Em tempos
que já vão distantes, o Assú primou pelo seu amor às Letras e pela sua
dedicação às Artes. Seu povo tinha em alta conta o desenvolvimento da
Inteligência e o apogeu da Cultura. A sensibilidade era a sua constância.
Dotados de um acentuado senso artístico, os seus filhos alinhavam os seus
propósitos e as suas tendências no sentido do aperfeiçoamento e do evoluir
cultural.
Enamorados do Belo, tinham a
percepção do seu encantamento, do seu êxtase e do seu predomínio na estrutura
espiritual. Tamanha era essa desenvoltura, esse apego, esse apaixonamento, que,
em última análise, se poderia pensar serem esses atributos um sentimentalismo
congênito ou então seria uma predestinação atávica ou uma determinação biológica.
O certo é que esse afeiçoamento ao
gosto, esse querer à Estética tinha o poder mágico de contaminar o meio
ambiental. A espontaneidade das revelações no domínio das belas-artes
surpreendia. A disputa na conquista de uma escalada maior no aprimoramento do
espírito, como que despertavam as energias telúricas, os entendimentos nativos,
convergindo as idéias para o ponto centralizador que outro não era senão a
ganância do Saber.
Campo fértil às atividades do
Pensamento, as culturas filosóficas eram assimiladas, aproveitadas para o
encadeamento, o entrosamento de uma organização de feitio literário capaz de,
pela sua objetividade, propiciar o granjeio de conhecimentos especializados.
Havia, nessas épocas que já descambam para o esquecimento, uma sintonização
mental criando uma mentalidade propiciatória aos elevados empreendimentos
sociais e recreativos: Velhos e moços se aglutinavam, se harmonizavam e se
entendiam na promoção de tertúlias literárias destinadas a acelerar, a
desenvolver e a intelectualizar o meio ambiente.
Daí, em nossa terra, ter tido a
Imprensa, a poesia, o jornalismo, o teatro e a música relevante destaque em
nível de Estado. Há na nova geração um fenômeno assustador. É o alheamento ao
pretérito. É tão acentuado, que difícil se torna ao pesquisador concatenar
acontecimentos, às vezes muito remotos, se tiver que confiar na veracidade do
seu depoimento, não por mistificações, acreditamos, porém, por desapego,
desinteresse às cousas do passado (*).
No ano de 1922 Ezequiel Wanderley
- poeta, cronista e dramaturgo, planejou e editou um livro que recebeu o apoio
de intelectuais e do governo do Estado. Este livro recebeu o título de “POETAS
DO RIO GRANDE DO NORTE” reuniu trabalhos e biografias de 108 poetas nascidos no
território potiguar. Sua publicação foi autorizada pelo então governador do
Estado Sr. Antonio de Souza, fundamentado na Lei nº 145, de 06 de agosto de
1900.
A antologia em bem pouco tempo
tornou-se obra rara. Dos 108 poetas do Rio Grande do Norte, da época, 28 eram
assuenses e deste total, doze assuenses pertenciam à Academia Norte Rio
Grandense de Letras.
Em decorrência desta presença,
tanto no livro quanto na Academia, e levando em consideração o relevante
destaque do município no que concerne a literatura (primeiro jornal do interior
– O Assuense – foi lançado em Assú), primeiro Médico, primeiro poeta e primeiro
romancista do Estado foi o assuense Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley, primeiro
carnaval de rua foi em Assú. E ainda, pela singular presença da cidade no ramo do
teatro, na música e nas realizações de festas populares e folguedos como: São
João, pastoril, lapinha, bumba meu boi, calungas, entre outras, fez com que os
intelectuais do Estado atribuíssem ao Assú os seguintes epítetos
culturais: “Terra dos Poetas” e “A Atenas
Norte-Riograndense”, esta última, comparando o Assú a capital da Grécia,
Atenas - solo onde nasceram e viveram os maiores pensadores e artistas da
antiguidade.
A partir desta publicação de 1922,
até os dias atuais, o Assú tem mantido estes pseudônimos, diga-se de passagem
com muitas dificuldades. No entanto, ainda encontramos na cidade, remanescentes
destas tradições, sobretudo, na arte musical, na literatura e na poesia.
Muita coisa precisa ser feita e
trabalhada para que nossos jovens despertem para manterem estas tradições. O
governo (municipal, estadual e federal) precisa investir em cultura. A
população precisa se movimentar e começar a produzir. Especialmente a classe
jovem, estudantil.
Lá fora somos reconhecidos
como: “Terra dos Poetas”, “A Atenas Norte-Riograndense”. E
em Assú? Será que fazemos por onde para permanecermos sendo reconhecidos
culturalmente? Certamente, dependerá da ação de cada assuense nesta linha de
conscientização. Só o tempo dirá.
(*) Esse relato é
parte da crônica de apresentação do livro “História do Teatro no Assú”, de
Francisco Amorim, publicado no ano de 1972.
FONTE: Livro Poetas do Rio grande do Norte – Ezequiel Wanderley – 2ª Edição –
1993
Assú – “Atenas Norte-Riograndense” – João Carlos Wanderley - 1966.
Do blog: http://assunapontadalingua.blogspot.com.br/