quinta-feira, 8 de março de 2018

Novo Jesus da Paixão de Cristo chora por cancelamento da peça: 'Lamentável'

Tradicional espetáculo gratuito foi realizado durante 21 anos, no Marco Zero


Hemerson passou por uma seleção entre vários atores. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP
Hemerson passou por uma seleção entre vários atores. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP


A semana santa da capital pernambucana vai sofrer com uma lacuna importante em 2018. A Paixão de Cristo do Recife, maior evento público e gratuito do período, foi cancelada após 21 anos ininterruptos por conta de problemas com captação de recursos e pelo pouco tempo para recuperar o figurino e o cenário. A edição deste ano estava cercada de expectativa por ser a primeira vez na qual o ator, diretor e produtor José Pimentel cederia o papel de Jesus Cristo - que interpretou por 40 anos - a  Hemerson Moura. Mesmo com esse revés, a intenção dos realizadores é fazer o evento retornar em 2019.


De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe) e um dos produtores do espetáculo, Paulo de Castro, a decisão foi tomada na quinta-feira passada. "O orçamento mínimo para realizar a Paixão de Cristo do Recife é de R$ 700 mil. Mesmo tendo R$ 250 mil da Prefeitura do Recife e R$ 150 mil do Governo do Estado, não conseguimos os R$ 300 mil restantes com a iniciativa privada. Agora, mesmo se conseguíssemos o dinheiro restante, não teríamos tempo de levantar a peça".

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A dificuldade crescente em manter o espetáculo já o havia colocado em xeque em anos anteriores. No ano passado, por exemplo, a peça estava para não acontecer e foi anunciada quase de última hora. Em 2018, a situação finalmente se tornou insustentável. "Tínhamos a consciência da necessidade de mudar o cenários e os figurinos, os mesmos desde o início, em 1997. Para completar, o material de cena, guardado em um armazém em Peixinhos, foi destruído por cupins. Só a mesa da Santa Ceia se salvou. Além disso, com a saída de Pimentel do papel de Cristo, houve várias mudanças no elenco. Precisávamos fazer uma nova trilha e isso não estava no nosso custo".

José Pimentel, por sua vez, está esperançoso com o retorno da montagem no próximo ano. "Eu estou bem, a vida continua. Este ano, vou ver a paixão de Cristo dos outros. Não quero ficar parado de jeito nenhum. Em julho, vou dirigir o espetáculo O massacre de Angico: A morte de Lampião e esperar outras propostas. Não tive culpa nesse cancelamento. Me disseram que estou velho para fazer o papel e achavam que bastava mudar o Cristo para o povo prestigiar, mas não foi assim. Você tem que ser um bom ator e acabou. Pretendo voltar em 2019, talvez não como Jesus Cristo, mas como outro personagem".

Pimentel não escondeu sua contrariedade no anúncio, em dezembro passado, do ator que o substituiria como personagem principal. Os ensaios para a edição deste ano começaram em janeiro, mas segundo o veterano, as arestas foram aparadas. "Hemerson estava praticamente pronto para fazer o Cristo. Para mim era difícil, pois vinha a minha marca na cabeça. Estávamos ensaiando apenas a voz, mas o processo estava tranquilo. Dei plena liberdade a ele como diretor".

Já Hemerson Moura, de 39 anos, vencedor da seleção para ser o novo protagonista da Paixão de Cristo do Recife, afirma que a situação já era esperada e se emociona ao falar da sua relação com a peça. Na Semana Santa, ele voltará a participar do Auto da Via Dolorosa, montagem musical realizada em igrejas do Estado pelo Coletivo Ditirambos, do qual ele faz parte. "É lamentável, pois quem perdeu foi a população. Havia um público fiel para a montagem, ela gerava empregos, reunia famílias. É uma tradição que se rompe", disse ele, durante ligação telefônica na qual chorou. Mesmo frustrado com a não realização do espetáculo neste ano, Hemerson diz ter ganho mais visibilidade como ator e aproveitado a oportunidade de conviver com Pimentel. "Ele é um artista de extrema gentileza, sempre foi generoso comigo. Se depender de mim, certamente estaremos no Marco Zero no ano que vem".

HISTÓRICO
Paixão de Cristo do Recife teve sua primeira edição em 1997, imediatamente após José Pimentel sair da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, na qual intepretou o protagonista por 19 anos. Em seus primeiros cinco anos, a peça foi montada no Estádio do Arruda. Depois, passou para o Marco Zero, de onde só saiu no ano de 2006, quando foi encenada em frente ao Forte do Brum. Em sua última edição, contou com cerca de cem atores e quase 300 figurantes. De acordo com Paulo de Castro, mais de 18, milhão de pessoas viram a produção ao longo de sua existência.

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