segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Zeca Melo: 'A pequena empresa segura o emprego no RN há mais de dez anos', diz

Publicado: 00:00:00 - 13/02/2022

Bruno Vital
Repórter

Após perder 3,1 mil postos de trabalho em 2020, o Rio Grande do Norte abriu 32,2 mil novos empregos no ano passado, saldo que revela recuperação da economia do Estado após o agravamento da crise pela pandemia de covid-19. Os números positivos foram puxados pelas microempresas, de acordo com a Análise da Evolução do Mercado de Trabalho Formal apresentada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte (Sebrae/RN). Os setores mais aquecidos foram indústria geral; construção; comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas; e serviços. Do total de empregos, 29.143 foram abertos por microempresas. Sobre o estudo feito pelo Sebrae, a TRIBUNA DO NORTE conversou com o superintendente do órgão, Zeca Melo. Nesta entrevista, ele destaca o bom momento do Estado, a importância do microempreendedor para manter o Rio Grande do Norte funcionando e projeta um cenário favorável para 2022. Confira.

Magnus Nascimento
Superintendente do Sebrae-RN explica que do total de 32 mil novos postos criados em 2021, 29 mil foram gerados nas empresas com menos de dez empregados

Superintendente do Sebrae-RN explica que do total de 32 mil novos postos criados em 2021, 29 mil foram gerados nas empresas com menos de dez empregados


Qual a análise que o sr. faz sobre a abertura de empregos no Rio Grande do Norte?
Os números são surpreendentes, tanto no Rio Grande do Norte quanto no Brasil. O Brasil gerou 2,7 milhões de empregos e o RN 32,2 mil. Eu não me lembro de um ano tão expressivo. Na grande crise de 2015 e 2016, ia variando entre 10 mil e 15 mil empregos gerados por ano. Aí veio a pancada, a recessão, queda de produto e nós perdemos mais de 27 mil nesses dois anos. Aí a gente começa a andar de lado, com 847 empregos gerados em 2017, o que é muito pouco, depois 5 mil em 2018 e 3 mil em 2019, até vir outra pancada, a da pandemia. Em 2020 a gente perde 3.179 empregos e eu estou achando que esse é um número bom porque nós estávamos perdendo  pouco. E em 2021 nós temos uma recuperação imensa. Não há nada, nenhum evento, exceto o Pronampe e alguns programas de manutenção de emprego, mas do ponto de vista macroeconômico a gente não abriu um novo mercado de fruticultura, não expandiu a produção de petróleo, não houve um ‘boom’ imobiliário. Foi a recuperação pura e simples da economia que vinha reprimida no ano anterior.

Dos 32 mil novos empregos criados, 29 mil foram abertos por microempresas. O que isso representa?
Vinte nove mil destes 32 mil foram criadas nas empresas com menos de dez empregados porque os MEIs não empregam. O RN tem 160 mil MEIs, 15% ou 20% tem empregados, então foram empregos criados nas microempresas do Estado. A gente pode dizer que sem apoio efetivo, é a pequena empresa que segura o emprego no Rio Grande do Norte há mais de dez anos. A crise estimula o empreendedorismo por necessidade e aí a gente tem o microempreendedor individual para acolher essas pessoas e deixar elas dentro do mercado do trabalho, não deixar elas à margem, na informalidade. A questão de existir o MEI é um avanço, inclusive social, que acolhe esse povo que sai do mercado de trabalho. Aqui no Sebrae, não interessa se a pessoa vem por necessidade ou oportunidade. Ele tem que ser atendido. Às vezes, ele troca o emprego por um concurso de soldado de polícia, por exemplo, mas e se ele não for soldado? Alguém tem que ajudar ele a se estruturar para sobreviver e crescer. Se só restou a mulher dele fazer bolo para vender, vamos ensinar a fazer bolo de qualidade e vender.

Em que setores estão esses novos empregos?
No serviço, no turismo, nos segmentos de alojamento e alimentação, o que mostra a importância da atividade econômica e social. Outra coisa interessante foi o setor de confecções, pela primeira vez em muitos anos o estoque de emprego na indústria foi maior de um ano para o outro. Nós criamos 5.600 empregos na indústria com uma participação importante na área de confecções, que era uma área que vinha demitindo bastante. Isso mostra o acerto de projetos como o do Prosertão. As nossas expectativas com o Prosertão para este ano são muito boas. São empregos nas microempresas nesse setor. A gente também vai mantendo o alto nível de emprego no agronegócio, principalmente no melão. Se houver a perspectiva de ampliar o mercado do melão com a China vai agregar novos empregos.

