domingo, 16 de janeiro de 2022

Alfonsina e o Mar
 
Pela branda areia que lambe o mar
Sua pequena pegada não volta mais
Um caminho solitário de dor e silêncio chegou
Até a água profunda
Um caminho solitário de dores mudas chegou
Até a espuma
Só Deus sabe a angústia que te acompanhou
Que dores velhas calaram tua voz
Para que você se recostasse embalada
No canto das conchas marinhas
A música que canta no fundo escuro do mar
A concha
Você se vai, Alfonsina, com sua solidão
Quais poemas novos você foi buscar?
Uma voz antiga de vento e sal
Destrói sua alma e a carrega consigo
E você vai para lá, como nos sonhos
Adormecida, Alfonsina, vestida de mar
Cinco sereias te levarão
Por caminhos de algas e coral
E fosforescentes cavalos-marinhos irão
Te rodear
E os habitantes da água brincarão
Logo ao seu lado
Apaga a luz um pouco mais
Ama, me deixa dormir em paz
E se ele ligar, não lhe diga que eu estou
Diz para ele que Alfonsina não volta mais
E se ele ligar, não lhe diga nunca que eu estou
Diz que fui embora
Você se vai, Alfonsina, com sua solidão
Quais poemas novos você foi buscar?
Uma voz antiga de vento e sal
Destrói sua alma e a carrega consigo
E você vai para lá, como nos sonhos
Adormecida, Alfonsina, vestida de mar

Nenhum comentário:

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...