
Ao ver o meu presente tão tristonho,
Tão negro como fora o meu passado.

Quisera viver sempre adormecida,
Do mundo e de todos esquecida,
Ou ao menos, meu Deus, não ter sonhado!

Ezequiel ainda depõe que Angelina, solitária, acometida por uma doença incurável, sentindo a morte chegar escreveu o soneto intitulado 'Resignação', que diz assim:

Bendita seja a mão, que o golpe envia
Sobre a minha cabeça tão cansada;
Que me adverte ao fim desta jornada, e um dia
Na floresta da vida, erma e sombria.

Àqueles que disseram: Volto ao Nada,
A que triste, viveu somente um dia,
Eu direi: Enganai-vos! A alegria
Espera-me no Além, na Pátria amada.

Não criminem a morte, que me leva
Ao ver estrela que no azul cintila...
A luz, que vem do céu, não chamem treva!

Pouco a pouco, a matéria se aniquila,
Mas a alma imortal aos céus se eleva...
Que venha, pois, a morte - estou tranquila.


Fernando Caldas

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