terça-feira, 22 de setembro de 2020

 

DO Facebook de Valério Mesquita

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Valério Mesquita

CORTEZ: AINDA UMA SAUDADE

Valério Mesquita

mesquita.valerio@gmail.com

Relutei muito em escrever sobre José Cortez Pereira de Araújo. Teimava comigo mesmo em relatar a sua odisséia. A travessia do sofrimento político, os algozes, os coveiros do seu governo até a eutanásia dos seus sonhos. Decidi me deter nos instantes felizes que presenciei ao lado de um homem de cultura, de uma cordialidade que não encobria formas perversas de indignidade e traição.

Meu pai foi seu amigo dileto e colega na Assembleia Legislativa, no período das turbulências entre o PSD versus UDN. O velho Mesquita de pé, altivo e irreverente, apontava o grupo udenista e disparava ironicamente: “Dessa bancada só presta Cortez Pereira!”. A amizade dos dois se alimentava também nos encontros semanais em Macaíba para impressões sobre a política e o inverno, como dedicados proprietários rurais.

Quando Alfredo Mesquita faleceu em abril de 1969, Cortez – a quem o velho vaticinava que um dia seria governador do Rio Grande do Norte – foi escolhido no ano seguinte. Lamentei muito o meu pai não ter sobrevivido para contemplar a face desse dia. No seu governo fui nomeado Subchefe da Casa Civil, tendo ocupado, posteriormente, após uma reforma administrativa, a Coordenação de Assistência aos Municípios e a Diretoria do Departamento de Serviço Social do Estado. Daí, me exonerei para ser candidato a prefeito de Macaíba. Eleito, Cortez Pereira levou a Telern para Macaíba, comparecendo a duas posses: a minha e a de Dix-Huit Rosado em Mossoró. Inaugurou uma agência do Bandern em Macaíba, a Casa do Agricultor, eletrificação rural, escolas e a alegria de um dia receber em minha casa o rei do baião Luiz Gonzaga.

Em 1973, foi padrinho de batizado de minha filha Isabelle. Relembro, ainda, como seu auxiliar, os memoráveis discursos e palestras. A da Federação das Indústrias de São Paulo empolgando Amador Aguiar do Bradesco, Mário Amato, entre outros. Era a pregação do “desenvolvimento econômico” do Rio Grande do Norte, das suas riquezas e potencialidades.

Recordo a sua altivez ao enfrentar e resistir o autoritarismo do general Meira Matos, Comandante da Guarnição de Natal, que armou estocadas com o objetivo de tirá-lo do governo.

Evoco Cortez Pereira como professor universitário, orador, polemista, deputado estadual, diretor do Banco do Nordeste, suplente do senador Dinarte Mariz que encantou o Senado com os seus pronunciamentos em favor do nordeste e do Rio Grande do Norte. Relembro o Projeto Camarão, do Bicho-de-Seda, do Boqueirão, do turismo (Centro de Turismo, Bosque dos Namorados, Cidade da Criança e a duplicação da entrada de Natal por Parnamirim). Cortez santificado pelo padecimento da dor, mas redivivo na lembrança e na admiração de tantos que conheceram a pureza dos seus sonhos. “Louvar o que está perdido torna querida a lembrança”. (Shakespeare).

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