A agricultura urbana é uma das soluções para garantir a segurança alimentar no mundo. Este é o pensamento do permacultor australiano Geoff Lawton. Como um dos grandes incentivadores do plantio em pequenos espaços, ele mostra que é possível produzir diversos tipos de alimentos em áreas muito pequenas. Para provar a eficiência deste conceito, o especialista mostrou o exemplo criado por um de seus alunos, que produz centenas de quilos de frutas, legumes e ervas medicinais em sua própria residência.
Angelo Eliade é um farmacêutico que vive na cidade de Melbourne, na Austrália. Estudante de permacultura, ele levou quatro anos para transformar um jardim comum em uma verdadeira fazenda urbana. Externamente a casa é exatamente igual às residências vizinhas, com um pequeno gramado à frente. No entanto, ao abrir o portão, o que se vê é um terreno altamente fértil espalhado por apenas 60 metros quadrados.
“Você pode transformar qualquer propriedade, de qualquer situação para a absoluta abundância”, explica Lawton. A casa em Melbourne comprova isso. No quintal de Eliade são produzidos anualmente 70 quilos de vegetais e 161 quilos de frutas. Entre as opções estão: limões, maçãs, figos, cereja, pêssego, uva, banana, feijão, pepino, batata, alface, cenoura, alho, cana-de-açúcar, entre outras coisas.
O farmacêutico explica que não é necessário ter um conhecimento profundo do assunto ou ser um especialista para começar a plantar. No entanto, é preciso se interessar pelo tema para entender o funcionamento e a relação entre as espécies e o solo.
Uma das principais dicas do australiano consiste em manter sempre a variedade na produção. Mesmo plantando em um espaço pequeno, é possível ter muitas espécies diferentes crescendo juntas. Atentando às características de cada uma delas, é possível planejar onde serão plantadas para que uma ajude a outra a se desenvolver melhor.
Eliade ainda lembra que nada do plantio deve ser descartado. Os resíduos do cultivo são excelentes para serem aproveitados como adubo orgânico, oferecendo mais nutrientes para manter o solo sempre saudável. Segundo ele, a principal diferença entre ter um jardim comum e um sistema deste tipo é que a natureza passa a controlar o ambiente sozinha, o que traz inúmeros benefícios à biodiversidade local. Outra prática do permacultor é utilizar a água da chuva captada em seu telhado para irrigar seu jardim.
O projeto do australiano começou há quatro anos, com a ajuda de Geoff Lawton, desde então, Eliade percebeu algumas mudanças importantes em sua vida, principalmente relacionadas à sua própria saúde. Ele diz que passou a ter hábitos e um estilo de vida muito mais saudáveis, além de saber exatamente o que está comendo e ter a certeza de que os alimentos não estão contaminados com agrotóxicos e pesticidas.
“As pessoas não têm noção do que é possível fazer em espaços pequenos. Isso pode acontecer em qualquer lugar, basta entender o potencial e o funcionamento”, explicou Lawton.
O permacultor disponibiliza gratuitamente em seu site vídeos educativos que ensinam os conceitos de permacultura e direcionam as pessoas interessadas em iniciarem seus próprios plantios. Clique aqui para acessar a página e ter mais informações.
O governo resolveu dar um basta na polêmica da franquia de dados na
internet fixa preparando medidas que obriguem as operadoras a oferecer
planos ilimitados.
Segundo reporta a Folha de S.Paulo, nesta quarta-feira, 20, ficará
pronto um termo de compromisso que deve ser assinado pelas empresas como
indicação de que concordam com a exigência. A Agência Nacional de
Telecomunicações também será enquadrada, porque receberá recomendações
do governo sobre como atuar na questão.
O documento determina, entre outras coisas, que as operadoras devem
vender pacotes de internet sem limite de consumo; não poderão alterar
contratos já em vigor; e precisam desenvolver uma ferramenta para que
cada usuário conheça seu perfil, confira o consumo mensal de dados e
saiba quando a franquia estiver chegando ao fim.
Isso não significa que as empresas estejam proibidas de vender pacotes
com franquia, apenas que elas serão obrigadas a contar com uma oferta
ilimitada, também.
O ministro das Comunicações, André Figueiredo, confirmou à Folha que o
governo está intervindo no assunto e informou que a polêmica deve ser
encerrada entre a próxima semana e a primeira de maio.
