quinta-feira, 19 de maio de 2016

POESIA ASSUENSE

ANTÔNIO DAS ALMAS
 
Diogo coruja preta 
O preto Antônio das Almas 
Era um negro de alma branca 
Tão branca de encandear 
Se um doente visitasse 
Esse tinha que enterrar 
Não que fosse agoureiro 
Era demais prestativo 
Por seus modos impositivos 
Sofreu injurias aviltar. 

Sujo, bruto, solitário. 
A vida todo viveu 
Morava no cemitério 
O pior trabalho era o seu 
Onde todos se negavam 
Ele alegre executava 
Podia ser que fosse 
O cheiro da podridão 
Não lhe chamava atenção 
Executava com gosto. 

Era metido a artista 
Quando estava sem dinheiro 
Pra tomar uma de graça 
Lambia o ferro em braseiro 
Rapadura ele quebrava 
Na testa ou no cotovelo 
No ferro a língua chiava 
Seus pulmões eram inteiros 
Sua testa era de ferro 
De aço o seu cotovelo. 

Coitado! Quanto sofreu 
As dores atrozes da vida 
Fazia favor a todos 
Ninguém lhe dava guarida 
Ao contrario lhe enxotavam 
Ninguém do preto gostava 
Talvez por seu cheiro ruim 
Ou por seu modo brutal 
Sua força descomunal 
Mas o negro era bom, não era ruim.

Autor: Francisco de Assis Medeiros
Desenho: Ivan Pinheiro. 

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