sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

O Poder do Silêncio – Augusto Cury

Pensar antes de reagir é uma das ferramentas mais nobres do ser humano nas relações interpessoais.
Nos primeiros trinta segundos de tensão, cometemos os maiores erros de nossas vidas, falamos palavras e temos gestos diante das pessoas que amamos que jamais deveríamos expressar.
Nesse rápido intervalo de tempo, somos controlados pelas zonas de conflitos, impedindo o acesso de informações que nos subsidiariam a serenidade, a coerência intelectual, o raciocínio crítico.
Um médico pode ser muito paciente com as queixas de seus pacientes, mas muitíssimo impaciente com as reclamações de seus filhos.
Pensa antes de reagir diante de estranhos, mas não diante de quem ama.
Não sabe fazer a oração dos sábios, nos focos de tensão, o silêncio.
Se vivermos debaixo da ditadura da resposta, da necessidade compulsiva de reagir quando pressionados, cometeremos erros, alguns muito graves.
Só o silêncio preserva a sabedoria quando somos ameaçados, criticados, injustiçados.
Cada vez as pessoas estão perdendo o prazer de silenciar, de se interiorizar, refletir, meditar.
O dito popular de contar até dez antes de reagir é imaturo, não funciona.
O silêncio não é se aguentar para não explodir, o silêncio é o respeito pela própria inteligência.
Quem faz a oração dos sábios não é escravo do binômio do bateu-levou.
Quem bate no peito e diz que não leva desaforo pra casa, não pensa nas consequências de seus atos.
Quem se orgulha de vomitar para fora tudo que pensa, machuca quem mais deveria ser amado, não conhece a linguagem do auto controle.
Decepções fazem parte do cardápio das melhores relações.
Nesse cardápio precisamos do tempero do silêncio para preparar o molho da tolerância.
Para conviver com máquinas não precisamos de silêncio nem da tolerância, mas com seres humanos elas são fundamentais.
Ambos são frutos nobres da arte de pensar antes de reagir. Preserva a saúde psíquica, a consciência, a tranquilidade.
O silêncio e a tolerância são o vinho dos fortes, a reação impulsiva é a embriaguez dos fracos.
O silêncio e a tolerância são as armas de quem pensa, a reação instintiva é a arma de quem não pensa.
É muito melhor ser lento no pensar do que rápido em machucar, é preferível conviver com uma pessoa simples, sem cultura acadêmica, mas tolerante, do que com um ser humano de ilibada cultura saturada de radicalismo, egocentrismo, estrelismo.
Sabedoria e tolerância não se aprendem nos bancos de uma escola, mas no traçado da existência.
Ninguém é digno de maturidade se não usar suas incoerências para produzi-la.
Todo ser humano passa por turbulências na vida. Para alguns falta o pão na mesa; a outros a alegria na alma. Uns lutam para sobreviver, outros são ricos e abastados, mas mendigam o pão da tranquilidade e da felicidade.
Os milionários quiseram comprar a felicidade com seu dinheiro, os políticos quiseram conquistá-la com seu poder, as celebridades quiseram seduzi-la com sua fama, mas ela não se deixou achar.
Balbuciando aos ouvidos de todos, disse: “…Eu me escondo nas coisas simples e anônimas…”.
Todos fecham os seus olhos quando morrem, mas nem todos enxergam quando estão vivos
Augusto Cury, em “Código da Inteligência”

A paradisíaca aldeia portuguesa onde apenas vive uma pessoa

No extremo norte do país, por entre montanhas e vales, há uma aldeia onde apenas vive um resistente. Descubra Val de Poldros, a aldeia de um homem só.
  
