quinta-feira, 26 de agosto de 2021

O mar de Cotovelo (Por Paulo Caldas Neto) Fonte: Portal Grande Ponto


24/08/2021

Em algumas das manhãsde domingo, sempre que minha esposa vem para Natal, em período de férias, costumamos excursionar os quatro cantos do litoral potiguar sem poupar, muitas vezes, esforços para provar um pouco de sua gastronomia. Saindo de Natal e antes parando para curtir a simplicidade da feirinha de artesanato de Ponta Negra, onde decidimos comprar iguarias da cultura local, a fim de presentearmos conhecidos de outro estado da federação, seguimos o caminho do verão: as praias do litoral sul. Nenhuma discriminação para com as do litoral norte. É que, de onde residimos, as praias da zona sul acabam sendo mais próximas, facilitando muito o nosso percurso.

Mais precisamente na manhã deste domingo, dia 01, como nós dois dormimos até tarde e, ainda assim, ela também não havia tido uma boa noite de sono, resolvemos tomar um café da manhã não tão reforçado para que tivéssemos fome para o almoço, que já se aproximava. Saímos às 10h20min. Um horário não muito apropriado para quem deseja desfrutar intensamente as belezas do litoral do RN. O normal é levantar-se cedo. Assim, aproveita-se melhor o turno matutino, especialmente o curto intervalo de tempo entre 8h30min e 10h00min, quando, na opinião dos dermatologistas, os raios de sol não são prejudiciais à epiderme, evitando-se, com isso, doenças como o câncer de pele. Nossa sorte é que não nos expusemos ao forte sol de dezembro, o qual já prenunciava a alta estação do mês de janeiro do ano que entra, ansiosamente esperada por todos, em função das férias e dos frequentes banhos de mar dos veranistas.

Não estando minha companheira bem-disposta a altas caminhadas, fossem a pé, fossem de carro, estacionamos o meu Fox em Cotovelo, uma das praias que servem de acesso à praia de Pirangi, uma das mais badaladas da zona sul. Como o bar Barramares estava lotado, e o atendimento deixa a desejar em matéria de celeridade, optamos pelo restaurante Falésias por ser menos agitado e o atendimento eficiente. Em compensação, os preços dos pratos são salgados. Almoçamos uma peixada brasileira e bebemos suco de laranja gelado, porque o ambiente e a sua temperatura exigiam algo bem refrescante. De onde estávamos, o que impressiona é o mar, toda a enseada. Mesmo sendo meio caminho andado, assim como a Praia dos Artistas, vulgo Praia do Meio, localizada em plena a urbanidade de Natal e servindo de acesso a duas outras – a do Forte dos Reis Magos e a de Areia Preta –, Cotovelo possui Resorts, casas de veraneio ainda bem conservadas, embora seu entretenimento noturno seja fraco, sem a estrutura de grandes estabelecimentos que atraiam a juventude potiguar com bastante entusiasmo. Geralmente, os jovens costumam atravessá-la para ir a Pirangi, cujos empreendimentos oferecem uma ampla e diversificada culinária, bem como inúmeros pontos turísticos, estrategicamente explorados pelo ramo empresarial, a começar pelo grande Cajueiro.

 Sentado em frente ao mar de Cotovelo, pois havíamos pedido ao garçom uma mesa próxima a algo que fizesse sombra, pude sentir a brisa me beijando, seduzindo-me lentamente, que, por um segundo, pensei que estivesse incorrendo em adultério. E logo ali, com a minha esposa ao lado. Que insensatez! Ainda bem que foi só a brisa! Mas o mar! O mar e a sua poética! Ele realmente é sedutor, lírico… Inspirador de poetas, compositores, ultrapassa milênios mantendo aquilo que é de mais belo, titânico e misterioso. Vê-se toda a imensidão do mar de Cotovelo que sensibiliza os olhares apaixonados! Uma boa quantidade de banhistas é vista compartilhando suas delícias com o mar, e este tentando acolher e banhar as pessoas com suas águas espumosas numa espécie de ritual, salgando e renovando os corpos que dali retornam à orla. Meu olhar recebe a hipnose de todo um espetáculo que se desenvolve em sua beleza natural. Um misto de paz e candura me leva de volta ao passado. E ao testemunhar o que a natureza faz, minhas lembranças me transportam às manhãs e às tardes de domingo da década de 80. Ainda criança, só conhecia o mar das praias urbanas anteriormente citadas. A família, vez ou outra, gostava de explorar novos paraísos litorâneos, e eu adorava. Vêm-me os versos da canção de Roberto e Erasmo:

 Eu me lembro com saudade o tempo que passou.

O tempo passa tão depressa, mas em mim deixou

Jovens tardes de domingo, tantas alegrias,

Velhos tempos, belos dias.

[…]

Hoje os meus domingos são doces recordações

Daquelas tardes de guitarra, sonhos e emoções.

O que foi felicidade

Me mata agora de saudade.

Velhos tempos, belos dias.

Jovens tardes de domingo!…

 Olhos quase marejados diante do mar de Cotovelo. Escondo uma lágrima da minha mulher. Escondo até o meu saudosismo. Sou assim. O mar de Cotovelo me trouxe uma parte de mim, um passado feliz. Pois é! Um passado no qual eu era feliz e não sabia.

Por Paulo Caldas Neto

Fonte: Portal Grande Ponto

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