quarta-feira, 31 de outubro de 2018



Olha que fazes mal dizendo-me as verdades
Contidas no papel que entre os meus dedos trago
Falas muito de amor, lembras muito de afago
Os beijos que me dão os cheiros da saudades

Outro que não sou eu, enlaçando-te agora,
Goza a vinha feliz ao teu amor buscado.
E tu, que foste minha, esquecida de outrora,
Beija-o com o mesmo ardor feliz e compensado.

Si eu pudesse sondar o que te vai senhora,
Quando, de lábio rubro e semblante acalmado,
Cravas no teu amor o teu olhar de aurora,
Talvez visse chorar teu coração magoado.

Não podes esquecer, mal grado o teu desejo;
As palavras que diz, mentirosa e pequena,
Essa boca que um dia a se cobrir de pejo.

João Lins Caldas
__________manuscritos, 1909

Nenhum comentário:

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...