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Vale de Poldros
Vale de Poldros

Percorrem-se uns largos quilómetros de estrada sem avistar qualquer povoação até se chegar a Val de Poldros, a 1200 metros de altitude, com uma vista imponente da serra da Peneda. Como anfitrião, temos Fernando Gonçalves, 48 anos, o único habitante da aldeia, que regressou à terra natal em 2004, depois de ter estado como emigrante em Andorra. “Era tanto o silêncio que parecia que fazia mal”, recorda. Ultrapassou o isolamento com a abertura de um restaurante que, actualmente, recebe clientes fiéis de paragens mais ou menos distantes, muitos deles de Espanha. “Fui aprendendo com eles o que deveria pôr na mesa”, conta. “Depende da época do ano e do que tenho à mão.”
Vale de Poldros
Vale de Poldros
Não há, por isso, pedidos à lista. Quem chega come o que foi preparado de antemão por Fernando, hoje um cozinheiro experiente e dedicado. Pode ser uma aveludada sopa de saramagos (uma planta silvestre), feijões afogados (misturados com arroz e massa), um novilho assado ou um valente costeletão de novilho. Pratos bem apurados, com matéria-prima de excelência, para comer de preferência ao calor da salamandra, que por estas bandas o vento frio sopra impiedoso, mesmo durante a primavera. As portas do restaurante Val de Poldros estão abertas durante todo o dia e o proprietário desdobra-se em atenções aos visitantes. À noite, só faz jantares por encomenda.
Vale de Poldros
Vale de Poldros
Da varanda desta casa de granito, tem-se um belo cenário daquela que ficou conhecida como a “aldeia dos hobbits”, dadas as semelhanças com o cenário verdejante do filme O Senhor dos Anéis. Este é um dos exemplos de brandas no Alto Minho (são cerca de dez), povoados de montanha apenas habitado durante os meses de verão, para aproveitar os viçosos pastos. Nos restantes, os habitantes desciam à inverneira Riba de Mouro, a sede da freguesia, uma transumância humana que hoje poucos praticam.
Vale de Poldros
Vale de Poldros
Como abrigo para o frio cortante de Val de Poldros, os pastores utilizavam as cardenhas, construções rudimentares de granito, com tecto baixo para preservar o calor, de que ainda ali existe um conjunto muito significativo (o maior da região) e possível de preservar. Se planear uma visita a este património (tema de colóquios internacionais arquitectura popular), saiba que a 13 de Junho Val de Poldros acolhe a romaria de Santo António, uma das mais genuínas do Alto Minho. Uma das casas do santuário será sorteada entre os romeiros, ficando assim à disposição do vencedor durante um ano. Quem sabe não fará companhia a Fernando?
Vale de Poldros
Vale de Poldros
Vale (ou Val) de Poldros — assim denominada porque na época de D. Dinis aqui se criavam os poldros [regionalismo para o mais comum: potros] para a guerra – é uma das “cerca de dez brandas existentes na região do Alto Minho e aquela que concentra o maior número de cardenhas em melhor estado de preservação. As brandas são aldeias de montanha, localizadas acima dos 900 metros de altitude, para onde se mudavam as populações no Verão (de Março a Outubro), saindo das inverneiras (aldeias “gémeas” localizadas nos vales, onde viviam resguardadas no Inverno) com o gado, alfaias agrícolas e, por vezes, até “toda a mobília”, numa deslocação migratória sazonal conhecida por transumância.
Vale de Poldros
Vale de Poldros
Ainda há quem faça este movimento, aproveitando as inúmeras nascentes que correm pelos vales até Maio, utilizadas nos “regueiros de milho” e para a plantação de centeio nos lameiros (socalcos), que vemos agora ainda postos de verde relvado delimitado por muros de pedra.
Vale de Poldros
Vale de Poldros
A fundação das cardenhas  terá ocorrido no século IX, embora não haja certezas quanto à época em que começaram a surgir no alto das serras estes pequenos e toscos abrigos de pastores — com um primeiro andar para habitação e o rés-do-chão para albergar os animais — e onde só falta a porta redonda de madeira para imaginarmos de lá sair Frodo ou o tio Bilbo Baggins e o seu poderoso anel. Também existem cardenhas noutras brandas, mas a maioria foi destruída pelos proprietários, que utilizaram as pedras para construir casas melhores. O abandono de Vale de Poldros pelos seus habitantes terá sido a principal causa de preservação das cardenhas nesta aldeia.
Vale de Poldros
Vale de Poldros
Na actualidade e à semelhança de muitas outras brandas, Vale de Poldros perdeu toda a economia que fazia dela um local indispensável à sobrevivência da população. As suas construções continuam a resistir aos tempos mas o seu passado perde-se entre a vegetação que cobre os seus edifícios. As alterações neste território começaram a surgir em meados do século XX d.C. devido a factores demográficos, culturais, económicos e políticos.
Vale de Poldros
Vale de Poldros
A grande mudança resulta da intervenção estatal nos baldios, à qual se seguiu um grande fluxo migratório das populações locais, o êxodo rural que levou ao abandono do território e à desertificação, situação que ao longo dos anos agrava cada vez mais. A sociedade portuguesa, em geral, abandonou a prática da agricultura e estas alterações culturais interferiram no povoamento de montanha.
Vale de Poldros
Vale de Poldros
Foram criadas novas vias e meios de comunicação alterando as relações de distância entre lugares e levando ao abandono de antigas vias, substituídas por novos caminhos que rasgam a serra e alteram o modo de interacção com a paisagem. Todos estes factores levaram ao esquecimento destes aglomerados, que de certa forma começam aos poucos a ganhar uma nova vida, com a introdução do Turismo Rural neste território repleto de potencial natural e patrimonial.

