quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

TIRADAS DE ZÉ AREIA

José Antônio Areia filho (1901-1972) ou simplesmente “Zé Areia” era tipo gordo, garboso, presepeiro, boêmio, gracioso. Muitos autores potiguares já publicaram livros sobre suas estórias pitorescas. Barbeiro de profissão, vendedor de loterias, jogo do bicho e rifa (sorteio). Nasceu em Natal, no bairro Rocas, onde morou até morrer. Fazedor de versos populares irreverentes. Suas tiradas espirituosas lhe fez famoso por toda Natal então provinciana. Pois bem. À época da Segunda Grande Guerra parte do exército norte-americano permanecia na capital norte-rio-grandense - Capital Espacial do Brasil. Tempo em que Zé Areia viveu os melhores momentos de sua vida. Conta-se que ele vendera um papagaio cego a certo milico americano. Dias depois, ao percebeu que aquele pássaro não tinha visão, o praça reclamou ao Consulado Americano que teria sido enganado na compra que fizera a Zé Areia. O Consul logo tomou providências para que localizasse Zé Areia e, consequentemente, a sua presença no consulado para esclarecer o negócio. Se apresentando, o Consul fora logo interrogando: “O senhor vendeu um papagaio cego a esse soldado?” – Areia sem se fazer de rogado: “Mas, “Seu” Consul. Este soldado quer papagaio pra falar ou pra levar pro cinema? ”

De outra feita, certo soldado americano embriagado se aproxima de Zé Areia que se encontrava na porta da sua barbearia, com um litro de uísque, perguntando assim: “Do you like drink” (você gosta de beber, na tradução)?” Zé Areia respondeu: “É só o que eu laico!”
 
Noutra ocasião Zé Areia perambulando pelo centro de Natal procurava vender uma sela (assento acolchoado de couro que se coloca no lombo de animais de montaria). O primeiro conhecido que encontrou, ofereceu produto: “Seu” Mário, compre esta sela!” - “Eu não sou cavalo, pra que eu quero sela!” - Respondeu aquele amigo. Zé Areia que sempre tinha a resposta na ponta da língua deu o troco: “Ela serve também pra burro, Mário!”
 
Zé Areia não gostava de trabalhar. Terminado a Segunda Guerra Mundial, a situação financeira ficou ainda mais difícil para Zé Areia. Passando por necessidades, certo amigo arrumou-lhe um emprego de barbeiro na Casa de Detenção de Natal. Não durou muito tempo. Areia abandonou o serviço. Aquele amigo tomou conhecimento que Areia teria abandonado o trabalho, ao se encontrar com ele, fora direto ao assunto: “Mas, Zé Areia. Você abandonou o emprego?” Zé Areia saiu-se com essa: “Amigo. Eu subloquei o serviço.” 
 
Certo dia, Zé Areia bebia na Confeitaria Delícia, no bairro Ribeira, cidade do Natal. Certo frequentador assíduo daquele recinto pedira para que ele, Areia, declamasse uma trova de sua autoria. Naquele instante se aproximava certo amigo a quem Areia devia certa quantia. Areia improvisou, declamando em voz alta: “Não há dor igual à dor/ De um cabra que está devendo/. Todo cheio de remendo/ Diante de um cobrador."
 
Zé Areia rifou um carneiro pelo jogo do bicho. Pois bem. Certo amigo chamado Benvenuto ao vê-lo passar pelas ruas da cidade com aquele carneirinho, perguntou ao gracioso amigo: "Zé, como se chama este carneiro?" Sem nem pestanejar, Zé Areia respondeu: "Benvenuto.” 
 
Por fim, sobre Zé Areia, o escritor norte-rio-grandense Câmara Cascudo escreveu: "A morte de Zé Areia apaga em Natal o derradeiro representante da verve recalcitrante, do espírito da réplica, imediata e feliz, o último contribuinte para o patrimônio esfuziante da improvisação anônima e surpreendente. Desapareceu a 31 de janeiro de 1972 (mês em que nascera), quanto nos restava de Popular sem vulgarizar-se e constituir uma presença chistosa nas recordações bem-humoradas de todas as classes sociais da cidade. Sentindo a aproximação asfixiante do enfarte, ergue-se da rede, abraçando a mulher, vivendo a pilhéria da sua vida dolorosa: “Mulher feia! Quero morrer em teus braços!”.
 
Fotografia da Web.
 




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