Rostand Medeiros – IHGRN
Aquele primeiro semestre de 1929 estava
sendo bastante interessante para o Rio Grande do Norte e Natal. Logo no
dia 1º de janeiro, na pequena cidade de Lajes, Alzira Soriano era
empossada como a primeira prefeita da América do Sul. Já em Natal, então
com pouco mais de 40.000 habitantes, rugiam no céu várias aeronaves
estrangeiras que utilizavam o nosso privilegiado ponto estratégico para
facilitar o transporte de correspondências entre a Europa e a América do
Sul. A capital potiguar era um local importante, em um concorrido e
pulsante mercado que elevava em várias partes do mundo o nome da velha
Cidade dos Reis.
Aquele também seria um ano especial para
um advogado de 30 anos de idade, que se formara no ano anterior em
Recife, era o diretor do prestigiado Atheneu Norte-Rio-Grandense e se
chamava Luís da Câmara Cascudo. Pois às 16 horas de um domingo, 21 de
abril de 1929, ele se casaria com a jovem Dhália Freire em um elegante e
tradicional casarão da Avenida Junqueira Aires.
Aquela era a casa do desembargador José
Teotônio Freire, pai da noiva, que vinte anos antes havia sido eleito
presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte e até 1921
permaneceu nesse cargo.
Já o pai do noivo, Francisco Justino de
Oliveira Cascudo, era um homem muito respeitado na cidade e conhecido
por todos como Coronel Cascudo. Havia saído do sertão, da cidade de
Campo Grande, para ser oficial da Polícia Militar e, na véspera do natal
de 1894, na cidade de São Miguel, participou do renhido combate que
matou o cangaceiro Moita Braba e destruiu o seu bando. Com isso
Francisco Cascudo conquistou muito prestígio no Rio Grande do Norte.
Fosse pela valentia ou pelo prestígio, de forma inteligente o jovem
oficial angariou muitas amizades na sociedade natalense e a atenção da
classe política. Logo deixou a farda e, apoiado por uma rede de amigos e
por uma invejável capacidade comercial, montou vários negócios que lhe
garantiram naquele momento tranquilidade financeira para sua família.
No casarão da Junqueira Aires a cerimônia
civil foi presidida pelo juiz de direito Silvério Soares, titular da 1ª
vara de justiça de Natal, sendo o então governador Juvenal Lamartine de
Faria e sua esposa os padrinhos do noivo. Já o desembargador Dionísio
Filgueira e sua esposa eram os padrinhos de Dhália Freire. Cerca de uma
hora depois, com os noivos, familiares e padrinhos formando um “corso de
veículos”, foram todos para a capela do hoje extinto Colégio Imaculada
Conceição, na Avenida Deodoro.
Ali a cerimônia religiosa foi presidida
pelo Monsenhor Alfredo Pegado de Castro Cortez, junto com monsenhores
Alves Landim e João da Mata. Foi padrinho do jovem Cascudo, a quem todos
chamavam Cascudinho, o casal Milton Varela. Já os padrinhos da noiva
foi o casal José Lagreca. Ao final do ato religioso todos retornaram
para a casa da Junqueira Aires, onde Teotônio Freire recebeu os
convidados com uma farta mesa de doces e licores.
Tudo se encerrou por volta das nove da
noite. Eram outros tempos. Não houve como acontece nos casamentos da
elite em nossos dias, um suntuoso jantar, com uma banda de música
tocando até altas horas da noite e uma superprodução. O principal era o
contato entre os amigos e os votos de felicidades para o casal.
Para mim a melhor e mais marcante
característica de Câmara Cascudo era ele poder ver muito além do que a
maioria dos membros de sua classe social, que viviam em uma cidade
bastante provinciana, observavam sobre determinados aspectos das pessoas
e das características do lugar onde viviam. Creio que, além disso,
podemos colocar na conta do seu sucesso uma convivência de 57 anos com
uma mulher que sempre o apoiou no desenvolvimento de sua carreia como
pesquisador e escritor.
FONTES – JORNAL A REPÚBLICA, EDIÇÕES DE 21NE 24 DE ABRIL DE 1929, NA COLUNA DE “DANILO”, PÁGINA 3 DAS DUAS EDIÇÕES.
De: https://tokdehistoria.com.b
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