A imagem pode conter: texto

“Você só vive uma vez, mas se viver direito, uma vez é suficiente.”

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Robinson diz que todos os ativos receberão 13° de 2017 até segunda

De acordo com governador, servidores inativos ficarão de fora do recebimento dos pagamentos do 13° de 2017 e de novembro e dificilmente será possível pagar o 13º deste ano antes do dia 31


José Aldenir / Agora RN
Governador Robinson Faria, durante inauguração nesta quinta-feira, 27
O governador Robinson Faria garantiu nesta quinta-feira, 27, durante a inauguração das obras do Museu da Rampa e Memorial do Aviador, que todos os servidores públicos da ativa receberão a íntegra dos salários de novembro até o final da sua gestão, que termina na segunda-feira, 31. Robinson também prometeu que os demais funcionários da ativa que ainda não receberam o décimo terceiro salário de 2017 receberão o abono ainda este ano.
De acordo com Robinson Faria, os servidores inativos ficarão de fora do recebimento dos pagamentos do 13° de 2017 e de novembro e dificilmente será possível pagar o 13º salário deste ano antes do dia 31 deste mês, quando ele termina o mandato. O compromisso ficará para o novo governo.
Ainda não receberam o 13° salário de 2017 e a folha de novembro todos os servidores – entre ativos, aposentados e pensionistas – que recebem acima de R$ 5 mil. Apenas quem ganha menos que isso e servidores de órgãos com arrecadação própria já tiveram os salários creditados.
Por causa do atraso, servidores da Polícia Civil paralisaram as atividades. Nesta quinta-feira, 27, a categoria rejeitou proposta do Governo para pagar o 13° salário de 2017 apenas para os ativos – oferta que foi reiterada por Robinson durante a inauguração do Museu da Rampa e Memorial do Aviador.
Também nesta quinta-feira, o Governo do Estado prometeu que vai depositar na sexta, 28, o abono do ano passado para todos os bombeiros e policiais militares (incluindo aposentados e pensionistas) que ainda não receberam. O pagamento é uma condição para que a categoria não cruze os braços. Eles ameaçam repetir a Operação Segurança com Segurança, deflagrada em 2017. Na oportunidade, os militares fizeram “aquartelados” e não saíram às ruas para fazer o policiamento.
TRANSIÇÃO

O governador afirmou também que não reconhece nenhum passivo na ordem da R$ 2,7 bilhões existente no Rio Grande do Norte. O valor foi divulgado pela equipe econômica que compõe a comissão de transição montada pela governadora eleita, Fátima Bezerra (PT). Os dados teriam sido obtidos junto a órgãos do governo atual.
http://agorarn.com.br
Tua ausência

Por Fabrício Neto, poeta natalense
A noite
aproxima-se
e com ela,
a tristeza
de está só.
Solidão.
No silêncio
da noite ,
procuro ir
ao teu encontro.
Meu pensamento,
viaja por
toda parte,
vasculha
toda a madrugada
e não te encontra.
De regresso,
sinto um vazio
em minh`alma.
No silêncio
da minha dor,
ela chora, chora
devagarinho,
a tua ausência.
Nessa angústia
louca,
sinto a tristeza,
a tristeza de continuar
sem você.
Continuo só.
Solidão.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Não és a flor olímpica e serena 
Que eu vejo em sonhos na amplidão distante; 
Não tens as formas ideais de Helena, 
As formas da beleza triunfante; 

Não és também a mística açucena, 
A alva e pura Beatriz do Dante; 
És a artista gentil, a flor morena 
Cheia de aroma casto e penetrante. 

