Mas não precisa imaginar. Aconteceu com Anthony Garotinho, um pastor evangélico, envolvido historicamente em episódios políticos absurdos, como também em repressão a minorias. Foi uma pessoa que durante seu mandato se aproveitou enormemente do aparato policial e que caso fosse espectador de uma cena dessa envolvendo algum adversário seu, não duvido que comemoraria.
O ex-governador foi arrastado de maca, aos berros, para a prisão para a felicidade das câmeras estrategicamente colocadas para focar no melhor ângulo. Seu corpo foi servido à espetacularização da justiça e sua imagem está estampada em memes, notícias e comemorações pela internet.
Por ser impopular, tende-se a entender a prisão dele como merecida. O gozo de muitas pessoas absortas no prazer em ver a desgraça alheia seria justificável tendo em vista a figura política.
Não. Mil vezes não.
Justamente na prisão de “inimigos”, a humanidade é testada. Se não reconhecemos a dignidade em pessoas que não gozam de nossa empatia, por que raios esperaremos tratamento diferente quando formos nós mesmos os arrastados?
A prisão de Garotinho acontece em um contexto de banalização de prisões preventivas, no uso da mídia pelo aparato policial, acusatório e judicial para trucidar o direito de defesa e inviabilizar a recuperação do indivíduo. Se fosse com o Lula, mídias progressistas estariam em choque com a violação ao Estado de Direito. Já as tradicionais não suportariam a cena de José Serra arrastado aos urros. Nada deveria mudar quando a figura política é um Anthony Garotinho.
Como se não bastasse, Garotinho não está condenado juridicamente a nada. Presunção de inocência deve contar algo em um país que se diz uma Democracia. Pena que ela está tão em baixa.
Brenno Tardelli é diretor de redação do Justificando.
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