terça-feira, 1 de agosto de 2017

CALDAS, UM GRANDE POETA BRASILEIRO

 Por Fernando Caldas

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No dia 1º de agosto de 1888, há exatamente 129 anos, nascia em Goianinha, região agreste ao sul do litoral do Rio Grande do Norte, o menino que veio a se chamar João Lins Caldas. Seu pai também chamado João Lins Caldas explorava a agricultura em terra goianinhense, bem como chegou a ser nomeado interinamente Promotor Público da Comarca daquele importante município, e sua mãe Josefa Leopoldina Lins Caldas natural de Goianinha era de tradicional família (Torres Galvão).

Caldas viveu o sudeste do Brasil (Rio de Janeiro e Bauru-SP) entre 1912 a 1933, convivendo com grandes vultos das letras nacionais como, por exemplo, José Geraldo Vieira, considerado um dos precursores do romance moderno brasileiro.

Autor compulsivo, sem ter conseguido publicar-se, retorna em 1933 a cidade de Assu-RN, terra dos seus ancestrais paternos, onde antes teria vivido parte da sua infância e começo da juventude, para viver parte da sua vida adulta e morar com sua mãe e depois sozinho até morrer numa manhã de 19 de maio de 1967.

Em 1936, já estando em terra assuense é surpreendido por José Geraldo que o colocou como personagem principal, na segunda fase do seu romance urbano intitulado Território Humano, encarnado no personagem 'Cássio Murtinho'.

Outro fato importante que engrandece a sua trajetória ocorreu, salvo engano, na década de quarenta, pois o célebre poema de sua autoria sob o titulo “Minha dor na grande guerra” teria sido irradiado pela rádio britânica BBC, um feito que orgulhou o poeta e a terra potiguar.

Por fim, sobre o referenciado poema, depõe o poeta norte-rio-grandense João Celso Neto conforme transcrito adiante:

“Sempre soube que um de seus poemas fora lido na BBC de Londres, “A minha dor na grande guerra”. É causa de admiração constatar que aquele poeta, nos rincões perdidos do Nordeste, demonstrava sua cultura, como dizer que maior que a dor pela segunda grande guerra era a que sentia pelo fim que levara Chénier, guilhotinado pelos que ajudara a fazer a Revolução Francesa.”

Vejamos, para o nosso deleite, o referenciado poema:

“A minha não é, na grande guerra, a dor de todo o sangue que foi derramado.
Nem a das casas desmoronadas,
Nem a dos barcos perdidos
Nem dos bois, os campos talados,
Nem a do trigo,
Nem a dos ferros em sacrifícios sacrificados,
Cruzes ao chão, os cemitérios estilhaçados.
Nada, não.
A minha dor nas dores da grande guerra, não é,
na verdade, a dor de todo o sangue que foi derramado,
Nem a dos inocentes que foram imolados,
Nem a das virgens que foram violadas,
Nem a dos velhos,
Nem a dos moços,
Nem a da fome pelos estômagos enfraquecidos e depauperados,
Nem a dos afundados no mar,
Nem a dos que, estilhaçados, ainda para
Se despedaçarem na terra,
Nem a de todos os filhos,
Nem a de todas as mães,
Nem a de todas as noivas nos seus anseios e nas suas saudades,
Nem a da irmã para o irmão,
Nem a do amigo para o amigo,
Nada, não.
A minha dor nas dores da grande guerra, não é,
Verdadeiramente, a dor de todo o sangue que foi derramado.
Nem na sede, a das ressequidas gargantas cheias de febre,
Nem a do frio, sob as trincheiras,
Os homens para se verem tiritantes e desabrigados...
Nada, não.
Chénier decapitado pela maldade dos homens,
Pela inconsciência da maldade dos homens,
Pela inveja, no desvario todo de toda sua maldade,
E a ignomínia de sua avareza,
E a sua pobreza toda de espiritualidade,
Nada em nada da menor grandeza;
A minha dor nas dores da grande guerra é a
Dor dos cérebros que foram trucidados,
Dos Chénier que nada deram e que tudo sentiram para dar,
Daqueles que sentiam o mar,
Daqueles que sentiam a terra,
E que sentiam o céu, o céu para todo deles se desdobrar,
O céu que era neles tudo de todas as estrelas,
E que deles para se refletir como as estrelas se refletem para o mar.”

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