Não sei que graça, que esplendor, que arpejo 
Eu sinto dentro d'alma quando vejo 
Teu corpo aéreo, matinal, franzino... 

Faz-me lembrar as vívidas napeias, 
E as formas vaporosas das sereias 
Rendilhadas num bronze florentino. 

(Guerra Junqueiro, em 'A Musa em Férias') 




Hoje é dia da lembrança.
O MEU NATAL DE ANTIGAMENTE
Nesse tempo que estamos nas festas natalinas, sinto que o Natal já não é o mesmo da nossa época. Tudo mudou, totalmente.
Confesso que fico triste, pois já não existe o espírito natalino, pois a realidade é a sociedade de consumo.
As famílias não se unem mais para pensar no amor de Jesus, na fraternidade, no caminho e na união entre as pessoas.
Até mesmo a crença no Papai Noel, que antigamente 'existia', e que as crianças sonhavam com o homem de barba, aquele velhinho que trazia o presente e que colocava embaixo da rede, já não existe mais.
O Natal era fé e festa. Após a missa, a meninada ia para o pátio do mercado comprar guloseimas, como cestinhas com confeito de rapadura, castanha, amendoim, pipoca de milho alho; além de alfenim, puxa-puxa, gelé de coco, refresco com pão doce, barba de papai noel e algo mais. Nessa época chegavam ao nosso torrão o parque Santa Terezinha e o Circo Mágico Nelson.
Depois, a brincadeira era na frente da nossa casa.
Eu brigava contra o sono para ver a chegada do bom velhinho, mas nunca consegui ficar acordado até meia-noite.
Sempre perdia quando Papai Noel passava pela minha casa e colocava no meu quarto um carrinho de madeira ou uma bola de plástico. As últimas que eu recebi lembro o nome: Canarinho e Dente de Leite.
Lembro bem da minha alegria ao acordar, quando olhava ao lado da rede e estava o presente daquele homem de barba branca tão querido pelas crianças. Minhas irmãs recebiam bonecas de plástico ou de pano.
A lua bela brilhava a minha rua e as crianças esbanjavam alegria e felicidade nessa noite querida.
Marcos Calaça, jornalista cultural e poeta matuto .

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O FIEL poema de GUERRA JUNQUEIRO na voz de JOAQUIM SUSTELO vídeo C.VASCO...

Senhor que fez Jacob e deu Jesus ao mundo, para quem tudo é força e toda força é nada...

João ins Caldas

Morena

Não negues, confessa 
Que tens certa pena 
Que as mais raparigas 
Te chamem morena. 

Pois eu não gostava, 
Parece-me a mim, 
De ver o teu rosto 
Da cor do jasmim. 

Eu não... mas enfim 
É fraca a razão, 
Pois pouco te importa 
Que eu goste ou que não. 

Mas olha as violetas 
Que, sendo umas pretas, 
O cheiro que têm! 
Vê lá que seria, 
Se Deus as fizesse 
Morenas também! 

Tu és a mais rara 
De todas as rosas; 
E as coisas mais raras 
São mais preciosas. 

Há rosas dobradas 
E há-as singelas; 
Mas são todas elas 
Azuis, amarelas, 
De cor de açucenas, 
De muita outra cor; 
Mas rosas morenas, 
Só tu, linda flor. 

E olha que foram 
Morenas e bem 
As moças mais lindas 
De Jerusalém. 
E a Virgem Maria 
Não sei... mas seria 
Morena também. 

Moreno era Cristo. 
Vê lá depois disto 
Se ainda tens pena 
Que as mais raparigas 
Te chamem morena! 