Dando
continuidade aos nomes populares do Assu de outrora, nesta relação do
jornalista e historiador Celso da Silveira, deve figurar:
MEDONHO
- mendigo bebedor de pinga. Tem mania de juntar bolsas velhas de palha
de carnaubeira. Certa feita, indagado para que carregava tantas bolsas,
respondeu que era para botar "perdoe";
POLOCA - cego e maluco, este mendigo costumava recitar três palavrões para cada vez que se dizia o seu apelido;
BONZINHO
- era o maluco mais conhecido, morreu na rua. Assim dizia chamar-se seu
pai: "Joca Marreiro Pessoa / da Zona do Mar Feroz / Bicho três Vez
Bicho / Quatro Vez Bicho / Cheiroso É o Botão de João de Holanda";
ZÉ
DOUTÔ - vendedor de raiz de pau, receita "língua de vaca" para o
fígado. Tornou-se bastante popular o seu dito: "Calado é mió";
DUCA - caixa de uma firma comercial;
SEVERINO TRINCHETE - comerciante;
CHICO PITOCO - é sobrinho de PIÇARRO, que é fogueteiro;
GALEGO - é comerciário;
ALEMÃO - é recadista;
A VARA - é compadre do autor destas anotações;
XAMBÃO - é atualmente, funcionário da Força e Luz em Natal;
PURUECA - garoto muito vivo, já com jeito de homem;
LUIZ PILÃO - é funcionário aposentado das Docas de Santos, onde trabalhou trinta anos;
PILÁI - desde que me entendo, ostenta este nome, mas o verdadeiro é Cláudio;
JOSÉ PRETO - foi um próspero marchante da terra;
LUIZ BILUCA - é barbeiro;
Elmiro TECO, Manuel MIRINDINHA e Zé MARICAU - são muito conhecidos de todos;
COCA - é comprador de gado;
MANOEL MARTELO - é engraxate, ajudante de caminhão e recadista;
CHICO DE BORRÊGA - é filho de BORRÊGA é motorista;
CALANGO - trabalha em usina de beneficiar algodão;
SEBASTIÃO DE ARÍA - é alfaiate;
Existem também, Pedro BATE ASA, BATORÉ, LUA CHEIA, TARZAN E SÃO JORGE - que são bastante conhecidos.
DERRÉZ - é baterista do conjunto orquestral "Flor de Liz".
CHICO CHEIROSO - vende peixe, portanto não pode ser tão cheiroso;
BIDON - trabalha no Sítio "Camelo";
ANTÔNIO XARITA - é barbeiro;
JOÃO CACHOEIRA - é caiador;
CABO VEIO - faz o melhor cuscuz da cidade;
ZÉ BRANCO - é guarda noturno;
PEDRO REMÉDIO - é um ótimo rapaz, auxiliar da Farmácia dos Pobres;
A MORTE, TUCHINHA GOGÓ, PÉ DE QUENGA e TUCHICA - exercem várias profissões;
BEIJA é criador;
CARMELITO - é motorista;
LIGEIRO - tem bastante calma no andar;
CARA ÔI - engraxate;
BIRINGA - reside no Rio de Janeiro;
BIÃO - foi o homem que mais gostava de cadeira. Morreu enforcado;
TURICA - estuda medicina;
CACHICA - é mendiga;
QUÉCO - é motorista;
XIXI TAVARES - é respeitável solteirona;
ZÉ PRETINHO - excelente goleiro.
Concluindo
esta série de alcunhas que conseguimos anotar, estamos certos de que
anotamos apenas os apelidos mais populares da cidade. Deve haver falhas,
por omissão, neste nosso trabalho, realizado à guisa de contribuição
para um estudo mais amplo, que deve, por direito, ficar a cargo de um
folclorista que aprofunde mais este assunto.
Fonte: "ADVERTÊNCIA" - 1954/55 - republicado no livro Salvados do Assu - Celso da Silveira - Boágua Editora - Natal, 1996. Foto de Celso da Silveira coletada no blog de Fernando Caldas.
Deixamos bem patente nestas NOTAS, a extensa lista de apelidos de gente do Assu. Está na vez das alcunhas dos tipos mais populares do tempo do autor destas linhas para cá:
CAMARÃO - conhecidíssimo chofer e mecânico, muito louro e vermelho como a cor daquele crustáceo torrado.
