O Hippie Drive-in foi um empreendimento bemmm além de seu tempo
que existiu em Natal entre 1967 e 1974. Não era clube nem restaurante
nem boate, mas uma mistura de tudo isso e mais alguma coisa.
O Hippie consistia numa área de lazer com 40 mil metros quadrados abrigando bares, restaurantes, boates, parque de diversão, quiosques para vendas de guloseimas, zoológico e até drive-in, onde casais enamorados trocavam carícias dentro de carros com privacidade e segurança.
Durante
o dia o ambiente era família. Famílias se divertiam no parque, que
tinha uma roda-gigante; "baganas" nos quiosques e um zoológico, isso
mesmo, um pequeno zoológico, o primeiro e único de Natal.
No
zoológico do Hippie conviviam onça-pintada, tamanduá-bandeira, anta,
cotia, porco-espinho, urubu-rei, faisão e outras variedades de aves. Nos
restaurantes serviam iguarias desconhecidas do paladar local como escargot e caviar, e bebidas como tequila e cervejas importadas, no cartaz dizia: "15 marcas de 8 países".
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Propaganda do "Hippie Drive In" (Natal) no jornal Diário de Natal em 14/04/1969
Mas,
o motivo de maior sucesso do Hippie Drive-in estava nas suas boates,
eram duas. Uma ao ar livre e outra "reservada". O sucesso dessa última era a luz negra, a primeira da cidade. O efeito da animação estroboscópica causava surpresa ou satisfação ao frequentador casual ou contumaz da boate.
Os casais bailavam sob a sensação de estarem tremendo ou se movimentando aos saltos
e isso levava a todos para a pista de dança. O gim com água tônica era o
pedido comum de seus clientes, devido o efeito brilhoso decorrente da
incidência da luz negra sobre a bebida.
Entretanto, o sucesso ficava por conta de garotas desinibidas
que, proposital ou distraidamente, fossem para o dancing com roupas
íntimas brancas. O sutiã e a calcinha ficavam evidenciados do restante
da vestimenta pela ação da luz negra, deixando as curvas do corpo bem
delineadas causando o efeito sensual almejado por elas. Por lá se apresentavam bandas memoráveis como Impacto 5, The Jetsons, Infernais, Os Primos e outros conjuntos da capital e de fora do Estado.
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Hippie Drive In, Natal-RN. Empreendimento muito além de seu tempo que existiu em Natal entre 1967 e 1974.
Detalhe
interessante: todos os garçons empregados no complexo eram
homossexuais. Naquela época, a intolerância contra gays era muito mais
gritante, e isso os tornava naturalmente retraídos. Talvez a discrição
decorrente dessa postura os tornassem as pessoas adequadas para atender
os casais no drive-in, quando estivessem aos “sarros” em seus carros.
Aos
visitantes que desejassem uma lembrança, encontravam à disposição, nas
mesas, um pires pintado à mão pela artista plástica Lourdes Guilherme,
com a inscrição “Este eu roubei do Hippie Drive-in”.
A ideia saiu da caixola do empresário Luís Carlos Abbott Galvão. Segundo se comenta, ele se espelhou em algo idêntico visto na cidade do México. Não cobravam entrada, mas exigiam consumação.
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Homenagem da IFRN a Luiz Carlos Abbott Galvão, criador do Hippie Drive In em Natal (RN) nos anos 60. Foto: IFRN.
Eram comuns excursões de Pernambuco e da Paraíba, porque não existia nada semelhante no Nordeste. O ambiente chegou a acomodar, de uma só vez, 1.800 pessoas, algo inacreditável para casas de shows de quase meio século atrás.
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Estacionamento do Hippie Drive In, Natal-RN. Empreendimento muito além de seu tempo que existiu em Natal entre 1967 e 1974.
Natal não tinha motel na época, e se um local como esse hoje seria uma sensação, imagine na época.
Luiz Carlos fechou o complexo de divertimento por conta da concorrência nas redondezas e, também, porque abriram o “Kazarão”, outra iniciativa sua em evidência que ficava na Avenida Campos Sales.
O Hippie Drive-in foi realmente um empreendimento além de sua época. Funcionou em local inabitado da atual Av. Engenheiro Roberto Freire, na altura do Sea Way.
Informações do engenheiro civil e escritor José Narcelio Marques Sousa.
De: CURIOZZO
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