Guerra Junqueiro, Em 'A Musa em Férias' 
NO CALVÁRIO
Quando Jesus, o santo proletário,
Morria sob o cimo do Calvário,
Sendo o meigo Rabbi da Galileia,
Ele viu fulgir a sua ideia
Na derradeira gota derramada
Nos olhos da sentida maculada
De Madalena - a pecadora santa.
Ah! Consolo ideal de graça tanta!
O puro de alegria e de miséria
Via fulgindo n'a alma da matéria
A semente profunda e vencedora
Da deslumbrante vida redentora!
Então, lhe disse alguém, olhos cravados
Nos olhos de Jesus, quase apagados:
"Porque não fazes tu, Cordeiro Manso,
Com que, carne da dor e sem descanso,
Resplandeça o teu corpo sem feridas
Para, vendo o milagre, as outras vidas
Crerem melhor em ti, bom que procuras
Fazer de todas almas almas puras?"
- Mortal, Jesus lhe disse, hoje é preciso
Que, Matando no lábio a flor do riso,
O Deus tornado homem, o soberano
Caia na morte que padece o humano...
A culpa é grande, o sacrifício é forte...
A morte lava o temporal da Morte
E eu quero ver a humanidade salva!... -"
E erguendo a face, como um céu, bem alva,
Estirou-se na cruz, sem mais conforto,
Morto pelos maus, para ver morto
O pecado ferino que luzia
No coração do povo que o feria.
Branco Jesus da humanidade salva!
(João Lins Caldas)
Natal, 15´/4/1909

MARIA BETHANIA - POEMA DO MENINO JESUS - DE FERNANDO PESSOA


Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.

Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.

No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo a roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.

Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.

E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu. E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.

Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.

Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.

É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.

E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.

Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.

A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.

Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.

Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

.......................

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.

E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.

E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.

Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

.......................

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.

E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

.......................

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

                                      Fernando Pessoa

Quem foi Jesus?


Quem foi Jesus?


Quem foi o homem cujo nascimento hoje celebramos? Desde o século XIX, o estudo crítico do Novo Testamento e do primeiro cristianismo tem tentado reconstituir quem terá sido o «Jesus histórico». Em que ponto estamos desta investigação? Vou dar-vos uma proposta de biografia do Jesus real.
Jesus nasceu em Nazaré, no fase final do reinado de Herodes, o Grande (rei que morreu em 4 a.C.). Era filho de um construtor chamado José e da sua mulher, Maria. Era o mais velho de vários irmãos e irmãs. Em casa, falava-se aramaico; mas Jesus beneficiou do facto de Nazaré estar perto de cidades gregas, como Séforis, cuja distância de Nazaré corresponde à que medeia, na nossa cidade do Porto, entre o Estádio do Dragão e a rotunda da Boavista. Em toda a volta de Nazaré, falava-se grego. De Gádara, uma das dez cidades gregas da zona, era originário o maior poeta grego do século I a.C.,

Meleagro. A helénica Séforis tinha um teatro; e Jesus sabia o que era o conceito grego de «actor», pois usou a palavra grega «hipócrita» numa acepção sem qualquer equivalente no aramaico falado em casa ou no hebraico da Escritura.

Jesus recebeu uma educação judaica baseada nessa Escritura e foi certamente o rapaz intelectualmente sobredotado de que vemos reflexo em Lucas 2:47. As pessoas não lhe chamaram «mestre» à toa.

Nos anos 20 do século I, Jesus contactou com o movimento de João Baptista, que apelava aos israelitas que «mudassem de mentalidade» e que, por meio do baptismo no rio Jordão, obtivessem o cadastro limpo perante Deus que, oficialmente, só podia ser obtido por meio do sacrifício de animais no templo. João Baptista atraiu a má vontade da elite sacerdotal de Jerusalém; o mesmo aconteceria com Jesus.

Jesus tomou a decisão de ser baptizado por João; mas, depois de João ser preso, passou a ter uma actuação independente. A mensagem de Jesus, de que o «reino» divino estava próximo, era coincidente com a de João, mas Jesus sublinhou acima de tudo a tolerância e compadecimento divinos e a ideia de que nenhum de nós perdeu em definitivo a oportunidade de se «salvar». No cerne da mensagem de Jesus, sempre, o amor: «amai os vossos inimigos, fazei bem a quem vos odeia».

