quinta-feira, 30 de setembro de 2021
História de uma alma
Casa de Câmara e Cadeia, primeira sede do Parlamento brasileiro
A Casa de Câmara e Cadeia, mais conhecida como Cadeia Velha, foi construída na primeira metade do século XVII, no antigo Largo do Carmo, hoje Praça XV.
Após a independência do Brasil em 1822, José Bonifácio de Andrada e Silva determinou a reforma da Cadeia Velha, que passou a abrigar a Assembleia Geral Constituinte Brasileira.
A Câmara dos Deputados funcionou nesse prédio até 1914, quando foi transferida para o Palácio Monroe. Desse ano até 1923, o edifício da Cadeia Velha serviu de depósito e finalmente foi demolido para dar lugar ao Palácio Tiradentes.
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terça-feira, 28 de setembro de 2021
segunda-feira, 27 de setembro de 2021
Poucas & Boas de Walter Leitão, é o livro de estreia do poeta assuese Van Gurgel. O livro conta algumas estórias do irreverente e gracioso Walter. Uma das estórias narradas por Van naquela coletânea, diz assim:
Seu Walter acabara de entrar no Banco do Brasil e um Caixa, um cearenses que fazia três meses que chegara a cidade, chamou-o e disse: - O senhor sabia que minha esposa está grávida? - E o correntista muito irreverente: - E voce desconfia de quem?
sábado, 25 de setembro de 2021
sexta-feira, 24 de setembro de 2021
Lei nº 2.927, de 18/09/1963: Criação do município de Carnaubais
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UFRN tem 22 cientistas entre os mais influentes dos Brics
De: https://portalfatosdorn.blogspot.com/
Francisco Veríssimo De Sousa Neto
terça-feira, 21 de setembro de 2021
‘A ternura’ e ‘A bela cena’ – duas crônicas fascinantes de Rubem Alves
A ternura
“Pureza de coração é desejar uma só coisa.” Foi assim que Kierkegaard definiu, a pureza. Puro é aquilo em que não há misturas; é uma coisa só.
A paixão é pura porque vive de uma coisa só: a imagem da pessoa amada. Não se trata de uma imagem mais bonita que as outras. É uma única imagem que apaga todas as outras. O apaixonado só pensa na pessoa amada. Sempre. Os assuntos que fazem as conversas do cotidiano não lhe interessam. Bem que ele gostaria de falar sobre o seu amor, mas se cala sabendo que ririam dele. Camões, no episódio de Inês de Castro, escreveu que ela caminhava
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Se não havia ouvidos humanos a quem pudesse dizer o nome que tinha gravado no peito, que as árvores, a relva e as pedras fossem depositárias do seu segredo – um único nome.
A raposa pediu que o Pequeno Príncipe a cativasse.
– Que quer dizer “cativar”? — ele perguntou.
A raposa explicou:
– Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto… Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
Aconteceu então que o Pequeno Príncipe cativou a raposa. O tempo passou e chegou o dia em que ele precisou partir. A raposa disse:
– Ah! Eu vou chorar.
– A culpa é tua; eu não te queria fazer mal, mas tu quiseste que eu te cativasse…
– Quis — disse a raposa.
– Mas tu vais chorar!
– Vou — ela respondeu.
– Então, não sais lucrando nada!
– Eu lucro — disse ela — por causa da cor do trigo. — E acrescentou: – Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
O amor começa quando colocamos uma metáfora poética no rosto da pessoa amada. A paixão é uma experiência estética. Está ligada à contemplação da beleza. A pessoa pela qual se está apaixonado é bela. Não é que ela seja bela – é o olhar apaixonado que a torna assim. Porque não vemos o que vemos, vemos o que somos. Uma mulher é bela quando nos vemos belos ao seu olhar. Quem, ao olhar para uma mulher, pensa em sexo não é um apaixonado.
O apaixonado sorri ao contemplar a amada dormindo, sem tocá-la. O corpo de lado, o rosto sobre o travesseiro, os olhos fechados, o suave ressonar, a camisola suspensa deixando ver a calcinha – é uma imagem de paz, de tranquilidade. E um momento de ternura. Há um desejo de acariciá-la, mas a mão se contém; nenhum movimento dele deverá interromper a beleza da cena. Nela, os impulsos sexuais estão proibidos.
O sexo dos adolescentes e dos jovens se parece com um furúnculo inchado – túrgido, vermelho, dolorido, que busca se livrar do incômodo. O que se busca não é a experiência amorosa, é rasgar o furúnculo para que o pus saia, trazendo alívio. E o esperma não se parece com pus? Quando o orgasmo acontece, numa mistura de dor e prazer, o furúnculo se esvazia e o corpo fica em paz. Pode até ser que nesse momento o parceiro se esqueça da mulher ao seu lado, vire as costas para ela e durma.