PIRRÃO - era carteiro do Correio;
ZÉ PINDURA - grande craque do futebol provinciano, encontrado morto entre mata-pastos, o corpo coberto de formigas;
BADANECO - tocador de cavaquinho em forrobodós;
SIÉTA - o desordeiro mais jovem da cidade, embarcou num pau-de-arara para Minas;
SEU BEM - motorista que foi tratador de gado;
ZÉ DE CUCA - verdureiro no Mercado;
PISA CHÁU - (corrutela de pisa-sal), ex-secretário da Prefeitura de Ipanguaçu;
MELÉ - (existem dois); um é ferreiro e o outro fazendeiro;
BRABUFO - uma preta velha que bebia muita cachaça, a quem o autor destas notas xingava quando menino, para ouvi-la dizendo palavrões;
MEUS QUINZE ANOS - Efigênia, que já está perto dos cem anos;
MURICA - negra velha que foi cozinheira afamadíssima;
CHEIRO DE CHUVA - lascou a cabeça do autor destas linhas, certa vez;
JOÃO PEQUENO - tropeiro que contratava areia e barro para construções;
PEDRINHO DE JOÃO DUDU - ex-goleiro famoso do Centro Esportivo Assuense;
PITEIRA - jornalista que molha o pescoço com a "branquinha";
CABUCÉ - famoso ex-administrador do Mercado Público, que motivou a glosa de Sesyom, cujo mote é o seguinte: "Cabucé cortando bode, / com uma bengala na mão";
CHUPETA - motorista de quem se contam histórias engraçadíssimas, porém impublicáveis;
CHICO DOS TANQUES - é bastante conhecido em toda a cidade;
BUGUINHA - proprietária, longo tempo, de um café muito bem frequentado. Seu esposo, o conhecidíssimo João Miguel, todas as semanas ia à Lagoa do Piató pescar, fazendo com que a mulher desconfiasse de algum namoro do marido, Isso deu lugar a uma glosa memorável de Sesyom, com mo mote seguinte: "João Miguel no Piató, / deixa Joana em confusão";
TUFEGA - auxiliar de carpinteiro;
CARREIRÃO - carregador desde que me entendo de gente ;
MANUEL DE TETÊ - tocador de fole;
CACÁ - oficial de justiça, aposentado;
LOLI - funcionário público estadual;
CAGIBA - carregador;
CAPITÚ - proprietário de uma cacimba no córrego, que deu água muito boa, abastecendo a população da cidade;
ZÉ TIPOINHA - antigo proprietário de um café, casado com Maria MAGRA, terminou louco;
BOBAGEM - mendiga conhecidíssima que, dizem, possuía terras de carnaubal;
CÍCERO LÃZUDO - tocava fole ou concertina, e ficou célebre a sua composição musical intitulada "O Chamego da Menina", que tinha uma letra mais ou menos assim "O chamego da menina/ oh! gente/ oh! gente/ dá de banda e dá de quina/ oh! gente/ oh! gente... / Eu vou embora, etc, etc";
GINA PAU - motorista bastante popular, como de resto, todos os outros aqui mencionados.
Continuaremos.
Trecho de artigos publicados na ADVERTÊNCIA - anos 1954 / 1955. republicados no livro Salvados do Assu - de Celso da Silveira.
E o Exemplo De Uma Cidade Potiguar na Preservação de Um Dia Intenso
Autor – Rostand Medeiros
1927 foi um ano bem intenso na história do Rio Grande do Norte. Enquanto os sobrevoos de aeronaves vindas da Itália, Portugal, Estados Unidos e França faziam com que a capital potiguar marcasse presença em jornais de circulação mundial com, o nosso sertão era “visitado” pelo maior bandoleiro da história do Brasil, o cangaceiro pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião.
Seu ataque às terras potiguares, junto com um numeroso e feroz bando de cangaceiros, aconteceu em junho daquele ano e tinha como principal objetivo a progressista cidade de Mossoró. Mas ao longo do trajeto algumas comunidades e muitas propriedades foram invadidas, ultrajadas, roubadas e saqueadas. Em um imemoriável frenesi de medo, terror, gritos, sangue e mortes.
O ataque de Lampião ao Rio Grande do Norte jamais foi esquecido nestas comunidades e em alguns destes locais existe uma luta muito interessante e louvável para preservar a memória daqueles dias estranhos e intensos.
Um destes locais é a cidade de Antônio Martins.
A Chegada dos Celerados
Em 2010 eu percorri pela primeira vez o caminho de Lampião no Rio Grande do Norte, passando pelos territórios de dezenove municípios potiguares, como parte de uma pesquisa para o SEBRAE-RN[1].
