domingo, 19 de junho de 2016

ASSU – TERRA DOS POETAS


Por *Ivan Pinheiro Bezerra

“Em tempos que já vão distantes, o Assu primou pelo amor às letras e pela sua dedicação às artes. Seu povo tinha em alta conta o desenvolvimento da inteligência e o apogeu da cultura. A sensibilidade era a sua constância.


         Dotados de um acentuado senso artístico, os seus filhos alinhavam os seus propósitos e as suas tendências no sentido do aperfeiçoamento e do evoluir cultural. Enamorados do belo tinham a percepção do seu encantamento, do seu êxtase e do seu predomínio na estrutura espiritual.


Tamanha era essa desenvoltura, esse apego, esse apaixonamento, que, em última análise, se poderia pensar serem esses atributos um sentimentalismo congênito ou então seria uma predestinação atávica ou uma determinação biológica. A espontaneidade das revelações no domínio das belas artes surpreendia.


A disputa na conquista de uma escalada maior no aprimoramento do espírito, como que despertavam as energias telúricas, os entendimentos nativos, convergindo as idéias para o ponto centralizador que outro não era senão a ganância do saber.


Havia, nessas épocas que já descambam para o esquecimento, uma sintonização mental criando uma mentalidade propiciatória aos elevados empreendimentos sociais e recreativos: velhos e moços se aglutinavam, se harmonizavam e se entendiam na promoção de tertúlias literárias destinadas a acelerar, a desenvolver e a intelectualizar o meio ambiente.


Daí em nossa terra, ter tido a Imprensa, o teatro e a Poesia o seu habitat e a sua soberania. O povo assuense, na exuberância dos seus ardores poéticos e jornalísticos, nos seus arrebatamentos imaginários, elevou e engrandeceu a gleba que lhe serviu de berço.


Há na geração nova um fenômeno assustador. É o alheamento ao passado. É tão acentuado, que difícil se torna ao pesquisador concatenar acontecimentos, às vezes não muito remotos, se tiver que confiar na veracidade dos depoimentos. Acreditamos que não por mistificações. Porém, por desapego, desinteresse às cousas do passado”.


Este relato, em fragmentos, foi retirado da apresentação do livro História do Teatro no Assu, de autoria do historiador assuense Francisco Amorim, publicado no ano de 1972

É bom que se diga que o município do Assu, desde o ano de 1922, que blasona e tenta sustentar dois epítetos culturais difíceis de serem mantidos, que são: “Assu - Terra dos Poetas” e “Assu – A Atenas Norte Rio Grandense”.

O Assu recebeu estes dois apelidos em pleno ano de efervescência na cultural brasileira (1922), momento em que surgia o movimento modernista culminando com a I Bienal de São Paulo.

A juventude da época foi tocada, como por encanto por uma onda de ânimo artístico cultural, proporcionando um refino na cultura até hoje inquestionável, no que concerne a sua contribuição para o alento cultural brasileiro.


Pois bem, neste ano, o poeta, cronista e dramaturgo Ezequiel Wanderley pesquisou, planejou e publicou uma obra que mereceu integral apoio de intelectuais e governo. Publicou o livroPOETAS DO RIO GRANDE DO NORTE com 108 poetas nascidos em território Potiguar. Reuniu poetas líricos, simbolistas, clássicos, naturalistas, parnasianos, decadistas, satíricos e humoristas.

Destes 108 poetas, 29 eram assuenses sendo que, 12 destes assuenses, faziam parte da Academia Norteriograndense de Letras.


A partir desta realidade e levando em consideração o tradicional destaque do povo assuense na literatura, poesia, música, teatro e, sobretudo na imprensa escrita, contribuindo de forma decisiva na vida cultural do Estado, o Assu foi comparado, em nível de Rio Grande do Norte, com a capital Atenas - berço de intelectuais da antiga Grécia.


Depois deste, vieram outros livros: Panorama da Poesia Norte-Rio-Grandense, de Rômulo Chaves Wanderley, publicado em 1965; A Poesia e o Poema do Rio grande do Norte, de Moacyr Cirne, publicado em 1979; Novos Poetas no Rio Grande do Norte, organizado pelo Núcleo de Literatura da Fundação José Augusto, entre outros.

Em todas estas coletâneas os poetas assuenses detiveram significativos percentuais, mostrando que o tempo não tinha apagado a verve literária da Terra dos Poetas.


Em 1984 o assuense Ezequiel Fonseca Filho publicou o livro “Poetas e Boêmios do Assu” onde selecionou 36 poetas assuenses, considerados por ele, os melhores de todos os tempos.

Diversas outras obras, reunindo poetas do Assu, foram publicadas. Entre estas destacamos: Vertente Poética – publicado em 1985; Antologia Poética – 500 Anos – publicado no ano de 2000, em homenagem aos 500 anos do Brasil onde o poeta assuense, Fernando de Sá Leitão, representou o Assu em nível nacional e o livro Vertentes – Reunião com 25 poetas assuenses contemporâneos – publicado no ano de 2002 pela Coleção Assuense - criada pela Prefeitura Municipal do Assu e que até o ano de 2008, tinha lançado 14 livros.


Muitas outras obras individuais foram publicadas, algumas bancadas pelos próprios poetas. Podemos citar um deles como exemplo: o poeta Francisco Diassis (Diá da Cerâmica) que sempre publicou seus trabalhos sem parcerias.


O importante de tudo isso é que Assu conta com muitos adeptos da arte de escrever em versos. Poderemos até arriscar que dificilmente perderá o epíteto de “Terra dos Poetas”.

No entanto, haveremos de reconhecer que a produção nos últimos anos tem sido ínfima. Há de se admitir que o Assu possua muitos produtores culturais, inclusive no anonimato e, no que se refere à poesia, poderia contar com um número de poetas e poetisas bem maior, se, efetivamente, existisse incentivo.          


Resta a esperança de que cada artista possa valorizar o que faz. Ser poeta, por exemplo, não é para qualquer um. Rimar São João com balão não significa que essa pessoa seja necessariamente um poeta ou um exímio conhecedor de rima e métrica. Para ser poeta é preciso inspiração, saber transmitir em versos este dom divino ofertado por Deus. Diga-se de passagem, de singular raridade. Ser poeta é fazer com que as pessoas viagem e vejam, através dos versos, o infinito do seu pensamento. Para a inspiração de um poeta o céu é o limite.

É tempo de revermos nossos valores. As expressões artísticas dos assuenses como estão? É chegado o momento de valorizarmos os epítetos culturais. O Assu precisa continuar sendo a Terra dos Verdes Carnaubais; A Terra dos Poetas e a Atenas Norte-rio-grandense. Vamos à luta!


*Presidente da Academia Assuense de Letras

Nenhum comentário:

MANOEL CALIXTO CHEIO DE GRAÇA E quem não se lembra de Manoel Calixto Dantas também chamado de "Manoel do Lanche?" Era um dos nosso...