quinta-feira, 16 de abril de 2020

UM POUCO DA LÍRICA ANGELINA MACEDO

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Angelina Macedo, poetisa do Assu, ainda é pouco lembrada na terra em que nascera. De tradicional família originária da cidade do Porto, Portugal. De temperamento sentimental, casou-se em 1896 e, pouco tempo depois, fora abandonada pelo marido.

O antologista Ezequiel Fonseca Filho depõe que o lirismo de Angelina também está marcado pela melancolia, pela religiosidade e por acentuados elementos românticos e simbolistas. Angelina, não encontrando a realização dos seus sonhos de adolescente como afirma Ezequiel, escreveu na sua desilusão o soneto que, penso eu, parece com a forma de poetizar de Florbela Spanca (uma das maiores vozes da poesia lusitana do século XX). Senão vejamos:

Sonhei que era feliz e que era amada,
Que ao lado de meus pais tranquilamente,
Passava minha vida sorridente,
Sem nunca pela dor ser perturbada.

Nessa doce ilusão, sendo embalada,
Áureos castelos levantei na mente
E por linda visão aurifulgente,
Era ao céu de fantasia arrebatada.

Porém ao despertar do grato sonho,
Ao ver o meu presente tão tristonho,
Tão negro como fora o meu passado.
Quisera viver sempre adormecida,

Do mundo e de todos esquecida,

Ou ao menos, meu Deus, não ter sonhado!
Solitária, Angelina fora acometida por uma doença incurável, sentindo a morte chegar, escreveu o soneto intitulado 'Resignação', que vejamos adiante:

Bendita seja a mão, que o golpe envia

Sobre a minha cabeça tão cansada;
Que me adverte ao fim desta jornada, e um dia
Na floresta da vida, erma e sombria.

Àqueles que disseram: Volto ao Nada,
A que triste, viveu somente um dia,
Eu direi: Enganai-vos! A alegria
Espera-me no Além, na Pátria amada.

Não criminem a morte, que me leva
Ao ver estrela que no azul cintila...
A luz, que vem do céu, não chamem treva!

Pouco a pouco, a matéria se aniquila,
Mas a alma imortal aos céus se eleva...
Que venha, pois, a morte - estou tranquila.

(Fonte: Poetas e Boêmios do Assu, 1984, de Ezequiel Fonseca Filho)

Postado por Fernando Caldas

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