Quando estive em Antônio Martins eu conheci e recebi o apoio do escritor Chagas Cristóvão, que na época exercia o cargo de Secretário Municipal de Turismo e Cultura daquela cidade.
Competente pesquisador da história da sua comunidade, Cristóvão comentou que na época da invasão dos cangaceiros a atual cidade de Antônio Martins tinha a denominação de Boa Esperança. Era então uma pequena concentração de casas, onde viviam cerca de 350 a 400 habitantes, sendo parte do território da cidade serrana de Martins[2].
Em 11 de junho de 1927, dia da chegada do bando de cangaceiros a localidade, coincidiu com as celebrações da festa do padroeiro local, Santo Antônio.
De certa maneira esta situação de comemoração, novenas e alegria do povo do lugarejo foi muito útil para o grupo de celerados, pois pegou a todos na comunidade bastante desprevenidos, sendo a pequena urbe rapidamente ocupada. Aquela localidade era o primeiro núcleo urbano invadido pelo bando de cangaceiros de Lampião no Rio Grande do Norte.
Naquele mesmo 11 de junho, o povo de Boa Esperança aguardava a chegada de uma banda de música da cidade paraibana de Catolé do Rocha. Mas por atraso da saída destes músicos da cidade fronteiriça, não ouve o encontro da banda musical com os cangaceiros. Para Cristóvão esta também é outra das razões para a população da cidade ter sido pega totalmente de surpresa quando da entrada do bando. Vale ressaltar que durante a entrada dos bandidos na vila, um deles fazia a função de corneteiro, tocando um destes instrumentos que havia sido capturado dos policiais batidos no combate da Caiçara[3].
Neste período o fundador do lugar e líder político era Justino Ferreira de Souza. Ele foi avisado da chegada do grupo, mas diante do fato consumado decidiu esperar e ver o que acontecia.
Logo o bando adentra a rua principal. Ao perceberem quem eram os cavaleiros o pânico se instalou. Pessoas correram para todo lado. Os cangaceiros atiravam para o alto, gritavam, urravam, batiam e galopavam invadindo e saqueando as casas do lugarejo.
Lampião estava particularmente raivoso. Entre as sandices cometidas em Boa Esperança temos o suplício de Vicente Teixeira de Lira.
O caso começou quando Lira deu uma resposta que o chefe cangaceiro pernambucano considerou insolente e foi “convocado” por Lampião. O humilde potiguar foi então obrigado a seguir à frente do bando, segurando na correia da alimária de Lampião. Em dado momento Lira escorregou no chão de terra e o cavalo do chefe dos bandidos quase lhe colocou no chão. Foi o que bastou para o pobre aldeão levar uma extensa cutilada de punhal. Para piorar sua situação, em frente à igreja de Santo Antônio, outros bandoleiros fizeram pouco caso de sua má sorte e o obrigaram a beber cachaça. Ele quase morreu.
Entre os locais de comércio que foram atacados estava a mercearia e a casa de Francisco Justino, onde os homens armados se abasteceram de vários gêneros e beberam muita cachaça. Com muita conversa, jeito, extremo tato, este pequeno negociante conseguiu que Lampião demovesse os seus seguidores de continuarem na sinistra depredação.
Alguns reféns anteriormente capturados pelos cangaceiros na passagem por propriedades que ficavam localizadas antes desta comunidade conseguiram fugir em meio a toda confusão reinante.
Na vila não faltaram ameaças, espancamentos e roubos de produtos em casas comerciais.
Uma Novaes no Rio Grande
Outro caso que ficou famoso foi no momento em que Sabino, o braço direito de Lampião na empreitada por terras potiguares, saqueava a loja e a residência de Augusto Nunes de Aquino. Sabino se preparava para levar a mulher do comerciante, Dona Rosina Novaes, como refém.
No momento de ser colocada em um cavalo e seguir com a turba encourada, Dona Rosina desabafou com o perigoso Sabino, comentando detalhes de sua procedência e a origem do seu nome de família. Sabino, ao escutar o relato da mulher, chamou o chefe na mesma hora.
Lampião descobriu, naquele longínquo lugarejo potiguar, estar diante de uma parenta de Elias e Emiliano Novaes, da cidade de Floresta, na época conhecida como Floresta do Navio, na mesma região do Pajeú. Emiliano Novaes era comerciante, membro de uma proeminente família, tido como amigo e coiteiro de Lampião. Consta que chegou a cavalgar de arma na mão ao lado de cangaceiros[4].