O inchaço no número de microempreendedores evidencia nossa dificuldade econômica de gerar empregos?
Além da crise, que reduziu o número de postos de trabalho, as relações de trabalho se modificaram enormemente. Muita gente está prestando serviços em atividades que eram de empregados, como por exemplo o motorista de aplicativo. Nenhuma empresa tem mais no quadro empregados que fazem a manutenção, são todos contratados de pequenas empresas. Se faz uma crítica muito negativa em relação a qualidade do emprego e eu acho que a própria questão ideológica exacerbada faz isso. ‘Ah, criou-se 2,7 milhões de empregos no país, mas a qualidade é menor, as pessoas estão ganhando menos em média’, mas isso pode mostrar um acerto na geração de empregos para gente menos qualificada. Se for uma política de criação de empregos para pessoas menos qualificadas, uma massa maior está sendo empregada.

E para 2022, quais são as expectativas e os desafios para se empreender?
Do ponto de vista do pequeno, se no RN nós temos 32 mil empregos gerados, sendo 29 mil referentes a empresas com menos de dez empregados, nós precisamos de um programa de apoio específico para essas microempresas. O apoio se dá através de algumas atividades e inserções exitosas que foram feitas e da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que pega todo mundo. A simpatia do Estado com ao tema da microempresa é muito grande, mas às vezes não é suficiente. A gente tem algumas coisas positivas. O governo sancionou a legislação sobre o queijo artesanal, que é muito importante. A gente tem uma definição sobre empresas de impacto social também, mas a gente podia ter avançado muito mais. A gente não tem um programa anual de compras que beneficie o pequeno, tivemos uma parada na questão da educação empreendedora por conta da pandemia, mas já não vinha bem. A gente tem a questão da simplificação em alguns setores, nós não evoluímos com relação ao meio ambiente à vigilância sanitária. Em respeito aos 29 mil novos empregados e as 200 mil microempresas do Rio Grande do Norte a gente espera um ambiente mais favorável.

Para 2022, quais são as tendências em relação aos segmentos mais aquecidos?
A gente tem o desafio de manter o turismo, nossa prioridade absoluta, ampliando, inclusive, com novos produtos. Natal abrindo novos polos. A gente tem o Seridó, do ponto de vista cultural, gastronômico, que é bem importante. Temos aqui a Serra de São Bento, na região da Pedra da Boca, temos Martins, Patu, Baía Formosa e os polos consolidados. Outro desafio é ampliar a fronteira da fruta do Rio Grande do Norte, com a possibilidade da gente vender para a China. A logística é difícil, há alguns contatos do Governo do Estado com a embaixada chinesa, nós devemos ter alguma intervenção dos pequenos. Para a gente não é suficiente exportar para a China, é preciso exportar com a participação da pequena empresa do Rio Grande do Norte. Uma outra coisa é a inserção de novos ‘players’ na confecção de roupas, ampliar o tipo de prestação de serviço, sair da costura para o processo de fabricação inteiro. Além disso, temos a questão do petróleo, que nós fomos abandonados. A gente produz hoje cerca de um terço do que já fez. A gente espera que a entrada desse novo ator, que é a 3R que tá pagando US$ 1,4 bilhão pelos ativos da Petrobras, que a gente possa ter no futuro um aumento da produtividade. A expectativa é muito boa. O Petróleo tem uma posição excepcional no nosso produto interno da indústria e eu acho que 2022 pode ser um alento.

E para o mercado interno do Estado? Qual a expectativa?
Essas soluções locais são muito importantes. A expectativa também é muito positiva. É o mel de Jandaíra, o bordado de Caicó, o arroz de Felipe Guerra, são os pequenos produtores de caju de Serra do Mel. Essas pequenas atividades em nicho que funcionam na nossa economia são o que movem nosso Estado.

Que ações o Sebrae planeja para este ano para fortalecer as microempresas?
A gente vai realizara alguns eventos grandes. Além da Festa do Boi, nova e repaginada, vamos ter um grande evento em Canguaretama, o Conecta, com centenas de pequenos empresários da região. Vamos fazer a feira do empreendedor da zona Norte de Natal e vamos fazer o GO! RN, que é um evento que junta o ecossistema de inovação do Rio Grande do Norte. É o futuro. Trabalhar a economia digital, as startups e ampliar o número de empresas atendidas pelo Sebrae. A gente tem uma meta de 60 mil empresas atendidas. É uma taxa de cobertura perto do 30% das empresas do Estado, vamos fechar 2022, se você considerar os últimos três anos, acho que mais de 50% das pequenas empresas do Rio Grande do Norte terão passado pelo Sebrae. É muita coisa.

A participação do pequeno empreendedor na economia digital deve crescer neste ano?
Fazer essa inserção não é uma coisa fácil, mas é uma tendência que a gente não pode fugir dela. A gente criou aqui em Natal um triângulo da inovação formado pelo Instituto Metrópole Digital [IMD, da UFRN], o Instituto Senai de Inovação, com toda a vinculação com a área de energias, que é uma área importantíssima para nossa economia, inclusive petróleo e gás, e o Sebrae aqui. Acho que esse triângulo vai puxar esse ecossistema de inovação.
 
De:  http://www.tribunadonorte.com.br

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