Com esta mensagem, Jesus levou uma vida de pregador peripatético na Palestina, falando sobretudo em pequenas localidades na parte norte do lago da Galileia. Escolheu como destinatários homens simples – pescadores, agricultores –, assim como pobres, doentes, e excluídos da sociedade, como prostitutas, etc. De forma talvez surpreendente para a época, não excluiu dos seus potenciais destinatários pessoas do sexo feminino, entre as quais temos de contar como a mais importante Maria de Magdala, conhecida como Maria Madalena (que não era uma prostituta – nada confirma essa ideia nos textos que nos chegaram).

A família de Jesus, nesta fase, achou que ele era um louco, embora mais tarde se tenha aproximado da sua mensagem; em especial, o seu irmão Tiago assumiu um papel relevante depois da sua morte (Tiago acabou por ser morto também).

A imagem de Deus que Jesus transmitiu deu vida nova a dois entendimentos antigos (e presentes na Escritura judaica): Deus como Rei e Deus como Pai. No entanto, «rei» foi somente um conceito implícito na boca de Jesus, já que o conceito que lhe interessou foi «reino».

Ao encantamento das suas palavras não era alheia a força poética das muitas parábolas que lhe são atribuídas. Para o encantamento da sua presença, muito contribuiu a sua fama de milagreiro carismático. Terá Jesus multiplicado pães, transformado água em vinho, caminhado sobre a água, curado doentes e expulsado «demónios»? Compreende-se que a força da sua personalidade tenha levado a que fossem projectados nele tais poderes.

Embora respeitando a Lei judaica, Jesus mostrou uma atitude bem liberal e tolerante relativamente a muitos aspectos dessa Lei. «O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado». Essa atitude valeu-lhe a má vontade da elite sacerdotal, que procurou entrar em discussão com ele e enredá-lo em contradições e blasfémias. A forma como Jesus atacou directamente o Templo como antro de materialismo, quando finalmente levou a sua mensagem para Jerusalém, determinou o seu fim.

Antes desse fim, ele estabeleceu – como substituição dos ritos sacrificiais judaicos no templo – um rito novo: uma refeição de amor fraterno, uma partilha de pão e de vinho, para ser continuamente feita em memória dele. Não quis morrer sem antes lavar os pés dos seus amigos mais íntimos. «Os últimos serão os primeiros».

No mundo romano, fazia parte do castigo atroz da crucificação os crucificados não serem enterrados: eram deixados na cruz depois de mortos, como pasto para aves de rapina. É-nos transmitido que, no caso de Jesus, isso não aconteceu, graças à intercessão e poder económico de José de Arimateia. Será verdade? Não sabemos.

O relato mais antigo (Marcos) do que aconteceu a seguir à morte de Jesus diz-nos que Maria Madalena e mais duas mulheres chegaram ao túmulo e lá encontraram um jovem vestido de branco que lhe disse que «Jesus, o Nazareno» ressuscitara (vincando, nas suas palavras, o facto de ele ser originário de Nazaré). As mulheres fugiram, espavoridas, «e nada disseram a ninguém: tinham medo, pois».

Outras tradições desenvolveram o tópico das aparições de Jesus «post mortem». Um judeu helenizado chamado Paulo (que nunca conheceu Jesus) registou que Jesus teria aparecido a 500 pessoas. Será verdade?

A resposta a essa pergunta não compete ao estudo académico do Novo Testamento, mas sim a outro âmbito, que é a fé. Todos somos livres de acreditar – ou não.

Seja como for, celebramos hoje o nascimento de alguém que marcou a história da humanidade de forma indelével. O que ele disse e fez continua válido hoje – por isso eu tenho uma admiração infinita por Jesus. O que fizeram dele – nomeadamente os muitos cristianismos fundados em seu nome, com os seus emaranhados de ficções teológicas – será outra coisa. Maus cristãos houve sempre. Mais importante é que sempre houve, e sempre haverá, bons cristãos.
Bom Natal.

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