AÇU POR JOÃO CELSO
NETO
Perpétua de Babal (ou seria Babau, com u, que se escrevia o
apelido de Aderbal seu pai?) trouxe suas memórias da terra natal. Outros também
o fizeram como outros que ali moraram ou a adotaram para sempre.
De mim, Açu (assim consta de meu registro civil) esteve
presente em esparsos poemas, um dos quais um soneto falando do “cadavérico
caminho do cemitério de minha terra” onde, aos 18 anos, imaginei que para lá
iriam me levar quando um dia enfim eu morresse (“Versos Íntimos”, 1966, p. 22).
Ainda naquelas incultas produções falei (p. 7) que queria
gritar que ela era “- em todo o Universo – a terra do verso, da glosa, da
quadra, soneto e poema, do vate maturo que ama e venera“.
Açu é para mim, sobretudo, o resultado das lembranças
indeléveis dos meus primeiros 4 anos de vida, enquanto morava lá, e das férias
que raramente deixaram de ser ali gozadas até quase 15 anos. Aos 4 e meio
(junho de 1949), mudamos-nos para Natal e aos 15 (1960) para o Rio de Janeiro.
Depois desta mudança para tão longe, passei duas férias em 1963, as de verão
até depois do carnaval de 1964.
A cidade foi ainda ponto de passagem a que eu me obrigava de
1970 a 1971, tempo em que, morando em Recife, participei da implantação e
aceitação do sistema de micro-ondas da Embratel (fabricante: GTE) entre Recife
e Fortaleza. Havia uma estação repetidora logo depois da saída do Açu em
direção a Mossoró, no Sítio Palheiros, bem à beira da estrada.
E voltei de passagem, voltando de Fortaleza por terra com a
família. Além dessa oportunidade, passei
uma semana lá em 1986, para as comemorações dos cem anos do nascimento de meu
avô, e em 1999, para receber uma comenda que ressaltava minha atividade de Engenheiro
Eletricista (na verdade, eu me formara em Eletrônica) quando eu já deixara a Engenharia
e me tornara Advogado, seguindo a tradição da família.
O avô de quem herdei o nome foi um dos mais renomados Advogados
(provisionado) de lá, dando hoje o nome ao Fórum. Meu tio e padrinho Expedito
foi Adjunto de Promotor, ele também um provisionado com Banca no sobrado de
Sebastião Cabral, em cima da bodega de Chico Celestino (pai de Alberto e de uma
bruxinha que me encantou em certo carnaval), quase vizinho à casa onde nasci
(Praça Pedro Velho, 4) e tendo a casa de Renato Caldas entre uma e outro. Meu
pai também se graduou em Direto, pela então Faculdade de Direito de Alagoas, em
1956. E outro tio meu, Emílio (irmão de mamãe, de Expedito e de Celso da
Silveira), formou-se pela Faculdade Nacional de Direito - Rio de Janeiro – da
mesma Universidade do Brasil onde concluí meu curso de Engenharia (faz alguns
anos que o nome mudou para UFRJ). Minha filha caçula também tem inscrição na
OAB.
Certamente, meu querido Açu mudou demais ao longo do tempo.
Suas figuras populares na minha infância eram Manoel de Bobagem e Bonzinho, os
craques do Centro Esportivo Açuense eram Edson de Assis, Zé Pretinho e Pirrão,
além, lógico, dos poetas Renato e João Lins Caldas.
A rua mais badalada da cidade já era, com certeza, a Manoel
Montenegro, onde ele próprio morava, acho que vizinho a Vemvem Tavares e
pertinho do “Castelo” que fora de meu avô e onde, acredito, nasceram minha mãe
e todos os meus tios. No outro quarteirão e do mesmo lado da calçada ficavam as
casa de tio Lauro Leite, Eduardo Wanderley (avô de Perpétua) e, na esquina, a
casa de Dr. Pedro Amorim. Também tio Zequinhas Pinheiro ali construiu sua casa,
nos fundos do Banco do Brasil antes de ser transferido para a antiga casa de
Manoel Soares, avô de meus primos Netinho, Frederico, Domicito, Lauritinha,
Milton e Fátima. Deles, quantas recordações de nossa convivência no Camelo, a
fazenda da família que foi desapropriada por conta do Açude Mendobim no final
dos anos 60 (minha última ida foi em 1971, já então uma casa abandonada;
ficamos hospedados na outra fazenda, o Limoeiro).
Claro que o que ficou mais marcado foi o pessoal da família:
minha tia Maria Olímpia (irmã de papai) mais conhecida como Maroquinhas, suas
tias Lília, Lindu, Nila, Elita e Idália, os tios maternos que já citei Expedito
e Celso e aquele mundaréu de primos “legítimos” ou mais afastados, coisas de
uma cidade pequena. Até os primos deles se tornavam íntimos, como os de Mara filhos
de Clarice de Sá Leitão e dos filhos de tio Domício (irmão de Chico Soares) e
daquelas tias paternas de meu pai Oswaldnho, Enóe e Nadja Amorim; Salete e Dedé
Avelino; Socorro e Laurita Leite.
Ser do Açu era um fator que me aproximou pela vida a João
Batista França, Conrado Tavares, Geovane Lopes, Ivanice Abreu e vários outros
conterrâneos que só fui conhecer no Rio de Janeiro.
Sem falar nos filhos de tio Né Dantas (irmão de minha avó
materna) que fui conhecendo (eram dezenas...) na fazenda (Chico e Procópio) ou
fora de lá (Enedina, Maria Leocádia e Justina).
Açu, para mim, é bem mais que um retrato na
parede
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