sábado, 25 de fevereiro de 2023

RUMO AO AÇU

A viagem começa com os claros da manhã. Um grupo de amigos que, á maneira do soneto celebre, vão á caça. As primeiras conversas. O desenfado do sono. As claridades de Natal se despedindo, enquanto o carro come distâncias. Vai em nossa companhia um "companheiro" de Teodoro Cavalcanti. A viagem está garantida... apenas, como diria Severino. O fotografo é Célio, com a pior máquina fotográfica do mundo, tanto assim que para agir nessa aventura teve de ser "lixada". Lauro é mais o observador, o 'espia' de mulher, no que não deixa de ser profissão das mais nobres. Tio Vitor vai de "patrão", cargo que bem merece por antiguidade de posto. E assim nos adentramos, sertão afora. Os verdes, os azuis, o cheiro agreste que ressuma de tudo. E adeus, cidade! Pra que te quero, se já agora são os campos do grande sertão que enveredamos?

Logo, uma parada e um prato de marrecas. Mais à frente, os campos gerais de Bela Vista ´- terra da minha infância, pátria dos meus, gerais de minhas andanças e alumbramentos;  céus altos que me deram as grandes lições de voar, sair, aparecer. Mesa com queijo fresco, as lembranças pelos quatro cantos da casa. O doce da vida que esvai, lento, moroso e por isso magoa tanto. Mas, em compensação, as outras novas presenças e amizade dos primos e alegrias que parecem renascer com as cheias, com a safra, com o cheiro forte da comida sertaneja que borbulha no fogão grande. E outra vez  viagem se desenrola. As serras, os lajeiros. Aqui, o cigano Bela Verde me contou estórias para um conto. Ali, o rio encheu tanto, certa noite, que tivemos  de nos arranchar nas margens, fazendo um fogacho, enquanto as águas desciam e houve prosa e cachaça da boa. Vamos, então seguindo. O Cabugi se perde, se esfuma, dá lugar a outras cumeadas. Nunca esquecerei, cada vez que por aqui ando, o sabor tão humano e forte de uma conversa de Aluizio Alves, quase um sililóquio, sobre evocações de sua meninice. Iamos em demandas política. Mas, aqui nestes rumos de caatinga, o político se deixou vencer pelo memorialista fabuloso e a prosa evocativa deveria ter sido gravada. Página assim do sabor de uma Massagana de Joaquim Nabuco.

Já, nessas alturas Severino anuncia os limites do Açu. Logo mais a festa. A vaquejada, os alfenins, os amigos, a terra boa, dadivosa, eterna. Renato Caldas - sim RENATO CALDAS, um capítulo aparte, que logo mais vai ser meu compadre diante de uma fogueira que ficou célebre, acendida pelas mãos amigas de Mariano. E eis, a ponte - pontão, largura de cimento se equilibrando sobre o rio que já andou botando de margem à margem. Olhamos extasiados a paisagem, com olhos de Celso da Silveira, João Lins Caldas, Edgard Montenegro, Machado, Nazareno e tantos outros queridos açuenses que me ensinaram melhor a olhar o seu belo rio. Sobretudo o olhar longínquo terno, aguado, perdido em trevas do nunca mais, do meu sempre querido Romulo Wanderley. E, então chegamos! E aqui, lembranças que também cansam e magoam. Depois vem mais.

- Se desapei, compadre! "Foi o que fizemos, recebendo a primeira ordem ao som da "furiosa" municipal que, (quem sabe?) não fazia parte da recepção?"

Newton Navarro

Em, O Poti, 8 de julho de 1972

Postado por Fernando Caldas

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