De Brasília
Réu em dois processos na Operação Lava Jato, com um pedido de prisão
ainda para ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e lutando para
salvar o seu mandato, o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
foi recebido neste domingo (26) pelo presidente em exercício, Michel Temer.
Segundo interlocutores de Temer, que confirmaram o encontro, o
presidente em exercício abriu as portas do Palácio do Jaburu para os dois
fazerem "uma avaliação do quadro político atual". A reunião, segundo
fontes ligadas a Temer, teria sido uma iniciativa de Cunha, que telefonou para
o presidente em exercício pedindo a conversa reservada.
Procurado, Cunha negou o encontro. "Não estive com ele ontem. Eu
não confirmo." Apesar da negativa, o presidente afastado da Câmara disse
que "era normal" o encontro e que o fazia "com
regularidade".
Além das implicações de Cunha na Lava Jato e suas possíveis
consequências para o governo Temer, o Planalto também se preocupa com a
sucessão na presidência da Câmara dos Deputados. O governo teme que um racha
entre os aliados para a disputa prejudique a governabilidade na Casa e
atrapalhe votações de seu interesse. Nos dois casos, entretanto, até agora o
esforço de Temer era adotar um discurso de que o assunto é do Legislativo e não
pode sofrer interferência do Executivo.
Interesse
O governo, porém, tem todo o interesse que o escolhido seja alinhado com
o Planalto, para facilitar o andamento das propostas, embora tanto a Câmara
quanto o Senado tenham aprovado todos os projetos até agora.
Em entrevista na sexta-feira passada, Temer disse que Cunha não o
atrapalhava em "absolutamente nada" e que era "claro" que
os dois conversavam. "Aqui no Brasil há esse preconceito. Acha que não se
pode falar com ninguém", disse o presidente em exercício.
Temer e Cunha já se encontraram pelo menos três vezes desde que ele
assumiu a Presidência interinamente, no dia 12 de maio. No encontro mais
recente, a sucessão na Câmara entrou na pauta. Temer tem pressa em uma solução
na Casa, embora, oficialmente, o discurso seja de distanciamento.
Surpresa
O presidente em exercício se surpreendeu com o número de candidatos à
presidência da Câmara. Cunha está afastado do mandato como deputado e
consequentemente da presidência da Câmara desde o início de maio.
Apesar de trabalhar para evitar a cassação de seu mandato e até mesmo se
manter à frente do comando dos trabalhos dos deputados, diante da iminência
crescente de sua saída definitiva, Cunha tem trabalhado intensamente para
influenciar diretamente na escolha de seu sucessor na função.
Caso o peemedebista saia do cargo, pela legislação, uma nova
eleição precisará ser convocada para um "mandato tampão", até que, em
fevereiro do ano que vem, um novo deputado seja eleito para um novo mandato de
dois anos. As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo.
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