Para muitos habitantes da região, a situação na vila de Boa Esperança durante a invasão do bando só não foi mais grave devido a Dona Rosina Novaes. Pelo fato dela possuir laços familiares com pessoas que Lampião respeitava e temia em Pernambuco, fez com que o ímpeto destrutivo do chefe em relação ao lugar fosse claramente abrandado.
Lampião era muito valente, mas era antes de tudo inteligente. Evidentemente ele percebeu que quando retornasse para Pernambuco trazendo consigo a responsabilidade por algo negativo ocorrido a Dona Rosina Novaes, a temida e glorificada capacidade vingativa da família Novaes se faria sentir contra ele e seu bando. O melhor era deixar aquela mulher em paz.
Diante da nova situação o chefe refreou os ímpetos violentos tanto dele, quanto do seu bando. Lampião chega ao ponto de se desculpar com Dona Rosina pelo ocorrido. Alegava desconhecer ser o lugar habitado por uma legítima representante do temido clã dos Novaes[5].
Desfeito o “mal entendido”, para Lampião o clima ficou mais tranquilo e ele chega a solicitar que Dona Rosina prepare algo para eles jantarem. Mais adiante, tranquilamente sentado na mesa, mais para se justificar diante dos seus atos e do seu bando, o cangaceiro comenta “o porquê de estar nesta vida” – Comenta aos presentes estar naquela vida bandida como fruto das perseguições que sofria, destilou seu ódio contra a polícia e outras razões.
Diante da esperada respeitabilidade que Lampião passou a demonstrar por Dona Rosina e seu marido Augusto Nunes de Aquino, este último assume o papel de protetor dos habitantes de Boa Esperança.
Por volta das sete e meia da noite, o chefe prepara seu bando e seguem viagem.
Cangaceiros Rezando na Igreja de Santo Antônio
Da época do ataque de Lampião a Boa Esperança, poucos são os locais que se encontram preservados atualmente.
Um destes pontos invadidos pelos membros do bando de Lampião é uma interessante residência localizada na Rua Aureliano Saraiva, número 109. Construída em 1898, esta casa pertenceu a Justino Ferreira de Souza e na época servia como uma pousada para os viajantes que trafegavam na região. A casa se mantém original, sendo continuamente habitada e considerada a residência mais antiga e precursora da povoação de Boa Esperança.
Ainda sobre este local, segundo Chagas Cristóvão, um ano e sete meses depois da passagem do bando pelo lugar, no dia 19 de fevereiro de 1929, ali chegava um carro transportando quatro homens que visitavam a região sertaneja. Entre estes estavam o folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo e o poeta e escritor paulista Mário de Andrade.
A passagem de um dos criadores do movimento modernista no Brasil pela Região Oeste Potiguar tinha como objetivo a observação dos costumes, das manifestações culturais e as características do povo do sertão nordestino. Mesmo passado quase dois anos do ataque de Lampião, chamou atenção do escritor paulista as marcas do medo da população de Boa Esperança diante da terrível “visita” de Lampião[6].
Vizinho a esta antiga habitação se encontrava a igreja de Santo Antônio. Construída 1901, este pequeno templo religioso era no dia 11 de junho de 1927 o principal local de realização dos festejos relativo ao padroeiro local.
Até hoje nesta festa religiosa é tradicional a realização das chamadas “trezenas”, onde durante treze dias anteriores ao dia 13 de junho, a data consagrada a Santo Antônio, são realizadas missas, cantos de benditos, encontros e outras participações da comunidade neste templo católico.
Segundo Chagas Cristóvão havia algumas pessoas da comunidade reunidas no local quando os cangaceiros chegaram a Boa Esperança. Logo alguns cangaceiros ficaram diante do templo e, visivelmente embriagados, proibiram a saída dos fiéis do local. De dentro da igrejinha essas pessoas assistiram horrorizados os suplícios do jovem Vicente Lira, que apunhalado e sangrando abundantemente, era obrigado a engolir talagadas de cachaça.
Cristóvão comentou ainda que existe uma versão onde diante da igreja aberta, outros cangaceiros adentraram respeitosamente o local, se ajoelharam, rezaram, se benzeram e depois saíram sem perturbar os atônitos presentes[7].
