quarta-feira, 11 de setembro de 2024

JOÃO LINS CALDAS E SUA 'MARCHA FÚNEBRE'

'Marcha funebre' é titulo de um poema fúnebre do grande vate potiguar do Assu, chamado João Lins Caldas (1888/1967). Vamos conferir abaixo os versos fúnebres deste poeta Norte-riograndense que engrandesse as letras potiguares e brasileiras:

Os cem mil padres do meu negro enterro
Vão agora passar, círios às mãos.
Os cem mil padres, os cem mil irmãos...
Nasci... dou-me por pago do meu erro
Já que dá morte é que me vem o enterro...
Nasci... dou-me por pago do meu erro.

Noite... e dentro da minha solidão...
A solidão é um pássaro da noite...
Quem não te busca, pálido tresnoite,
Alma fria da noite, pelo chão...?
Amo a noite do amor, amo esse açoite,
Os círio rezam morte no clarão...

Vejo o olhar dos mortos pela treva,
Lá passa, vai adiante, o meu caixão...
Quem passa assim, quem com tal força leva
Meu esquife pesado, cor de treva,
Meu caixão,
Quem leva, quem leva?...
Vai meu corpo levado cor de treva...

Vejo os claros da morte pelo chão...
Tudo planeja o negro, a solidão.
Meu corpo, vai-se ver, não se vê fundo...
Entrarei pela terra, cor de terra...
Terra aqui, terra ali, terra... desterra,
A minha boca aterra...

Olhando a morte, quero ver o mundo...
Achar a solidão, quero ver fundo...
Solidão, solidão...
O som de um sino e a voz de um cão...
Meia noite... Solidão...

Agora os quero, do meu enterro,
Todos os padres, de volta irmãos...
Frontes curvadas, círios às mãos,
Hoje de volta do meu enterro...

Todos os padres, para o meu erro,
Hoje de volta são meus irmãos,
Os cem mil padres do meu negro enterro.

(Postado por Fernando Caldas)



Fotografia do corpo do poeta João Lins Caldas no caixão sendo velado na casa do seu primo e amigo Luiz Lucas Lins Caldas Neto (avô paterno do editor deste blog - Fernando Caldas), cidade de Assu/RN, 1967. Na fotografia da esquerda para direita. Domitília Eliete de Medeiros, João Crisóstomo Tavares (?), (?), Ivo Pinheiro, Tibobô, Fernando Caldas (criança), (?), Luiz Roberto (Luiz da Carroça), Mário Tavares Dantas, (?), (?), Levi de Oliveira Gomes, dentre outros admiradores de João Lins Caldas. Assu, 18 de maio de 1967.






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