Foi sobre esse sexo que Freud escreveu. Era o único que ele conhecia. Era o sexo que Tomas, personagem de A insustentável leveza do ser, fazia com suas namoradas. Mas uma delas protestava: “não procuro o prazer, procuro a alegria…”.
O sexo-furúnculo prescinde da ternura. Tomas não sentia ternura por suas amantes. Elas eram objetos para seu alívio. Ele as usava. Não as amava. O amor mora no olhar terno que sorri ao contemplar o rosto da pessoa amada.
***
A bela cena
Tomas, personagem de A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, não conhecia a experiência da paixão. O que ele conhecia eram os prazeres do sexo. Esgotada a orgia, o seu desejo era se livrar da mulher. A ideia de acordar com uma mulher ao lado o horrorizava. O seu horror ao amor era tal que nunca permitia que uma mulher dormisse na sua cama. Encontrava sempre uma desculpa para se livrar da companheira, levando-a de volta à casa dela. Ele se parecia com o sultão de As mil e uma noites, que, depois de uma noite de prazeres carnais, quando o sol iluminava o horizonte, fazia com que a amante fosse decapitada… Era assim que Tomas agia, como um animal caçador que abandona a caça tão logo sua fome é satisfeita.
Mas com Tereza tudo foi diferente. Não que ela tivesse algum traço especial, que a distinguisse das outras. Não era mais bonita. Por que Tomas a amou e deixou que ela passasse a noite na cama dele? Por mais que a examinasse, nada encontrava nela que pudesse ser apontado como a razão do seu amor. Eles se conheciam por um tempo tão curto! Mas, sem razões e contra a sua vontade, o fato era que ele estava apaixonado por ela.
Sua aventura com Tereza havia começado exatamente onde terminavam suas aventuras com as outras mulheres. Ela acontecera do outro lado do impulso que o levava às conquistas. Conhecera Tereza acidentalmente, num bar de uma cidadezinha do interior. Dissera-lhe, quase como brincadeira, que o procurasse se fosse à capital. E lhe dera o seu endereço. Tereza chegou à capital doente, sentindo-se perdida. Não tinha para onde ir. Foi isso que a levou a procurar Tomas. E foi aí que a história de amor começou.
Ela ardia em febre. Ele não podia fazer com ela aquilo que fazia com as outras. Não podia levá-la de volta para casa, porque ela não tinha casa. Ajoelhado à sua cabeceira, “ocorrera-lhe a ideia de que ela viera para ele numa cesta sobre as águas”.
Agora, a distância, pensava sobre as razões do seu amor e fazia, sem que disso se desse conta, a insólita pergunta de Santo Agostinho: “o que é que amo quando amo Tereza?”. Tudo se tornou claro de repente. Ele ficou comovido pela fragilidade de Tereza adormecida – criança amedrontada, chegando aos seus braços com um pedido de socorro.
A mulher não resiste à voz do que chama sua alma amedrontada; o homem não resiste à mulher cuja alma se torna atenta à sua voz. Parece que existe no cérebro uma zona específica, que poderíamos chamar de memória poética, que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza à nossa vida. Desde que Tomas conhecera Tereza, nenhuma outra mulher tinha o direito de deixar a marca, por efêmera que fosse, nessa zona do seu cérebro.
Agora, na memória poética de Tomas, aquela cena permanecia imóvel, imperturbável, fora do tempo. Era uma parte da sua alma. Não morreria jamais.
“O que é que amo quando te amo?” Tomas amava Tereza porque amava nela uma outra coisa: aquela cena que repentinamente brilhara em sua imaginação. Na cena, Tereza não era Tereza; era uma criança abandonada, levada pelas águas de um rio. E, de repente, ele deixou de ser Tomas, o caçador – tornou-se um homem forte, que tomava aquela criança nos braços. Tereza poderia deteriorar-se ou morrer. Mas a cena permaneceria inalterada, suspensa na memória poética, como objeto de amor.
Amamos a bela cena antes de amar a pessoa. Amamos a pessoa porque ela completa a bela cena. Por isso Santo Agostinho, antecedendo os versos de Fernando Pessoa, escreveu em suas Confissões: “antes que te conhecesse eu já te amava”. Somos amantes antes de nos encontrar com a mulher ou com o homem que será o objeto do nosso amor. A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos, seus rostos envoltos pelas sombras. Sua beleza é triste e nostálgica porque, sendo moradores da alma ao lado dos sonhos, eles não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto – ou apenas uma voz, um olhar, um gesto com a mão… – que, sem razões, ilumina um dos quadros que estava no escuro. Somos então possuídos pela certeza de que esse rosto que os olhos veem é o mesmo que está no quadro que mora nas sombras da alma. O corpo estremece. A paixão está nascendo.