Na saída da zona urbana do atual município de Antônio Martins, temos a velha casa do sítio Alto da Ema, que então pertencia a um senhor conhecido como “Coqueiro” e hoje dá nome a um dos bairros da cidade. Neste ponto os comandados de Lampião procuraram adentrar residência assobradada, que se encontrava desocupado devido à fuga dos seus moradores. Eles utilizaram as coronhas dos seus fuzis na tentativa de derrubar a porta. Entretanto, fosse pela pressa em seguir adiante, ou pelo excesso de álcool, ou outra razão desconhecida, os cangaceiros não alcançaram seu intento e seguiram adiante no seu caminho de saque e terror.
A Memória da Passagem de Lampião
Em 2007, durante a passagem dos oitenta anos do ataque de Lampião ao Rio Grande do Norte, a prefeitura local decidiu promover toda uma programação destinada a marcar este momento dentro da comunidade. Em uma bela praça de eventos localizada no centro da cidade foi fixada uma placa de bronze com a relação dos trinta e um habitantes da antiga vila de Boa Esperança que sofreram violências ao longo da passagem do bando.
Aos descendentes dos que foram atacados pelos cangaceiros, a Prefeitura Municipal de Antônio Martins outorgou uma insígnia honorífica, personalizada, no formato de uma pequena placa de acrílico, , alusiva aos fatos ocorridos. Esta condecoração foi entregue a alguns dos descendentes em praça pública, no dia 11 de junho de 2007.
Igualmente nesta mesma data, passava pela cidade de Antônio Martins a cavalgada comemorativa aos 80 anos do ataque a Mossoró, onde foi repetido o mesmo ato simbólico ocorrido na zona rural de Marcelino Vieira, com o descerramento de outra placa comemorativa em relação à resistência ocorrida em Mossoró, quando da passagem do bando pelo Rio Grande do Norte.
Segundo Chagas Cristóvão a prefeitura de Antônio Martins desenvolveu um projeto visando a criação de um museu destinado a apresentar os principais aspectos da história municipal, onde seria inserido a história do ataque do bando de lampião aquela comunidade.
O museu estaria direcionado para um público local e regional, tendo como outros pontos focais a valorização das raízes locais e o desenvolvimento do turismo regional. Pessoalmente não tive mais informações se este museu foi inaugurado.
Mas louvo todas as iniciativas ali realizadas em relação a memória destes acontecimentos.
[2]O número da população de Boa Esperança na década de 1920 aqui apresentado é uma dedução feita a partir do texto existente sobre a história desta cidade existente no sitehttp://www.wikipédia.org(https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Martins), onde lemos que em 1920 havia “81 casas, com 327 moradores já estavam permanentes em Antônio Martins”. Esse número mostra que houve um aumento exponencial na população local, pois vinte e dois anos antes do ataque de Lampião a Boa Esperança, temos a informação que moravam neste lugar cerca de sessenta “fogos”, ou pessoas. Informação contida na mensagem do governador potiguar Augusto Tavares de Lyra, lida na Assembleia Legislativa em 1905 e publicada no ano seguinte, em um interessante detalhamento sobre o município de Martins, Ver “Mensagens lidas perante o Congresso Legislativo do Estado do Rio Grande do Norte”. Tipografia A República. Pág. 116, Natal-RN, 1906. Atualmente, utilizando as modernas rodovias BR-226 e RN-117, a distância entre Antônio Martins e Martins é de uns 35 quilômetros.
[5]Não é muito difícil na região do Oeste Potiguar encontrar inúmeras referências de famílias cujos antepassados eram provenientes do sertão do Pajeú, ou de outras áreas do sertão Pernambuco. Acreditamos que esse processo tem haver com o trânsito de pessoas e mercadorias, que seguiam principalmente em direção a Mossoró, em comboios de cargas transportados por mulas e jegues.
[6]O resultado desta empreitada sertaneja subsidiaria Mário de Andrade a escrever a obra “O turista aprendiz”.
[7]Durante todo nosso percurso pesquisando a passagem do bando de Lampião no Rio Grande do Norte em 2010 e em três outras viagens por este caminho em 2012, 2014 e 2015, esta foi a única informação que consegui sobre a presença de que alguns cangaceiros do bando teriam adentrado um templo católico com o intuito de rezar .
Dos oito deputados federais do RN, apenas Zenaide Maia (RN) votou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff na câmara.
Os demais: Rogério Marinho, Fabio Faria, Felipe Maia, Walter Alves, Antônio Jácome, Rafael Motta e Betinho Rosado votaram pelo apeamento da presidente. Fonte: http://www.opotiguar.com.br/