– Rubem Alves, no livro “Cantos do pássaro encantado”. [crônicas]. São Paulo: Planeta, 2017.
Roteiro sentimental e gastronômico do Assu
De: https://www.navegos.com.br/
Maria do Perpétuo
Socorro Wanderley de Castro – Desembargadora do Trabalho, professora da
UFRN aposentada e membro da Academia Assuense de Letras
A alimentação, por
constituir uma necessidade vital, marca espaços, vivências, alegrias e
momentos. Já diz Câmara Cascudo, em seu prefácio à História da
Alimentação no Brasil que “a eleição de certos sabores que já constituem
alicerce do patrimônio seletivo no domínio familiar, de regiões inteiras,
unânimes na convicção da excelência nutritiva ou agradável, cimentada através
de séculos”, não se transforma com facilidade. Assim, há um predicado de
permanência nos sabores.
E, se nos voltamos
para Marcel Proust, autor cuja obra é construída pela lembrança, já percebemos
nas páginas, que o alimento surge como um encaminhador ou condutor de ocasiões
à volta da mesa com o chá de tília e as madalenas, deliciosas.
Em qualquer lugar,
encontramos hábitos alimentares de seus habitantes. Nas cidades às margens de
rio ou mar, os peixes. Em Assu, a boa curimatã, assada na brasa e ainda sinal
de inverno bom quando, no final do ano, estivesse ovada. Essa é para a hora do
almoço. Melhor começar do amanhecer, com o café da manhã.
O acompanhamento do
café, em Assu, é o biscoito homenagem, sim o biscoito ‘flor do Assu,. Pode ter
queijo, ovos, cuscuz, muitos alimentos, mas um café assuense não está completo
se faltar o biscoito fofo com massa que inclui especiarias, um travo bom do
cravo ou do anis.
Para o meio da
manhã, se é hora do lanche, comer sonhos fritos em óleo, feitos em pequenas
formas por dona Nila Pinheiro. Ou comer os doces casadinhos
preparados com esmero por dona Maria Iná, que morava em frente à Igreja e até
em outra festa que não a festa do paladar, regalado pelo sabor.
Chegada a hora do almoço,
arroz e feijão e a batata doce em rodelas são a companhia para o peixe, mas
acompanham igualmente a galinha torrada, galinha criada no quintal de
casa, engordada sob os olhos das crianças que, às vezes, fazem das
aves, pequenas amigas. E à mesa, começavam a rebelião. Como aceitar ver servida
na travessa de louça branca, a galinha que batia as asas, soltava penas antava
seu canto miúdo, pois cantar forte e alto era qualidade do galo?
O peixe não recebia
essa prova de estima e a solidariedade da recusa a ser degustado, mas sua
utilização na comida era mais esparsa do que a ave. Aos domingos, galinha
torrada. Era o cardápio habitual e que, às vezes, se completava substituindo o
arroz pelo macarrão e fazendo aparecer, timidamente, uma farofa com muita manteiga,
sal e cebola, usando farinha da melhor qualidade para os grãos dourados
brilharem
À tarde, o
tabuleiro de alfenim fresco, recém-saído do fogo trazia a guloseima apreciada.
O açúcar com gotas de limão, cozinhado até o ponto, depois puxado até o segundo
ponto e, então, cortado e passado na goma. Desmanchava-se na boca. Se
então não me lembrava das madeleines é porque não as conhecia, mas essa
sensação do paladar é comum aos dois. O velho doce assuense é
reminiscência árabe e ficou nas casas grandes chegando às mãos das doceiras.
As comidas tinham
suas horas próprias e sua época. Pois o peixe era para a Semana Santa e o
jejum, como a canjica e a pamonha eram para o São João e as festas; e a
galinha era para o domingo, por ser o dia de repouso, o dia festivo
de cada semana.
Assim seguia a vida
simples. Eita vida besta, numa cidadezinha com Drummond. Numa cidadezinha
amada.
segunda-feira, 20 de setembro de 2021
Ai! Se Sêsse!…
Se um dia nóis se gostasse;
Se um dia nóis se queresse;
Se nóis dois se impariásse,
Se juntinho nóis dois vivesse!
Se juntinho nóis dois morasse
Se juntinho nóis dois drumisse;
Se juntinho nóis dois morresse!
Se pro céu nóis assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nóis dois ficasse
tarvez qui nóis dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
(Zé da Luz, poeta paraibano
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